Fernanda Nobre brilha no teatro e, a partir de casamento não-monogâmico, faz tese de mestrado sobre feminismo

*Por Brunna Condini

Ao refletir sobre suas escolhas, questionando padrões e buscando extrair a essência das coisas, Fernanda Nobre tem vivido com mais plenitude, como mulher e artista. E esse movimento se estende ao âmbito profissional, já que a atriz está envolvida em projetos que, de alguma forma, nos provocam a pensar acerca das nossas existências. Em ‘Três mulheres altas‘, que estreia nesta sexta-feira (dia 4) com ela, Suely Franco e Deborah Evelyn, no teatro do Copacabana Palace, a grande protagonista do espetáculo é a passagem do tempo e como lidamos com o envelhecimento. Aos 40 anos, Fernanda, que começou na TV aos 8 anos, pondera sobre o seu amadurecimento: “Os ganhos são enormes, passamos a ter mais coragem, mais personalidade, a nos amar mais e nos perdoar também. Mas é importante levantar a questão do quanto é desafiador para uma mulher envelhecer na nossa sociedade”.

Vivemos a opressão da juventude, só temos valor se nos mantermos jovens ‘eternamente’. Na nossa sociedade o tempo é um fantasma que nos assombra e não um aliado. Mulheres são descartadas e invisibilizadas com o passar dos anos – Fernanda Nobre

Fernanda Nobre reflete sobre amadurecimento, escolhas na vida, na profissão e incorpora visão feminista em todos os projetos que se envolve (Foto: Pino Gomes)

Casada com José Roberto Jardim há 10 anos, desde que assumiu com total liberdade a opção de um casamento não-monogâmico com o diretor, viu a mídia explorar o fato à exaustão. Por que acha que as pessoas ainda se surpreendem, e dão tanto destaque a modelos de relacionamento que fogem do padrão? “Estou fazendo um mestrado sobre isso, é sobre o quanto o nosso comportamento feminino foi construído dentro de um sistema de controle e nós reproduzimos sem termos consciência. Isso se manifesta na forma que enxergamos nós mesmas, na nossa aparência, envelhecimento, maternidade, mercado de trabalho e também na forma que nos relacionamos”, elabora.

Sentiu-se incomodada pelo assunto ganhar tanto destaque? “Ganhou destaque por que falar sobre isso é um ato político. Ao falar sobre minhas escolhas, quero que mulheres reflitam se têm os mesmos privilégios que os homens”. Sobre o relacionamento, ela acrescenta ainda: “Não existe um modelo, estamos construindo o nosso”.

Deborah Evelyn , Fernanda Nobre e Suely Franco em ‘Três mulheres altas’ (Foto: Pino Gomes)

A atriz estreou na televisão em ‘Despedida de solteiro‘, em 1992, e na sequência, cresceu diante dos olhos do público, ficando 12 anos contratada da TV Globo, onde também protagonizou o sucesso ‘Malhação‘, de 2000 a 2003. Revisitando esse caminho, ela percebe, que inclusive, não teve uma adolescência convencional, já que cobravam dela até longe da TV, uma certa “perfeição’, e pontua: “Eu era aquela que achava que sabia tudo, mas só me mostrava assim em família, fora de casa era muito tímida, nada combativa e opinativa. Se eu pudesse voltar no tempo, falaria para minha versão do passado: expresse mais suas opiniões! Erre sem medo! Seja você mesma”.

Uma das minhas maiores qualidades que a maturidade me trouxe é que eu não me levo nada a sério – Fernanda Nobre

“Os ganhos da maturidade são enormes, passamos a ter mais coragem, mais personalidade, a nos amar mais e nos perdoar também” (Foto: Reprodução/Instagram)

Fernanda hoje se sente livre para escolher, experimentar, o que deseja, e também o que não quer mais em uma relação. “A violência jamais pode ser permitida no amor. Que pode vir como física, mas antes disso sempre é psicológica. O silenciamento, por exemplo, é algo que nós mulheres fomos domesticadas a aderir na nossa sociedade. Deixarmos de ser quem somos para agradar ao outro. Isso é violência”.

“Tudo, absolutamente tudo que tu fizer como atriz, está contaminado pelo feminismo” (Foto: Reprodução/Instagram)

Propósito de vida

Com o objetivo de ampliar sua pesquisa em temas femininos, e a liberdade sexual da mulher, a atriz celebra a qualificação do seu mestrado, se preparando para a defesa do mesmo em 2025. “Minha pesquisa é sobre o feminismo, que é o meu propósito de vida, tentar sair das amarras que fui colocada e dialogar com outras mulheres para isso. O meu trabalho artístico está intrinsicamente ligado a isso, não há separação, está na minha leitura de uma personagem, na minha leitura de mundo”. E anuncia: “Esse ano e o próximo é para a escrita da minha pesquisa de mestrado, assim como um clube do livro que vou lançar em 2025”.

Tudo, absolutamente tudo que tu fizer como atriz, está contaminado pelo feminismo – Fernanda Nobre

Fernanda Nobre qualifica seu mestrado com foco no feminismo (Foto: Reprodução/Instagram)