Em 2015, Silvia Machete completa 20 anos de carreira e, simultaneamente, encara um dos períodos mais movimentados de sua trajetória. Nos últimos meses, a artista que mistura música, teatro e circo em suas performances hipnotizantes, já apresentou o espetáculo “Eduardo Dussek veste Machete” e, logo na sequência, emendou a produção de “Mondo Machete”, que entra hoje em cartaz no Teatro dos Quatro, na Gávea. Em entrevista exclusiva ao HT, ela conta como surgiu a ideia para a celebração teatral, os desafios de seu primeiro musical e como é manter a atitude irreverente em uma época na qual prevalece o politicamente correto.
“Estou acostumada a trabalhar muito. Nesses últimos dois meses tive dedicação total, com cabeça a mil, falas para decorar e muitas ideias”, explica Silvia sobre “Mondo Machete”. No musical, o primeiro do gênero em suas duas décadas de carreira, ela interpreta uma cantora baseada em si mesma, mas que apesar das semelhanças, não deixa de ser uma personagem, o que, de acordo com a própria, lhe dá a liberdade de falar e agir como quiser.
Não que Sílvia Machete se limite no palco. Nesse espetáculo, por exemplo, ela surge com uma pomba na cabeça e até apresenta versões sacanas de clássicos do repertório mundial, onde brinca com versos de músicas como “My favourite things”, de “A noviça rebelde”, além de um setlist que traz composições autorais, hits de Amy Winehouse e Elvis Presley, dentre outras surpresas. Sob a direção de Cesar Augusto e apoiada pelo roteiro de Filipe Miguez (o mesmo de “Cheias de Charme”), o musical fica em cartaz até o dia 1º de novembro e a temporada tem tudo para ser um sucesso e agradar aos mais diferentes tipos de público. Abaixo, você confere a entrevista exclusiva com Sílvia Machete sobre mais esse passo em um caminho que só aponta para o alto:
HT: Sílvia, como surgiu a ideia de comemorar seus 20 anos de carreira com esse espetáculo?
SM: Da possibilidade de fazer um show que tivesse uma narrativa com um texto de um escritor/colaborador que entendesse o meu estilo de trabalho. Pela sugestão do diretor, veio o [Filipe] Miguez, um dramaturgo muito bacana e divertido que topou elaborar essa cantora fictícia para a gente e entende muito bem tanto de roteiro como de mulheres. Ele apresentou um texto maravilhoso, divertidíssimo, com muita poesia, em um show onde eu vou exercer tudo o que sei fazer, desde atuar a cantar até fazer o público participar do show. Há um visual fortíssimo, graças ao figurino do Marcelo Olinto e a cenografia da Beli Araújo, o design de som do Fabiano França e a direção musical Fabiano Krieger. É um show divertido, para todos, e não é algo de nicho. Se você quer se divertir, vai gostar.
HT: Como foi a experiência de se jogar no teatro formal? Teve alguma dificuldade? Era o que você esperava?
SM: Muito trabalho, mas isso é normal. Estou acostumada a trabalhar muito. Nesses últimos dois meses foi dedicação total, cabeça a mil, falas para decorar e muitas ideias. O que mais me atrai é exercer a minha criatividade e a minha imaginação. Tivemos que conversar muito para ele saber o que pode sair ou não da minha boca. Mas eu não trocaria por nada esse trabalho, o stress e a ansiedade. Isso é algo que vem junto e faz parte desse mundo, ou de qualquer outro ao qual você se dedique.
HT: Quais as semelhanças e diferenças para os outros espetáculos que você já apresentou?
SM: Eu estou sendo dirigida muito firmemente pelo César Augusto. É uma beleza ter essa visão de fora nesse quebra-cabeça gigantesco. Basicamente, é mais trabalho.
HT: No musical, você interpreta uma versão de você mesma. Conte um pouco sobre essa Sílvia fictícia e o que vocês têm em comum.
SM: Ela é muito moleca e engraçada, uma marca muito forte que também vem da minha essência, da minha personalidade. Ela é ingênua de alguma forma, acredita no que falam, e é também alegre. Gosta de se divertir e ama os homens. Ela gosta do belo, de homens bonitos, de tudo o que é bom.
HT: Você sempre foi muito crítica e irreverente nos seus shows. Como lida com a onda atual do politicamente correto, da opinião neutra e dos artistas superpotegidos?
SM: Acho que lido bem com isso. A minha vantagem é que, sendo essa personagem, posso falar o que quiser. Essa é a verdade. Ela não tem limites! Se eu estou com a minha pomba na cabeça, me permito, e o público também me deixa falar o que quiser. Claro, ainda há muito que precisa mudar no nosso comportamento sexual, principalmente na forma como encaramos a homossexualidade que, hoje, pô, já está mais livre. Na época que eu vim para o Brasil com o número do bambolê, todo mundo achava que eu fumava maconha no palco, e eu precisava explicar que era tabaco. Hoje, eu já posso falar que é maconha se eu quiser. Ela está praticamente liberada! Vejo que muito piorou, mas muito melhorou. A abertura de as pessoas optarem por uma sexualidade é um avanço. As novas gerações poderão optar pelo que quiserem, e será algo normal. Estamos evoluindo, mas também há algo que não dá muito certo. A Silvia tem essa capacidade de falar absurdos e não ser crucificada como uma pessoa normal. Com uma pomba na cabeça, você pode falar o que quiser.
HT: Nesses 20 anos de carreira, por sinal, o que mudou e o que permaneceu na Sílvia mulher e na Silvia artista?
SM: Tudo muda toda hora, toda semana. O que não mudou é a perseverança e os momentos de entusiasmo na vida do artista, que são importantes. É o principal para ter esse impulso da criação, da expansão, de alcançar meu potencial máximo. É muito bacana e é o mesmo sentimento que eu tinha quando comecei na rua.
HT: Às vezes parece que falta um pouco dessa perseverança nos artistas, não é? Muitos deles atingem um certo patamar e parecem cair em ostracismo criativo porque já estão consolidados financeiramente, ou só fazem aquilo que lhes gere lucro…
SM: Não tenho nem como me preocupar com isso. Graças a deus, tenho produtores maravilhosos e a grande oportunidade de patrocínio. Mas vamos criar, expandir o público e fazer um belo trabalho. Se divertir, rir muito, dividir essa visão. É uma grande chance para estar em um teatro tradicional, que já teve grandes peças atuadas aqui. Ver um pôster gigante de mim mesma é muito especial. Sou muito agradecida.
HT: O ano de 2015 parece ter sido um supermovimentado para você, que praticamente emendou dois espetáculos. Já está preparando o próximo ou pretende tirar aquela folga merecida?
SM: Eu emendei esse ano mesmo, trabalhei muito. Foi uma roda que não parou de girar, mas eu estava muito afim de trabalhar. Não sei o que vai acontecer depois, mas espero que esse musical fique em cartaz e vá para outro lugar. Talvez eu tire um tempinho de descanso, mas quando você faz uma pausa, precisa voltar a estudar. Sempre.
Serviço:
MONDO MACHETE
Gênero – comédia musical
Estreia 3 de outubro
CURTA TEMPORADA de quinta a domingo até 1 de novembro
Quinta a sábado as 21h30, domingo as 20h00
Ingressos inteiros: Quintas R$60, Sextas R$70, Sábados e Domingos R$80
Teatro dos 4, Shopping da Gávea
Rua Marquês de São Vicente 52, Gávea
Tel. (21)2239.1095 / (21)2274.9895
Vendas online: www.ingresso.com
Classificação indicativa 12 anos.
Aproximadamente 90 minutos.
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