Prestes e estrear em “Meu amigo Charlie Brown”, uma superprodução para todas as idades, Mateus Ribeiro define o sentimento: “Espero que as pessoas se deem a oportunidade de serem tocadas por esse musical da mesma forma que eu fui quando assisti há seis anos e que possamos passar a mensagem da peça pra muita gente. É um espetáculo lindo e muito sensível”, opinou, sobre a história baseada nos célebres quadrinhos do desenhista Charles M. Schulz em 1950 e publicadas até hoje em jornais ao redor do mundo. A trama, que tem como mote principal a celebração da amizade, traz personagens humanos repletos de dilemas atuais e, com humor, mostra que a felicidade genuína está presente nas pequenas coisas. Mateus, viverá Linus Van Pelt e atuará ao lado de Tiago Abravanel, que será Snoopy, Leandro Luna, o Charlie Brown e outro nomes como Mariana Elisabetsky, Paula Capovilla e Guilherme Magon.
Uma responsabilidade e tanto dividir o palco com atores desse naipe, mas Mateus encara parcerias desse tipo desde muito novo, já que, aos 17 anos, estreou no mercado de teatro musical brasileiro ao lado de ninguém menos do que Claudia Raia na peça “Cabaret”. Depois disso, já esteve no palco em produções como “O mágico de Oz” a convite da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, “Crazy for you”, de José Possi Netto, “Chacrinha – O Musical”, de Andrucha Waddington e, recentemente, brilhou na temporada paulistana da montagem de Miguel Falabella de “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, que, aliás, encerra sua segunda temporada no próximo dia 14 e, depois, segue para o Rio de Janeiro. HT foi atrás de Mateus que, aos 22 anos, tem um currículo de colocar inveja em muito veterano, e ele contou tudo sobre sua carreira no teatro, a paixão por música, balé e revelou: tem vontade de trabalhar na televisão. Vem saber tudo!
HT: Mateus, como começou seu interesse pela interpretação?
Mateus Ribeiro: Desde cedo sempre fui muito interessado por arte em geral e entretenimento. Quando novinho, amava desenhar e era fissurado em mágica. Assistir espetáculos teatrais ou ir ao circo era algo essencial pra mim e a interpretação, na verdade, foi surgindo aos poucos, grande parte por influência dos meus pais – que sempre me levaram pra fazer programas culturais – quanto por parte da minha escola em Fortaleza-CE que sempre deu grande incentivo a arte.
É engraçado porque eu não lembro exatamente do dia que eu me apaixonei pela arte, a impressão que tenho é que já nasci conhecendo e amando. Fui começar a estudar de fato interpretação aos 10 anos de idade, quando, fazendo aulas na escola, o meu professor me chamou para fazer um teste pra uma peça adulta do seu grupo de teatro chamada ”Contos da Montanha”, pois precisavam de um menino do meu perfil. Fiz o teste, passei e desde então fiquei estudando e me apresentando com o grupo. Isso durou quatro anos até que me mudei pra Brasília em 2008.
HT: E o canto e o balé? Surgiram antes ou como complemento?
MR: O canto e a dança na verdade surgiram depois, como um complemento. Durante meus dois últimos anos morando em Fortaleza, fiz grandes amizades com pessoas que dançavam e que tinham começado a fazer aulas de teatro comigo, então, por conta deles, foi surgindo o interesse. O grupo de teatro que eu participava também tinha um estudo bem legal sobre o corpo, mas era direcionado ao ator mesmo, não para a dança. Me apaixonei a princípio pelo sapateado, e eu tinha resolvido que iria começar a fazer, até que recebi a notícia que iríamos nos mudar para Brasília. Nasci em Florianópolis, mas já morei em vários cantos (risos). Cheguei em Brasília com essa vontade e achei uma aula experimental em uma academia de dança. Nisso, o professor viu minha facilidade e perguntou se eu já dançava. Ao invés de falar somente ‘‘não’,’ eu acabei contando minha história inteira de vida (risos) e nisso ele ficou sabendo que eu era ator e, assim, me indicou um teste que aconteceria em dois dias para a Escola de Teatro Musical de Brasília (ETMB). Assim que ele falou eu não me interessei muito, por falta de conhecimento mesmo. Já a música por outro lado sempre esteve muito presente na minha vida por que meu pai e meus irmãos tocam instrumento e meus pais sempre nos deram várias referências musicais. Ouvi crescendo desde Caetano Veloso, Chico Buarque até Abba, Queen e Scorpions, mas nunca havia pensado em cantar de fato profissionalmente. No fim das contas acabei sendo convencido pela minha mãe a fazer o teste e passei para integrar a turma da escola. Fui conhecendo o quão vasto é o mundo dos musicais, fui vendo o quanto eu não conhecia nada sobre o assunto e acabou virando uma paixão.
HT: Você estreou em uma peça de teatro protagonizada pela Claudia Raia. Como foi isso? Foi por teste? Teve medo?
MR: Sim, meu primeiro trabalho profissional no eixo RJ-SP foi em “Cabaret”, protagonizado pela Claudia Raia. Considero que esse momento da minha vida foi um comprovante como realmente tudo acontece da forma que tem que ser. Tinha tudo para dar errado e deu certo. Eu já havia feitos alguns testes antes desse e sempre estudava muito, mas nunca havia passado. Nesse foi tudo corrido, não tive tempo para nada e acabei passando. Eu havia deixado para fazer a inscrição depois, pois estava sem foto de boa qualidade pra enviar, acabei esquecendo e quando já estava próximo de acabar o último dia de inscrição, por sorte, minha mãe que era super antenada nisso, se lembrou e me inscreveu.
Eu tinha 17 anos na época e não tinha o costume de checar meus e-mails, até que, numa sexta de madrugada, eu abri e vi que havia sido chamado pra audição. Na hora que vi compramos a passagem para São Paulo. Cheguei lá no domingo, não tive tempo de estudar nada para o teste, e fui fazer a audição na segunda. Assim que cheguei vi vários homens mais velhos que eu, todos mais altos e mais fortes e pensei que haviam errado meu perfil e que na verdade não era para eu estar lá. Pensei isso pois já havia acontecido de errarem meu perfil em outra audição passada. Fiquei um pouco desanimado porque havia vindo de outra cidade só pra isso, mas não deixei de fazer, por que afinal de contas eu já estava lá e a Claudia, além de toda a produção, iriam me ver e isso já era uma oportunidade incrível.
Fui fazendo o teste dando o meu melhor e fui passando. Foi uma bateria de testes de segunda a quinta-feira, dia que recebi o resultado. Na sexta-feira já tivemos uma reunião com todo o elenco e sábado voltei pra Brasília, já sabendo que em um mês estaria morando em São Paulo e ensaiando o espetáculo. Minha vida mudou em uma semana!
HT: E o convite para “O Mágico de Oz”? Veio do Charles e do Cláudio? Como foi?
MR: Sim, o convite foi porque um dos integrantes do elenco teria que se ausentar em cima da hora e precisariam de alguém pra substituí-lo. Isso foi em 2013, quando eu já tinha 19 anos, mas o Claudio e o Charles já conheciam meu trabalho há alguns bons anos. Minha primeira audição para uma grande produção no eixo RJ-SP foi pra temporada paulista da ‘’Noviça Rebelde’’ quando eu tinha 14 anos. Em seguida fiz testes pra eles em ‘‘Gypsy’’ e depois em ‘‘Violinista no Telhado’. Então, era uma paquera que já existia há um tempo. Quando aconteceu esse imprevisto e tiveram que contratar um substituto, eles pensaram em mim, mas, mesmo assim, pediram indicação para a Cecilia Simões, que era a diretora residente da peça. Ela acabou me indicando pois tinha trabalhado comigo no Cabaret e assim eles confirmaram a escolha. Eu estava em Florianópolis de férias e a Tinna Salles, assistente do Charles e do Claudio me ligou em um domingo. Eu estava na praia quando recebi o convite, aceitei na terça, voltei pra São Paulo na quarta, assisti a peça na quinta e estreei na sexta (risos). Foi um aprendizado gigantesco. Admiro muito o trabalho da dupla e, infelizmente, por entrar no final da temporada eu não peguei o processo de preparação e criação com eles, então continuo guardando esse desejo e esperando ansioso por esse dia.
HT: Você já fez musicais nacionais e também alguns da Broadway. Há, atualmente, no mercado, um certo “pré-conceito” com as produções internacionais, né? Como você vê isso?
MR: Na verdade eu acho que o pré-conceito infelizmente existe em todo canto né? E assim acaba acontecendo no mercado artístico também. O que na verdade acontece é que existem algumas pessoas que defendem produções nacionais e outras que defendem as internacionais. Acho que o pré-conceito não é exclusivo de produções internacionais, pois eu mesmo estou acostumado a ouvir mais críticas dentro do meio a produções nacionais. Acredito que ambas as produções tem seus valores e importância pra arte do país, no sentido de formar um público e formar um mercado especializado no gênero. Os americanos sabem fazer bem espetáculos musicais e seria burrice não aproveitar isso e deixar de montar espetáculos incríveis que já foram tão bem pensados e concebidos, mas também acho primordial o incentivo a criação nacional. Sem dúvida temos artistas competentes pra se fazer ótimos espetáculos musicais brasileiros, basta a gente estar aberto a isso e acreditar na arte como um todo, independente de onde ela venha.
HT: Por que você não estará na temporada carioca do “Mulheres à beira de um ataque de nervos”?
MR: Infelizmente a temporada carioca do ‘‘Mulheres a Beira de um ataque de nervos’’ coincidiu com a temporada do ‘‘Meu amigo Charlie Brown’’, ambos estreiam suas temporadas agora em março. Tive que optar por um dos dois e acabei escolhendo aquele que achava mais interessante artisticamente para mim no momento. Minha jornada no ‘‘Mulheres’’ foi muito bonita e de muito aprendizado, só tenho a agradecer a oportunidade que tive.
HT: Quem é o Linus Van Pelt em “Meu amigo Charlie Brown”? Me fala um pouco do personagem…
MR: O Linus é o melhor amigo do Charlie Brown e um dos mais novos da turma, mas apesar disso ele tem um olhar muito filosófico e maduro sobre os temos cotidianos dos personagens. Ele é aquele tipo de criança que demora um tempo maior a desapegar as coisas. Acho que a graça do Linus está exatamente em ele falar as coisas exatamente como elas são. Ele tenta ajudar, mas, por conta da sua maneira clara e verdadeira de enxergar as coisas, as vezes acaba atrapalhando. Ele não desgruda do paninho que tem e esse pano chega a ser quase um personagem a parte, pois fazem tudo juntos. Inclusive o solo do personagem se chama ‘‘Meu pano e eu’’, que é como se fosse um dueto dos dois. Isso surge após sua irmã mais velha, Lucy, tentar tirar o pano a força dele e dizer que ele não consegue ficar sem. Assim o Linus tenta provar pros amigos que consegue sim ficar um tempo sem estar com o paninho, mas isso claramente não acontece e ele acaba demonstrando o apego e carinho que tem pelo seu ‘‘amigo’’.
HT: É uma peça para, principalmente, o público infantil. O que espera ao lidar com esse público?
MR: Na verdade acho que a peça não é direcionada pra nenhum público especificamente. O apelo visual dela é de um universo infantil, por se tratar de um desenho tão conhecido e por todos os personagens serem crianças, mas acho que ela dialoga melhor com o público adulto do que com o público infantil em si. Creio que os dois captam mensagens completamente diferentes durante a peça. Vamos ter que estar preparados pra ver as crianças rirem muito em uma hora, enquanto os adultos estão calados enquanto os adultos irão se divertir em outros que as crianças não compreenderão.
Acho que a nossa concentração vai ter que ser dobrada em relação a um espetáculo adulto, pois é um musical difícil, tecnicamente falando, e, sem dúvida, vamos contar com a participação mais efetiva da plateia, como costuma ser. Teremos crianças quase contracenando com a gente, pois criança é assim, né? Fala, levanta, canta.. Como todo mundo diz: é o público mais sincero, se gostar a gente sabe na hora e se não gostar, elas dão um jeito rápido e claro de mostrar. Acho que vai ser um desafio muito gostoso ser criança junto com eles. A minha expectativa é que a gente se divirta sempre contando essa história e que possamos passar a mensagem da peça para muita gente. É um espetáculo lindo e muito sensível. Espero que as pessoas se deem a oportunidade de serem tocadas por esse musical da mesma forma que eu fui quando assisti há seis anos atrás.
HT: Pretende fazer televisão também?
MR: Pretendo fazer bons personagens e ter meu trabalho reconhecido. Confesso que hoje em dia tenho muito interesse pela TV, pelo fato de ser algo novo e eu querer experimentar todos os tipos de veículos, como também pelo fato de poder mostrar meu trabalho para um número maior de pessoas. Mas acredito que o que vale mesmo é pegar bons trabalhos e bons personagens, independente se for no teatro, cinema ou televisão. Eu comecei a me interessar por televisão em 2011, quando vim morar em São Paulo, pois até então era algo que sequer havia pensado, talvez por achar que era longe demais da minha realidade, até que passou a fazer parte da minha realidade por conta das pessoas com quem venho trabalho.
Nunca tive muitas oportunidades de fazer testes e mostrar meu trabalho em emissoras de televisão, mas acredito que tudo tem seu tempo, e até esse dia chegar vou estudando pra não deixar oportunidades fugirem quando aparecerem.
HT: Quais os próximos projetos? Já tem algo em vista para depois da peça?
MR: Eu nunca sei pra onde minha carreira está indo, é tudo muito incerto, mas estou sempre correndo atrás e, graças a Deus, está indo por um caminho que gosto muito. Gravei o piloto de uma série independente no Rio de Janeiro em agosto, com direção de Marcus Dartangnã e texto de Tiago Santiago e talvez esse projeto dê continuidade esse ano, estão batalhando pra isso.
Eu componho há alguns anos também e estou cada vez com mais vontade de gravar minhas músicas e fazer algo com elas, quem sabe esse ano eu consiga.
No teatro não sei o que virá depois, muitos possíveis projetos, mas nada fechado, mas confesso não estar pensando nisso ainda por estar feliz e dedicado 100% ao Charlie.
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