Exclusivo: Nathália Timberg fala sobre carreira, preconceito e as crises na sociedade, política, educação e arte no Brasil: “Problema seríssimo de inversão no conceito da posição da cultura”


Engajadas em causas sociais de relevância, a atriz comentou sobre suas impressões em relação ao projeto desenvolvido por Fábio Bibancos à frente da ONG Turma do Bem. “Se você falar sobre essa causa para qualquer pessoa, ela certamente ficará extremamente ouriçada porque há uma percepção direta do quanto esta iniciativa é importante”

Ícone da dramaturgia brasileira, Nathália Timberg foi mais uma das personalidades engajadas na causa da Turma do Bem de Fábio Bibancos. Presença ativa na iniciativa da ONG que acredita que a odontologia é muito mais do que apenas cuidar de dentes, a atriz acompanhou e participou de perto da 11ª edição do Sorriso do Bem, que anualmente premia os dentistas que mais demonstraram interesse em mudar o mundo através da saúde bucal.

Em entrevista exclusiva ao HT, Nathália Timberg revelou que não conhecia o trabalho social de Fábio Bibancos. No entanto, quando se deparou com o projeto a partir dos relatos da amiga Lu Grimaldi, que é madrinha da ONG Turma do Bem, Nathália disse que se encantou. “O meu engajamento foi fulminante. Eu não tinha ideia antes do que era a organização. Quando a Lu Grimaldi, que é super participativa nas questões da Turma do Bem, me contou que o Fábio e o pessoal da ONG queriam que eu participasse da abertura do Sorriso do Bem de 2016, eu fui ver do que se tratava. E, no momento que eu entendi, eu vesti a camisa até o pé. Esse projeto da Turma do Bem, em particular o das “Apolônias do Bem”, é uma iniciativa extraordinária. Se você falar sobre essa causa para qualquer pessoa, ela certamente ficará extremamente ouriçada, porque há uma percepção direta do quanto este projeto é importante”, argumentou a atriz que destacou o trabalho de Fábio Bibancos em relação às mulheres vítima de violência que, em 2016, também incluiu três transgêneros nos atendimentos.

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Nathália Timberg e seu apoio à Turma do Bem e ao projeto Apolônias do Bem - Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

Nathália Timberg e seu apoio à Turma do Bem e ao projeto Apolônias do Bem – Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

E engana-se quem pensa que está foi a primeira vez que Nathália Timberg mergulhou em uma iniciativa séria e reconhecida como a da ONG Turma do Bem. A atriz, que levanta a bandeira da importância da valorização destes projetos, contou que também participa da causa dos Médicos Sem Fronteiras. “Eu sou uma admiradora contribuinte a muitos anos do MSF, que tem um trabalho extraordinário também. Então, se eu visto essa iniciativa mundial, me engajo ainda mais na causa da Turma do Bem, cuja necessidade é vista dia-a-dia. Eu acho que nós brasileiros, quando pararmos de usar antolhos, olharmos bem para o que está acontecendo à nossa volta e resolvermos por a mão na massa, esse país vai ter outro perfil”, analisou.

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Seguindo nesta temática abordada por Nathália, o HT questionou à dama da arte brasileira o que ela achava da atual situação do nosso país. Incomodada com diversos fatores, a atriz preferiu ressaltar a importância da educação na construção de uma sociedade mais justa e inteligente. “Nós estamos em um país que está em uma situação que necessita urgentemente de uma seriedade ao encaramos os problemas. Eu acho que a nossa formação, que hoje está sucateada, é a origem de todas essas conseqüências que enfrentamos diariamente. Nós estamos, cada vez mais, vendo a formação dos brasileiros sendo dirigidas a uma ignorância especializada. Já que não se pode abraçar totalmente a formação humanística, também não podemos permitir que ela seja assassinada porque a visão do mundo depende exatamente da distância do horizonte de quem está parado neste país. Essa situação tão grave da saúde não estaria nesse quadro aterrador se não fosse a cegueira em relação a essas prioridades”, apontou a atriz que empoderou-se do pensamento de Jacques Cousteau para completar seu raciocínio: “Tudo o que se discute no mundo atualmente é secundário. O problema básico está na explosão demográfica”.

Nathália Timberg na 11ª edição do Sorriso do Bem - Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

Nathália Timberg na 11ª edição do Sorriso do Bem – Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

No entanto, quiséramos nós que o único problema tupiniquim fosse na saúde dos brasileiros. Inserida na classe mais afetada pelo corte temporário do Ministério da Cultura após o impeachement de Dilma Rousseff, Nathália Timberg afirmou que a pasta tem como base as dificuldades de formação da sociedade. “Nós tivemos um problema seríssimo de inversão no conceito da posição da cultura. Entre a sociedade, a arte é vista como algo supérfluo, é a cereja do sundae. Só que, para mim, conceito da cultura está totalmente equivocado, e a educação é uma conseqüência disso. As pessoas que têm nas mãos a formação do brasileiro precisam reavaliar muito bem, se é que ainda há condições para isso, as conseqüências de um trabalho que vai além do próprio umbigo”, argumentou.

A descontração de Nathália Timberg arregaçando as mangas para o trabalho da Turma do Bem - Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

A descontração de Nathália Timberg arregaçando as mangas para o trabalho da Turma do Bem – Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

Assim como as opiniões sobre o cenário político e cultural do Brasil estavam afloradas, as novidades na carreira profissional também. Recuperando-se de uma laringite, Nathália Timberg contou que está em cartaz no Teatro Nair Bello em São Paulo. “Eu estou em plena temporada na peça 33 Variações, que trata das oscilações de Beethoven e que são executadas ao longo do espetáculo. Em cena, eu tenho Lu Grimaldi, Gil Coelho, André Dias e Wolf Maia, que também assina a direção do espetáculo, contracenando comigo nessa belíssima história”, disse sobre a peça que, depois das sessões no Rio, encerra suas apresentações no mês que vem na terra da garoa. “Quando terminar a temporada em dezembro, nós devemos viajar para o Sul, Norte e Nordeste, onde já temos convites. Depois, há um plano quase concretizado de irmos a Portugal com esse espetáculo também”, adiantou.

No Palace Hotel, a dama das artes Nathália Timberg - Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

No Palace Hotel, a dama das artes Nathália Timberg – Foto: Poços de Caldas (MG): Henrique Fonseca

Mergulhada no teatro, a atriz, que ainda tem dois projetos de espetáculos para 2017, confessou que segue respirando longe dos ares televisivos. Afinal, é preciso um descanso merecido depois da carga emocional da última personagem. Em “Babilônia”, no ano passado, a atriz protagonizou um casal gay com a outra dama da dramaturgia brasileira, Fernanda Montenegro. Sobre esta experiência, Nathália Timberg comentou o que ouvia fora dos sets. “Eu achei profundamente deprimente ver que em áreas consideradas mais esclarecidas, principalmente a mídia, o enfoque quando se tratava do tema era absurdo. Quando eu vivia essas situações em entrevistas, eu perguntava ao jornalista em questão se ele achava que o preconceito no Brasil já estava em tempo de ter sido superado. Geralmente as respostas eram afirmativas, daí eu continuava e questionava se já não tinha passado da hora de tratar do tema com aquele enfoque de escândalo. Eu não compreendia como a própria mídia, que tanto defendia a liberdade e a igualdade, questionava a situação daquela maneira”, relatou a atriz que ignorou os comentários que a cercaram na época da novela. “Quando eu me encontro diante deste tipo de preconceito, eu acho que a melhor reação é mostrar a normalidade do que deveria ser normal”, afirmou a maravilhosa e sábia Nathália Timberg.