HT não precisou perguntar para Marcelo Marrom qual é o limite do humor. Antes mesmo do nosso questionamento (que estava previsto), o fluminense de 44 anos, já deixou bem claro que não pensa duas vezes antes de soltar graça por aí. “Piada nenhuma me dá problema. E nem faço nada com tanto cuidado. Falo sobre cadeirante que foi ao show até racismo que eu vivi na infância. Não me preocupo”, conta. E nem sendo lembrado do que já aconteceu com o colega de profissão Rafinha Bastos (processado por um piada contada ao vivo na Band), por exemplo, ele muda de ideia. “Acho pouco provável de acontecer comigo. Talvez pela maneira com que eu falo. Tudo depende do tom, até um bom dia”, analisa.
O debate em torno do limite do humor, que segundo ele não existe, e por isso permite esse falta de patrulha pelo que fala, é realçado pela heterogeneidade de público. Como assim? Há quem goste de palavrões, há quem goste de piadas sobre religiões, e outros que preferem apenas rir de si mesmos. Por isso, se você atinge um público e o satisfaz, não precisa impor um limite para tal atividade. Marrom explica melhor. “O brasileiro ri muito do outro. Se você fala de alguém da plateia, pode saber que há risada. E o grande segredo está aí: saber fazer isso, sem que essa única pessoa da plateia seja denegrida. Então, não tem limite. Vamos até onde você quiser ir. E quem vai te dizer algo é o público. Tem gente que fala muita m…. e tem público, por exemplo”.
Contratado da Rede Globo e no ar com o programa “Queimando a Roda”, do Multishow, Marrom é tão consciente do cenário do humor que já não fala sobre as oportunidades com a mesma alegria de sua liberdade de texto. “Não é fácil. Com o boom do stand up, pouca gente ficou. Tem gente tentando um lugar ao sol, mas não está conseguindo. Tem uns trabalhando de redator em emissora, outros escrevendo em pequenos blogs. Tem muita gente para fazer e pouco espaço. A conta não bate. E a concorrência é boa, tanto na TV, quando no rádio. E no teatro também: não tem palco para todo mundo”, explica.
Além da procura ser maior do que a oferta, o assunto “humor” também recai sobre um outro ponto importante além de seu limite. E é no campo da TV. Na aberta, cada vez mais os programas vêm se reinventando, se despindo das piadinhas para vovós, e acreditando na essência ousada que o gênero pede. Enquanto isso, a TV fechada, que já havia entendido essa necessidade, fica cada vez mais livre, leve e solta, deixando o humorista sem amarras. “Sim, na TV paga você fica mais solto no quesito conteúdo. Mas você tem menos dinheiro, menos infraestrutura. Eu estou na paga agora, e me dá muito prazer ter a liberdade que eu tenho lá. Na TV aberta, você tem umas obrigatoriedades”, disse. Exemplos? “Você não pode falar palavrão. Uma insinuação sobre um artista da casa, por exemplo, eles já pedem para vetar. Na fechada não tem isso”, analisou.
Telinha à parte, Marcelo Marrom, como deve ser, joga nas onze. Lançou há dois anos um livro, que ainda continua à venda, chamado “Fé Demais: Histórias de Fé e Humor”, um compilado de pensamentos que já soltava por aí na web; e roda o país com seu espetáculo. Conhecido por sua arte, de nada difere do menino nascido em Niterói, que sofreu preconceito racial. Situação que ele diz ter ficado (em partes) no passado. Ser negro para Marrom é ótimo. “Eu nunca soube como não é ser negro, né. Eu não tenho problema com esse tipo de coisa. Agora sou mais conhecido, então o racismo diminuiu bastante. Quando existe alguma coisa, eu tiro de letra”, contou. Instigado por HT a relembrar o último caso, recorre a um restaurante.”O caso mais clássico foi do garçom que era negro e não queria me atender. O racismo está entre nós, ele está em toda parte. Não há como se livrar. Vai acontecer o resto da vida, com velhos, negros, tudo que for minoria, vai acontecer”, opinou Marrom.
Essa entrevista, concedida durante uma tarde vaga de sua rotina, não poderia acontecer, por exemplo, daqui a quatro dias, quando os shows voltam a ser realizados. Um deles, por exemplo, será em Vitória, no Espírito Santo, durante este final de semana, dentro do Festival de Stand Up Comedy. Nos dias 27 e 28 de junho, o Centro de Convenções da capital receberá, além de Marrom, os colegas Fábio Rabin, Rodrigo Capella, Dinho Machado, Patrick Maia, Rodrigo Fernandes, Nany People, Rodson Nunes, Luiz França e Thiago Venura. “Uma grande vantagem desse evento é que você assiste ao melhor de cada humorista. Eu vou fazer os meus melhores 20 minutos, e eles também. É o filé de cada um”, adiantou ele que, quando questionado o que ainda queria muito fazer, disse que era sexo numa praia deserta. Conversa finalizada com muita risada, como não poderia ser diferente.
Serviço:
FESTIVAL DE STAND UP COMEDY
DATA: 27 e 28 de junho
LOCAL: Centro de Convenções de Vitoria
INICIO DO SHOW: 21horas
ABERTURA DO TEATRO: 20 horas
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
ATRAÇÕES DIA 27
♦ Fábio Rabin
♦ Patrick Maia
♦ Rodrigo Capella
♦ Dinho Machado
♦ Rodrigo Fernandes
♦ Nany People
ATRAÇÕES DIA 28
♦ Fábio Rabin
♦ Marcelo Marrom
♦ Robson Nunes
♦ Luiz França
♦ Thiago Ventura
INGRESSOS:
Cadeira 1º lote:
Setor Platinum: R$ 60,00 (meia) / R$ 120,00 (inteira)
Setor Diamante: R$ 50,00 (meia) / R$ 100,00 (inteira)
Setor Premium: R$ 40,00 (meia) / R$ 80,00 (inteira)
Setor Gold: R$ 30,00 (meia) / R$ 60,00 (inteira)
PONTOS DE VENDAS: http://www.blueticket.com.br/
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