Exclusivo! Luis Lobianco fala de ‘Portátil’ e sobre o lançamento do filme do ‘Porta dos Fundos’: “Acho um absurdo que o humor seja patrulhado”


Atoe e roteirista ainda falou sobre sua relação com o espaço Buraco da Lacraia, na Lapa: “É uma noite que tem muito a ensinar. Nesse tempo a gente se aproximou muito da comunidade LGBT. também. É um sonho que tudo fosse como o Buraco”

Se você ainda não ouviu falar no ator Luis Lobianco não sabe o que está perdendo. O carioca gente boa, morador da Lapa, foi chegando de mansinho na trupe do “Portas dos Fundos” e hoje integra o quadro de humoristas que mais fazem barulho da nova geração da comédia – e da arte – nacional. Além do sucesso da websérie, ao lado de figuraças como Fábio Porchat e Gregório Duvivier, Lobianco ainda se dedica a diversos trabalhos no cinema, na televisão e como roteirista de alguns programas de TV. Ufa! Se você perdeu o fôlego só de ler a quantidade de atividades do rapaz, fique calmo, leitor, porque ainda tem mais.

Luis Lobianco (Foto: Divulgação)

Luis Lobianco (Foto: Divulgação)

Em entrevista exclusiva ao HT, o ator, que está em cartaz pelo Brasil com a peça de improviso “Portátil” e toda sexta-feira com seu show imperdível no Buraco da Lacraia, no Rio, contou para a gente que jamais poderia ficar longe dos palcos. “Minha vida é uma loucura, mas eu adoro. Nunca reclamo. Quando saio para trabalhar, é como se eu estivesse saindo para uma balada. Acabo descansando pouco, porque sempre tenho várias ideias para roteiro e coisas para fazer”, comentou Luis. “O teatro veio muito antes de tudo. Fiquei fazendo diversas peças por quase 20 anos e, a partir daí, comecei a aparecer mais no ‘Porta dos Fundos’. Nunca conseguiria deixar de fazer teatro”, revelou.

Há dois em cartaz com “Portátil”, Luis acrescentou que cada dia do espetáculo é uma estreia diferente, já que a peça não segue um roteiro fixo. No palco, Lobianco, Gregório Duvivier, João Vicente de Castro e Gustavo Miranda recolhem informações com a plateia para montar a história que dará enredo ao improviso. “Esse é o primeiro espetáculo que eu estou sempre em um estado de alerta. Eu fico nervoso o tempo todo. Eu achei que já tinha superado isso (risos). A gente vai para o palco sem saber o que vai acontecer”, disse. “A graça é o público ver que não tem roteiro mesmo, já que a gente faz uma espécie de entrevista com a plateia e, a partir dali, montamos uma dramaturgia em cima do palco. Tudo com muito humor, lógico”, revelou.

Elenco da peça "Portátil" (Foto: Divulgação)

Elenco da peça “Portátil” (Foto: Divulgação)

A montagem, que já rodou grandes capitais do Brasil e aterrisou em Portugal, segue em turnê sem data para acabar. “No final, o resultado é um espetáculo orgânico, diversificado, que passeia por diversos
personagens, épocas e lugares, a fim de contar a história de uma pessoa. Em Portugal, a gente sentiu muito carinho, sabe? Lá é um dos meus lugares favoritos, por sinal”, comemorou Lobianco.

Apesar de não ter medo de falar o que pensa, o ator tem observado com cautela a transformação do humor brasileiro de uma forma geral. Segundo ele, tem sido um desafio para os comediantes adaptarem seus trabalhos ao “limitador” politicamente correto. “Acho um absurdo que o humor seja patrulhado. Dois vídeos do ‘Porta dos Fundos’ tiveram que ser retirados do ar. Foram proibidos, porque falavam sobre política, na época das eleições. Isso é um escândalo na democracia, me dá muito medo. A gente tem a liberdade muito ameaçada. A classe política quer nos amordaçar e acabar com a liberdade de expressão”, disse o ator, que avaliou o seu próprio trabalho. “O humorista tem que ter o limite que é do bom gosto. Eu fiz a escolha de não fazer humor em cima dos outros, ou do bullying, por exemplo. É possível fazer um debate mais elevado”, contou. E falando em bullying: “Já era político desde cedo. É óbvio que sempre tem um folgado que quer tirar onda com você, mas por ser uma criança calejadinha já usava o humor muito a meu favor: defesa e esperteza”, ensinou.

Lobianco no filme do "Porta dos Fundos" (Foto: Divulgação)

Lobianco no filme do “Porta dos Fundos” (Foto: Divulgação)

Mas nem sempre tudo são flores, né? Por trabalhar na plataforma digital, Lobianco contou que, por diversas vezes, recebeu críticas destrutivas que o abalaram, mas com o tempo aprendeu a ignorar comentários maldosos sobre seus papeis e até vida pessoal. “No início, quando comecei a trabalhar com internet, eu não era muito ligado, mas eu me assustei um pouco. As vezes é um teor muito gratuito e você não entende aquilo, mas aprendi a não ler tudo. A maior parte dessas pessoas que quer te xingar ou dar opinião, não pensa aquilo que diz. As pessoas adoram aparecer nas redes sociais”, comentou. “Fazendo justiça a meus fãs, eles são muito educados e respeitosos. As pessoa me abordam com carinho para trocar uma ideia”, ressaltou ele, que ainda comentou uma história curiosa. “Uma vez eu bloqueei uma menina na rede, só que eu acho que ela não gostou. De repente, ela entrou em contato com a minha irmã para tentar se aproximar de mim. Foi uma coisa assustadora”, comentou ele, pincelando o caso de perseguição ocorrido com a apresentadora da Record, Ana Hickmamm.

Voltando para a sétima arte, os fãs do Porta podem começar a ficar animadinhos, porque a série feita para as plataformas digitais estreia ainda este mês nos cinemas. É isso mesmo que você ouviu! “Contrato Vitalício”, que tem Fábio Porchat e Gregório Duvivier como protagonistas, conta a história de dois cineastas que ganham um troféu em uma premiação internacional e, durante a bebedeira de comemoração, assinam um contrato que será vigente por toda a vida dos malandros. O longa, dirigido por Ian SB, tem estreia prevista para 30 de junho. “Eu acho que o Porta, com apenas quatro anos, já rompeu o tipo de humor que se fazia antes. Muito na contramão, sabe? Saímos da internet e, agora, em outras mídias como no cinema e televisão. O filme é bem parecido com o que fazemos, com muito humor, mas não é de esquetes. É uma história inteira”, adiantou Luis, que já participou de produção cinematográficas como “Tim Maia – O Filme”, “Made in Chine” e “O Candidato Honesto”.

O ator durante espetáculo no Buraco da Lacraia, na Lapa (Foto: Divulgação)

O ator durante espetáculo no Buraco da Lacraia, na Lapa (Foto: Divulgação)

Ultimamente tem se falado muito na casa de show Buraco da Lacraia, na Lapa. O local tem se tornado point de algumas celebridades, entre elas a atriz Fernanda Paes Leme, que como contamos aqui, comemorou seu aniversário no local, tem chamado a atenção por ser um espaço bem democrático. Muito antes disso, Luis Lobianco já estrelava o espetáculo underground “Buraco da Lacraia Dance Show”, que segue em cartaz até hoje. “A ocupação teatral no cabaré Buraco da Lacraia aconteceu um pouco antes do ‘Porta dos Fundos’ nascer. Éramos um grupo de atores cheio de energia pra trabalhar e para a diversão. O ambiente teatral no Rio pode ser bem hostil, falo dos altos preços de aluguel de teatro até os projetos contemplados por editais – que na maior parte das vezes sai para um grupo determinado de artistas. Naquele momento decidimos que bancaríamos a nossa felicidade artística fora de um teatro convencional e fomos acolhidos pelo Adão Arezo, dono da casa, que também é um tradicional club LGBT carioca”, contou.

“No início tudo era tão despretensioso que ensaiamos para apenas quatro apresentações. Entendemos aos poucos que tínhamos criado, sem querer, mas com muita paixão, algo absolutamente inédito, cult, agregador e com um discurso poderoso e necessário em tempos de intolerância e fundamentalismo. Somos uma família e amamos o que acontece ali toda sexta-feira envolvendo tantas pessoas”, disse. “É uma noite que tem muito a ensinar. Nesse tempo a gente se aproximou muito Da comunidade LGBT também. É um sonho que tudo fosse como o Buraco”, ressaltou.

Cabeça aberta e engajado em acabar com o preconceito, o ator ainda contou a importância de termos uma Parada Gay no Brasil. “Acho incrível que a gente tenha algumas das maiores Paradas do mundo. O que acontece em dias como esse é que o LGBT é enxergado. Em São Paulo a festa toma conta de uma das maiores avenidas do país e vira notícia no mundo todo. Essa é a tal visibilidade a ser conquistada e precisa haver Paradas até o dia em que lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais sejam enxergados, não só durante o evento anual, mas todos os dias: no mercado de trabalho e no cotidiano. As classes que sofrem violência precisam muito se unir e fazer barulho porque o lado do ódio está muito junto e articulado. O mais assustador da ignorância é que ela não duvida em nenhum segundo dos seus fundamentos”, finalizou.