* Com Lucas Rezende
Tim Maia (1942-1998), Cazuza (1958-1990) e Cássia Eller (1962-2001) têm algo especial em comum: a direção dos seus musicais biográficos foi assinada por uma mesma pessoa. João Fonseca é o talentoso diretor por trás das superproduções e, durante um bate-papo com HT, explicou a declaração que deu no II Seminário Carioca de Teatro Musical, no Theatro Net, de que havia “cansado de musicais brasileiros e queria dar um tempo”. “Quis dizer, naquela ocasião, que não queria ficar preso a um gênero de musical, assim como nunca quis ficar preso a nada. Estou sempre aberto a bons projetos e boas ideias seja o que for. Sou louco por música brasileira, mas não basta grandes músicas para o bom teatro. Precisa ter uma boa história também”, ressaltou.
Disso ele entende. Em todos os seus espetáculos, as vidas retratadas eram de artistas cujas histórias foram marcadas por questões como HIV, homossexualidade e problemas com drogas. E se os três estivessem se lançando no mercado atualmente, no auge das denúncias de homofobia, machismo e racismo, seria o mesmo sucesso, João? “Sim ou até maior. Estamos falando de artistas fora de série e que saberiam lidar com qualquer tempo. Suas vidas foram exemplos disso”, defendeu ele, que já revelou ter preferência por autores nacionais. “Ter preferência não significa ter algo contra o musical estrangeiro. Tenho preferência por autores nacionais também quando se trata de teatro falado. E nem por isso vão achar que tenho algo contra Shakespeare ou Tennessee Williams. Acabei de dirigir uma versão de ‘Godspell’ e de chegar da Broadway. Vou sempre que posso e gosto muito”, disse.
Falando em Broadway, responsável pela popularização dos musicais no resto do mundo, e levando em consideração que o Brasil é um dos maiores polos de produção de teatro musical do planeta – tendo São Paulo como a segunda maior cidade do mundo com espetáculos desse tipo -, João acredita que essa valorização do gênero no país aconteceria cedo ou tarde. “Os musicais são populares no mundo todo e o Brasil é um país absurdamente musical. Logicamente era apenas uma questão de tempo para o mercado perceber que haveria um grande número de espectadores interessados”, analisou ele, que não acredita no termo “broadwayzação” do gênero no país. “Acho que o musical brasileiro, seja original ou biográfico, está cada vez mais forte e ocupando seu espaço. O legal é ter de tudo. E que a qualidade dos espetáculos que seja discutida, não sua nacionalidade”, ressaltou.
Depois de temporadas em locais como Belém, Florianópolis, Curitiba, Joinville, Campo Grande e Fortaleza, “Cássia Eller – o Musical” entrará em cartaz no Rio de Janeiro, para sua terceira temporada, no dia 07 de janeiro em um lugar privilegiado: a sala Marília Pêra, no Teatro do Leblon. Com o sucesso em diversas cidades do Brasil, João ressaltou que cada um de seus trabalhos é diferente do anterior. “Nesse, eu assino a direção com meu amigo Vinicius Arneiro, com quem tenho uma troca excelente e aprendo muito. Além dele, tenho parcerias novas como Lan Lan, Fernando Nunes, Marcia Rubim, Marco Dantonio, Marilia Carneiro, que, aliados aos velhos parceiros como Nello Marrese, Natalia Lana e Maneco Quinderé sempre provocam novos caminhos”, analisou.
Há uma particularidade, porém, que chama atenção em todos as montagens de João Fonseca: os cenários quase vazios. “Não é coincidência. No caso do ‘Cassia Eller- o musical’ muito menos. Sempre quisemos que o espetáculo fosse simples, teatral, privilegiando a música e onde os músicos e atores se misturassem”, explicou. Falando em atores, o diretor fez questão de elogiar sua protagonista Tacy de Campos. “Nosso processo foi ótimo. A Tacy é introspectiva, mas muito sensível inteligente e estava totalmente disponível para trabalhar comigo e com Vinicius. Além disso, contamos com o apoio integral de todos os demais colegas do elenco, do trabalho amoroso com o Fernando Nunes e com a Lan Lan, e principalmente de uma dedicação a parte com a coach Ana Paula Bouzas”, disse ele, que foi conquistado logo nos testes. “Achei ela vocalmente incrível e com um temperamento que lembrava o da Cássia”, entregou.
Se a Lei Rouanet auxilia em uma maior captação de recursos, o diretor disse saber pouco de números, mas garantiu que, com mais ou menos capital, o espetáculo seria igual. “Não sei muito sobre, não sou produtor do espetáculo. Mas sei que a verba destinada a nosso musical era prevendo quase um ano de apresentações em quatro cidades do Brasil em teatros pequenos com preços populares. Artisticamente o espetáculo seria o mesmo, independente da verba”, disse. Perguntado que artista escolheria para ganhar uma história em forma de musical, João foi coerente: “Desde que tenha uma boa história e eu me identifique, pode ser qualquer um”, respondeu. Uma coisa é certa: ele fará com maestria.
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