Mouhamed Harfouch é um ator versátil. Ele, que mal havia saído de um personagem polêmico em “Verdades Secretas”, sucesso de Walcyr Carrasco, quando começou a ensaiar “Ou tudo ou nada”, peça em que vive o protagonista Jerry, não teve férias. “A minha sorte neste processo é que pude acabar de gravar a novela e logo comecei a ensaiar o musical, que me exigiu total dedicação durante cinco semanas”, contou. Feliz com o desafio, seu trabalho árduo pode ser conferida nos palcos na versão brasileira da peça, assinada por Artur Xexéo. O espetáculo, que foi aplaudido na Broadway, é inspirado no filme “The full monty”, sucesso de bilheteria nos anos 90.
Dirigido por Tadeu Aguiar, Mouhamed, que nunca havia trabalhado com a dupla, é só elogios: “Ambos são uma grata surpresa. Sou extremamente agradecido ao Tadeu, pela confiança em mim depositada, por me dar força e nunca me deixar duvidar de que eu conseguiria. Ele é um grande diretor. E o Xexéo é um cara que sempre li, admirei e acompanhei através de suas colunas e que fez um trabalho belíssimo com esta tradução. Trabalhar com ambos me deixa muito feliz”, declarou.
Na peça em cartaz no Theatro Net Rio, em Copacabana, seu personagem é um homem desempregado, imaturo e divorciado que tem um filho a quem é muito apegado. O drama acontece quando, prestes a perder a guarda compartilhada da criança por falta de pagamento de pensão, se junta aos amigos para formar um grupo de striptease. “Como sou pai, a história me toca muito. O amor de um pai é algo transformador. E isso irá mudar a vida deste personagem. Outra grande questão é fazê-lo se reencontrar com sua auto-estima”, analisou.
A auto-estima do personagem aparece, também, em cenas de nudez. Mas engana-se quem pensa que para Mouhamed isso é um desafio. “Brinco que o que faço é tão mais complicado e difícil que, no final, tirar a roupa é uma espécie de redenção. Mas, quando recebi o convite, gelei”, confessou. Por coincidência, em “Verdades Secretas” ele foi um dos poucos atores que não chegou a ficar nu em cena. O intérprete disse que costuma rir das comparações nesse sentido e, em cartaz, já consegue avaliar a recepção do público ao novo papel. “O que mais acontece é que as pessoas se surpreendem ao me ver no palco, pois lá eu faço um tipo mais imaturo, moleque, mais extrovertido impulsivo que o doutor Everaldo, que era um cara comedido e sério. Sempre comentam. Outro fato é que, curiosamente, muita gente ficou pelada na novela, e eu fui ser o diferente: fiquei pelado no palco”, brincou.
Mais do que ficar nu, a responsabilidade de protagonizar um musical é o maior impacto. Apaixonado por música desde sempre – ele tem quatro violões em casa -, Mouhamed nunca havia pensado em ser cantor, mesmo com o talento pela composição. “Gosto de me expressar através da música, por isso o musical foi uma surpresa, me despertou a vontade de cantar, que é um exercício lindo mas, ao mesmo tempo, exige uma vida de atleta. É uma rotina de disciplina. Tenho uma carga de texto e um volume de música que não é brincadeira, mas quando estou no palco não penso em nada disso. Só em contar essa linda história de superação e amor. E como é bom olhar para o lado estar rodeado de bons atores, onde o jogo se estabelece de maneira tão gostosa. Fora de cena, me exijo muito, para dar o melhor para este espetáculo”, declarou.
Atuar nas mais diversas plataformas é privilégio de poucos. Mouhamed sabe disso e, com experiências em televisão, cinema e teatro, consegue listar as principais diferenças entre os três veículos. “Enquanto na televisão o corte fechado dá a direção exata que o espectador deve ficar atento, no teatro é algo mais expansivo, o foco é feito pelo público. Uma boa direção e elenco até conseguem direcionar o olhar da plateia, mas nunca totalmente. O teatro tem essa magia do ao vivo. Já o cinema tem o mundo, o universo, a fotografia”, comparou. Apesar das diferenças, ele acredita que as linguagens têm se aproximado cada vez mais. “Hoje, uma tem servido de base apara as outras. É um intercâmbio saudável que está levando a arte a outros patamares. Um bom exemplo é ‘Verdades Secretas’, que teve uma preparação verdadeiramente teatral e uma estética altamente cinematográfica, tudo isso feito na televisão”, disse.
A própria história de “Ou tudo ou nada” também já foi filme. O sucesso de bilheteria, de acordo com Mouhamed, não é pressão, mas privilégio. “O filme é maravilhoso. Já tinha visto e revi, mas criei o meu próprio Jerry. Semana passada, entrei em uma dessas locadoras que resistem bravamente de portas abertas e um dos donos que é fã do filme me parou e disse que assistiu o musical e amou a nossa versão. Fiquei muito feliz”, contou.
Quem vê o talento do ator não imagina que ele chegou a cogitar não seguir a profissão e até se formou em direito. Apesar da ligação com o teatro desde a infância e de trabalhar no meio desde os 14 anos, Mouhamed resolveu ter um “plano B”. “Durante muito tempo paguei para trabalhar em teatro e ralava muito. Então, quando fiz 17, refleti sobre a dificuldade da carreira e decidi estudar direito, que é uma profissão belíssima e teatral, também. Mas quando me formei, tirei minha carteira da OAB e recebi um convite para trabalhar em um escritório. Eu recusei e me dei um prazo de dois anos para correr atrás do meu sonho”, contou. Felizmente deu certo e hoje os fãs podem vê-lo fazendo o que sabe. E a gente ama.
Serviço:
Temporada até 20 de dezembro
Theatro Net Rio
sala Tereza Rachel.
Quintas e sextas – 21h
Sábados – 18h ou 21h30
Domingos – 19h
Plateia: R$ 150
Balcão I: R$ 100
Balcão II: R$ 50
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