Depois de ter se aventurado por espetáculos como “Xanadu” e “O cachorro riu solto”, e de ter participado do humorístico “Tomara que caia”, na Rede Globo, Danielle Winits agora toma a forma de um dos maiores ícones da cultura mundial. Em “Depois do amor”, que estreia amanhã (7) no Teatro Vannucci, ela encarna ninguém menos que Marilyn Monroe (1926 – 1962), em um texto de Fernando Duarte com direção de Marília Pera (1943 – 2015) e, apesar de manter a verve humorística, a atriz também se aprofunda em uma história repleta de romance e um certo quê de mistério, como não poderia deixar de ser, tratando-se da loira mais famosa do cinema. “A peça trata de uma mulher mais Norma Jeane (nome original da estrela hollywoodiana) do que Marilyn; uma figura vulnerável, com sonhos não realizados, e não o ícone em si. É uma história emocional, rica e que fala da alma feminina”, explica Dani, em entrevista exclusiva ao Site HT.
“Depois do amor” aborda um dentre os muitos episódios famosos e emblemáticos da vida de Marilyn Monroe: a sua relação com a amiga Margot Taylor (vivida por Maria Eduarda de Carvalho). A atriz e a figurinista se conheceram nos bastidores de um filme em 1952, quando Margot namorava então o jogador de futebol americano Joe DiMaggio (1914 – 1999) e Marilyn, bem, acabou se apaixonando pelo rapaz, que abandonou Taylor e se casou com ela. Uma década depois, o destino, que sempre pregou peças em MM, tratou de colocá-la frente a frente com a ex-amiga durante a produção de “Something’s got to give”, o último filme rodado pela estrela, apenas três meses antes de sua morte.
“Óbvio que sempre existem muitos lados da alma feminina, mas a peça aborda o reencontro entre duas amigas e uma amizade que se perdeu ao longo dos anos. Isso me interessou bastante, tanto que sou também co-produtora do espetáculo. E, claro, a chance de ser dirigida por Marília Pera, com quem eu já havia trabalhado antes como atriz, foi irresistível”, explica Dani sobre o seu envolvimento com o projeto.
A atriz conta para HT que, assim como grande parte do público, sempre foi fascinada pela vida de Marilyn Monroe e acabou topando com várias obras acerca da estrela ao longo de sua vida, fossem elas livros, biografias, documentários ou cartas. Estas últimas, por sinal, serviram como material para o laboratório feito por Dani para o espetáculo: “Elas são como um diário, com as emoções bem dissecadas. Em 1962, três meses antes de sua morte, fica bem nítida a perturbação dela e, ao mesmo tempo, a alegria e vontade de viver, de ser bem-sucedida tanto na profissão quanto na questão familiar. Esse já era o final de sua vida, mesmo que ela não soubesse, e seu emocional estava bem abalado. Acho que isso aproxima mais as pessoas da sua imagem verdadeira e não da máscara social com a qual ela era vista. Para mim, como atriz, um trabalho desses é mais do que interessante”, conta empolgada, completando que, em 2016, Marilyn Monroe completaria 90 anos se estivesse viva e a peça é como se fosse uma homenagem póstuma à colega de profissão.
Um olhar superficial sobre Danielle Winits pode não capturar isso da primeira vez, mas é engraçado notar que ela e Marilyn Monroe dividem algumas semelhanças subliminares ou nem tanto assim. Por exemplo, ambas começaram cedo na carreira de atriz e, desde o início, foram consideradas como símbolos sexuais de suas gerações. Ao mesmo tempo, as duas tiveram suas vidas pessoais e relacionamentos dissecados pela mídia, enquanto continuavam a trabalhar incansavelmente, sempre mantendo um quê de mistério sobre suas personas privadas. Há ainda uma certa qualidade que não é adquirida com o tempo ou com um curso de teatro e atuação: o star power que faz com que Dani, assim como Marilyn, consiga atrair todos os olhares ao entrar em um ambiente, mesmo que não seja esse o seu intuito.
Mas, para a própria, há ainda uma outra característica que a liga à sua personagem: “Acho que qualquer mulher que tem o sonho da família, que seja romântica, se identifica com a Marilyn. Eu sou uma romântica, apesar de um pouco mais prática do que ela, até no sentido da minha experiência. Essa questão a aproxima do universo feminino e da vontade de ter uma vida estável e familiar. Essa também foi uma busca pessoal minha, e é algo que eu criei com os meus filhos e com a minha família”, analisa.
Outro aspecto que parece unir Dani e Marilyn é a habilidade e vontade que o público tem e/ou tinha de julgar seus movimentos e decisões pessoais. No caso de ambas, divórcios com homens que também são publicamente conhecidos e uma série de personagens sensuais serviram para criar uma persona imaginária que, de acordo com a brasileira, nem sempre corresponde à realidade. “Acho que todo artista acaba sendo pré-julgado de uma maneira não tão verídica, porque nós damos vida a pessoas que não somos nós. Isso acaba criando um inconsciente coletivo do que nós poderíamos ser ou somos. Tenho visto isso em relação a mim, principalmente por ter começado a carreira jovem e ser um símbolo sexual etc. Sinceramente, acho que isso acaba ficando raso ao longo do tempo, muito pequeno e até risório, na verdade. Porque o trabalho é uma coisa e a vida pessoal é outra”, explica, antes de completar: “Esse, na verdade, é outro traço de proximidade que eu sinto em relação a ela também, sobre o imaginário das pessoas, que sabem muito pouco e acabam sendo levadas por julgamentos. É uma questão que não dá para você lutar contra. Dá apenas para ser o melhor que você pode ser. Eu não perco meu tempo debatendo sobre esse tipo de coisa, fico mais preocupada em fazer o meu trabalho”, observa a atriz.
De Nicole Kidman a Lindsay Lohan, passando por Michelle Williams, Katherine McPhee e Madonna, são várias as releituras que Marilyn Monroe já teve desde que se tornou um dos maiores símbolos da cultura pop. Sobre a sua versão da estrela, Dani conta que preferiu focar em um aspecto mais emocional: “Eu sempre me interessei pelo lado frágil e vulnerável dela, e acho que isso a aproxima de nós ‘mortais’. É o que mais ficou no meu inconsciente, principalmente por muito do que eu li e do que ela escreveu sobre isso”, esclarece a atriz, que também não se considera muito vaidosa, mesmo com o título de símbolo sexual. “Muito pelo contrário! Eu me cuido por mim mesma, pela minha saúde. Sempre tive uma vida nada sedentária e, para mim, o que vale é a premissa ‘Jovens: envelheçam’, como já dizia Nelson Rodrigues. Acho que a maturidade só traz felicidades, menos cobranças e, para mim, mais serenidade. A estética é uma consequência. Para mim, como atriz, acho que até os personagens melhoram com o tempo”, ri.
Bem, quem acompanha a atriz no Instagram sabe que ela é adepta das academias e da malhação, uma característica que pode muito bem ter sido herdada da mãe, Nadja Winits, a qual, aos 63 anos, é considerada pelo público masculino como musa, assim como a filha. Quando perguntada sobre o que acha da genética das Winits ser tão apreciada pelo público, Dani ri e responde: “Minha mãe é uma mulher super atuante, guerreira e acho que é natural que ela acabe sendo um exemplo. Ela é madura e, independente dessa questão de ela ser bonita, acho que acaba sendo um bom exemplo para tantas mulheres, de que podem chegar à maturidade lindas”, comenta.
A produção de “Depois do amor” passou por duas surpresas desde que os ensaios começaram. O mais recente deles foi a saída de Carolina Ferraz da peça, abandonando o papel de Margot apenas algumas semanas antes da estreia (“Ela teve uns problemas pessoais e precisou sair”). E, no mês passado, o adeus a Marília Pêra. “Nós soubemos da notícia no dia que tivemos uma pré-estreia em Manaus e, na verdade, era algo esperado, mas não tanto. Chegamos a quase três meses de trabalho juntos, todos maravilhosos. E, independente de ela estar doente, ela teve um desempenho inesquecível. Considero que ela fez uma passagem nesse trabalho que é tanto dela quanto nosso. Para mim, ela é imortal”, comenta Dani, agora com a voz mais tenra e sentimental, mas contida.
Para finalizar o papo, HT pergunta a Danielle Winits como ela gostaria de ser lembrada após o seu falecimento. Afinal, o ícone Marilyn Monroe gera tantas possibilidades de estereótipos que é difícil chegar a uma conclusão: ela era mais romântica ou aventureira? Sozinha ou problemática? Diva ou menina do interior? Uma estrela ou uma mulher em busca do amor? Dani pensa por um minuto e solta, talvez em uma resposta que pudesse ter saído dos lábios de sua personagem: “Queria que lembrassem de mim como uma pessoa que fez as outras se emocionarem, sorrirem e gargalharem com o meu trabalho, com a minha obra e com a minha história. Ser lembrada de uma forma mais simplista do que glamourizada”.
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