*Por Rafael Moura
No dia em que Preta Gil comemorou 45 anos (dia 8), a cantora estreou o seu primeiro monólogo autobiográfico e musical ‘Mais Preta do que nunca!’, no Theatro Net Rio, em Copacabana, dirigido pelo ator Otávio Müller, pai de seu filho, Francisco Gil, que assume a direção musical, no melhor do estilo ‘stand up comedy’, em sintonia com músicas tocadas por uma banda de mulheres formada por Flávia Belchior (percussão e bateria), Taís Feijão, (violão) e Zinha Franco (baixo). O texto é de Daniela Ocampo e da artista. Essa é a segunda experiência de Preta no gênero teatral. Em 2006, ela encarnou o travesti Ivanildo Pereira/Linda Lee no musical ‘Um Homem Chamado Lee’, que comemorou os 40 anos de carreira de Rita Lee, no Teatro Folha, em São Paulo.
A peça teve ensaios abertos em Bangu, musicalizando seus mais de 20 anos de carreira e com muitas histórias. Preta, que é testemunha ocular dos bastidores do showbiz brasileiro, resolveu ‘contar porque você já é de casa’. E foi nesse clima, com uma plateia repleta de familiares e amigos que abriu sua ‘caixa preta’ para compartilhar memórias afetivas com o público. Müller deu as boas vindas, agradecendo a todos os presentes e a equipe; logo em seguida Preta rasga o ‘ventre de sua mãe’ e chega ao mundo como uma verdadeira filha do tropicalismo, dando um check in e mostrando que já era perigosa desde que era uma menininha ‘que nasceu bonita e gostosa’ exaltando as ‘Frenéticas’, além de sua paixão pelas Chacretes e Gretchen.
Ao som de Djavan, a aniversariante, extremamente emocionada confessa: “Eu sou uma mulher corajosa, porque estrear esse espetáculo no dia do meu aniversário não é fácil, mas eu vou conseguir, ainda mais diante da minha família e amigos”. Preta usava um look preto e um ‘All Star de cano alto rosa’ um dos grandes must have das adolescentes no Rio de Janeiro, assim como a mochila da Company e a bicicleta Caloi Ceci, rendendo ótimas histórias. A artista, com um bom humor único, tomou seu lugar de fala, e decidiu narrar a sua trajetória até o lançamento do álbum ‘Prêt-à-Porter’, 2003, que foi um escândalo ao posar nua na capa, recebendo muitos ataques com relação a gordofobia, atualmente considerados crime. Lembrando que o nu em capas de discos é sempre um assunto polêmico, visto os álbuns ‘Two Virgins, de John Lennon e Yoko Ono‘ e ‘Eletric Ladyland, de Jimi Hendrix‘ ambos de 1968 e os tropicalistas ‘Joia’, de Caetano Veloso e ‘Índia’, de Gal Costa.
A cantora levou a platéia as gargalhados ao contar sua primeira decepção amorosa, adolescente, quando ‘Não se reprimiu’ ao som dos Menudos, ficou “P da vida’, com o Dominó, suspirou com o ‘Olhar 43’, do RPM e gemou ao som de ‘Mais uma de amor’, da Blitz. Num determinado momento, a mulher expansiva e tão alegre que todos conhecem abriu seu coração, ficou com os olhos marejados e sem ar ao cantar ‘Drão’, de Gilberto Gil, falando do seu irmão Pedro Gil (1970 – 1990). “O nascimento do Pedro foi como um sol brilhando no céu cinza de Londres durante o exílio do meu pai durante a ditadura. Esse sol só voltou a brilhar com o nascimento do meu filho, Francisco, e virou um vulcão quando a Sol veio brilhar em minha vida”, revela Preta. A cantora disse ainda quem só voltou a cantar depois de sonhar com Pedro dizendo para ela ‘voltar para o trilho da sua vida’.
Entre uma música e outra, Preta de ‘peito aberto’ conta como começou a descobrir sua negritude. “Quando meu pai fez uma turnê do Refavela pela Bahia, no final dos anos 70 e início do 80, eu me identifiquei muito com as tribos indígenas de Porto Seguro. Foi naquele momento que percebi que eu era uma pessoa miscigenada”. Mas foi em julho de 2019, no Teatro Castro Alves, em Salvador que a cantora durante o projeto ‘Mulher com a Palavra’, em seu quarto ano de atividades, reunindo personalidades da cultura brasileira para debater temas inquietantes sobre os direitos das mulheres que ela pôde perceber a importância da atualização sobre os discursos de empoderamento e do politicamente correto. “Nesse evento, eu pude descobrir que não deveria usar mais termos como ‘mulata’ e ‘denegrir’. Participar desse encontro me deu a oportunidade de renascer como mulher. Eu saí de lá me sentindo ‘Mais Preta do que nunca’, explica.
O espetáculo se completa com sucesso de Gilberto Gil como ‘Ilê Ayê’ e ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’, ‘Asa Morena’, de Zizi Possi, ‘Óculos’, d’Os Paralamas do Sucesso e ‘Stereo’. No final Rodrigo Godoy entrou no palco com um bolo puxando o clássico ‘Parabéns pra você’, o que faz Preta interromper seu primeiro hit, ‘Sinais de Fogo’, um presente do compositor Antonio Villeroy. Um espetáculo delicioso para ver, cantar, sorrir e chorar.
Depois da apresentação no Theatro Net Rio, a cantora recebeu muitas dúzias de amigos – Carolina Ferraz, Carolina Dieckmann, Ana Carolina, Cris Viana, Samantha Schmütz, Bela Gil, Romulo Estrela, Paola Oliveira, Gominho, Tia Má, Matheus Mazzafera, Isabel Fillardis, Fernanda Gentil, Tiago Abravanel, Thaynara Og – para uma segunda comemoração no Dözen Art Bar, no Leblon. O local que é multifacetado, assim como, Preta, mescla arte, entretenimento e festas.
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