Especulada para cast do BBB23, Luiza Tomé volta à cena teatral, lembra depressão e tem projeto para dirigir cinema


A atriz volta aos palcos cariocas com ‘Nunca desista de seus sonhos’, que tem texto baseado no livro homônimo do médico psiquiatra Augusto Cury, e neste bate-papo fala sobre saúde mental, autoconhecimento e diz se pretende casar novamente. Com 38 anos de carreira, ela planeja fazer mais teatro, vivendo personagens que ainda não experimentou na TV, como uma ‘malvadona’. Além de dirigir: “Quero fazer o filme da história de uma amiga minha, a Claudia Carvalho. Ela morava no Ceará e estava à procura de um amor. Vivia em um lugar ainda muito machista, preconceituoso, e decidiu ir para a internet conhecer pessoas. Foi se conectando a homens ao redor do mundo e ia ao encontro deles, com todos os riscos e emoções. Ia ao encontro do desconhecido”

*Por Brunna Condini

Com estreia prevista para 16 de janeiro, o Big Brother Brasil 23 já vem agitando os espectadores ávidos por desvendarem o cast da nova atração. E nesta quarta-feira (21), a atriz Luiza Tomé figurou entre os nomes citados por um site dentro o hall para o elenco Camarote, ao lado de Cleo, Wanessa Camargo, Thiago Martins, Juan Paiva, Carol Nakamura Sérgio Loroza, entre outros. Será?

Mas antes de ter seu nome ligado ao reality, Luiza conversou com o site, direto do Teatro Vannucci, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde ensaiava ‘Nunca desista de seus sonhos’, que estreia em 6 de janeiro. O espetáculo marca seu retorno ao palcos cariocas após 12 anos, com texto baseado no livro homônimo do médico psiquiatra Augusto Cury. “Acho esse tipo de literatura muito importante. Afinal, nem todo mundo pode pagar por terapia. Esses livros, escritos por gente habilitada, realmente dá suporte para muita gente. Eu tive depressão há alguns anos, e coincidentemente, li muitos textos dele e ainda fazia análise. Entendi o quanto a gente se boicota. A peça fala da importância dos sonhos. Eles são fundamentais para a vida não ficar vazia, sem sentido”, diz Luiza, que interpreta uma psicóloga na trama que propõe uma viagem de autoconhecimento.

Fico muito atenta a mim, à minha saúde mental. O preço da liberdade é a eterna vigilância – Luiza Tomé, atriz

Luiza Tomé volta aos palcos cariocas em 'Nunca desista de seus sonhos', que estreia em 6 de janeiro, no Teatro Vannucci, na Gávea (Divulgação)

Luiza Tomé volta aos palcos cariocas em ‘Nunca desista de seus sonhos’, que estreia em 6 de janeiro, no Teatro Vannucci, na Gávea (Divulgação)

E arrisca opinar o motivo pelo qual muitas pessoas têm preconceito com o gênero. “Não entendo essa implicância. O Cury, por exemplo, é considerado o autor mais lido da década. São milhões de livros vendidos no mundo inteiro. As pessoas se encantam com a contribuição dele. Fico pensando se não é inveja da oposição (risos). Não entendo por que acham autoajuda uma literatura menor. É um preconceito que vem de todas as classes, mas principalmente dos intelectuais. Já me perguntaram se vou fazer uma peça de autoajuda, e pensei: olha que oportunidade estou tendo! Que bom! Quando tive depressão, compartilhei muitas coisas, ajudei pessoas falando sobre o meu processo. É preciso falar do assunto sem tabu”.

Depressão

“Quando decidi falar me senti acolhida, mas existe muito preconceito ainda em relação aos transtornos mentais. Lembro da minha mãe dizendo: ‘Não conte isso para a imprensa, podem  achar que você é louca’. Eu disse que falaria, porque se com isso eu ajudasse uma pessoa já valeria. Hoje sei que meu relato foi importante para muita gente, tenho depoimentos. Mas existe o estigma. Eu era atriz de TV, capa de revista, ganhava bem. Meu ex-marido, Adriano Facchini, não entendia o que eu estava passando e isso aumentava o meu sofrimento. Sei que para ele era difícil, mas me sentia sozinha. Meu filho, Bruno Facchini, que hoje tem 23 anos, tinha nove meses. Não tive depressão logo após o parto. E, em paralelo a isso, minha sogra, que eu amava muito, como uma segunda mãe, estava doente de um câncer avassalador. Suas filhas moravam nos Estados Unidos, então era o Adriano e eu aqui no Brasil. Assisti todo o processo dela de deterioração pela doença. Foi muito doloroso. Tive muitas crises de pânico nesta época, vi a morte bem de perto. Tinha certeza que eu ia morrer, só não sabia do quê. Definhei, mal comia”, recorda.

Além de atuar, ando querendo dirigir. Estou descobrindo um lado que estou amando. Já tenho até a história – Luiza Tomé, atriz

"Quando tive depressão, compartilhei muitas coisas, ajudei pessoas falando sobre o meu processo. É preciso falar do assunto sem tabu" (Reprodução/ Instagram)

“Quando tive depressão, compartilhei muitas coisas, ajudei pessoas falando sobre o meu processo. É preciso falar do assunto sem tabu” (Reprodução/ Instagram)

“Fiz todos os exames físicos e não encontraram nada. E aí fui procurar um psiquiatra, tomar remédio, fazer terapia. Tinha dia que fazia duas sessões, sentia uma dor muito profunda. Sempre achei que quem se matava era covarde, hoje entendo que alguém possa fazer isso em um surto insuportável de sofrimento. Então, qualquer um que eu ache que pode estar tendo sintomas de depressão perto de mim, aconselho a buscar ajuda, tratamento. Os sinais vão aparecendo, ficam evidentes”. E acrescenta: “Foi um ano de tratamento para ficar completamente bem. Desde então, fico muito atenta a mim, à minha saúde mental. O preço da liberdade é a eterna vigilância. Vou estar sempre alerta tanto aos sintomas de uma depressão, quanto de pânico, de muita ansiedade. Nossa mente pede atenção. E tem outra coisa que ajuda: nunca deixei de me exercitar, mas após esse episódio, não fico mesmo sem atividade física. Libera endorfina, fico muito bem. Começar o dia malhando é o melhor remédio para a cabeça e para o corpo”.

Até quero encontrar alguém, mas não para morar na mesma casa. Já fui casada duas vezes, minha liberdade é preciosa – Luiza Tomé, atriz

"O preço da liberdade é a eterna vigilância. Vou estar sempre alerta tanto aos sintomas de uma depressão, quanto de pânico, de muita ansiedade" (Foto: Anderson Macedo)

“O preço da liberdade é a eterna vigilância. Vou estar sempre alerta tanto aos sintomas de uma depressão, quanto de pânico, de muita ansiedade” (Foto: Anderson Macedo)

Assédio

A atriz já precisou lidar com pressões de toda ordem em sua trajetória, como no episódio em que contou ter sido muito assediada por um diretor na TV Globo, no passado. Segundo Luiza, ela chegou a perder oportunidades de trabalho por isso. “Já sofri alguns tipos de assédio. Antes não denunciávamos, porque sempre partiam do princípio de que a culpa era da mulher. Tive um professor de Direito Tributário que me reprovou em duas ocasiões e dizia: “Não sei por que você está fazendo prova, já sei qual vai ser sua nota. Mas se quiser melhorar, me procura”. Eu tinha 17, 18 anos. Na TV também sofri esse tipo de assédio de diretor, muito nova. Os caras mais velhos, um horror. Não queria nada disso para mim, não cedia. Ainda bem que hoje as mulheres falam abertamente sobre o assunto”.

O futuro

Aos 61 anos, sendo deles 38 de trajetória profissional, a atriz pretende dedicar a próxima década ao teatro. “Fiz televisão a vida toda, agora quero estar mais no palco. E com a minha idade, não dá para ficar fazendo TV e estar em cartaz ao mesmo tempo, costuma ser exaustivo. A ideia é fazer personagens que ainda não fiz na televisão, como uma malvadona, por exemplo. Estou pronta para essa personagem. Temos tudo dentro de nós”, diz.

“Além de atuar, ando querendo dirigir. Estou descobrindo um lado que estou amando. Já tenho até um projeto em mente. É a história de uma amiga minha, a Claudia Carvalho. Ela morava no Ceará e estava à procura de um amor. Vivia em um lugar ainda muito machista, preconceituoso, e decidiu ir para a internet conhecer pessoas. Foi se conectando homens ao redor do mundo e ia ao encontro deles, com todos os riscos e emoções. Ia ao encontro do desconhecido. Quero transformar essa história em filme”, anuncia Luiza.

"Além de atuar, ando querendo dirigir. Estou descobrindo um lado que estou amando" (Reprodução/ Instagram)

“Além de atuar, ando querendo dirigir. Estou descobrindo um lado que estou amando” (Reprodução/ Instagram)

A atriz, que já foi casada duas vezes, diz que está solteira. “Até quero encontrar alguém, embora esteja bem sozinha. Mas na mesma casa, mesma cama, não quero mais. Minha liberdade é preciosa. Meu prazer é ficar com os meus filhos. Quando eram pequenos, fiquei muito ausente por conta do trabalho. Então, de muitos anos para cá priorizo estar com eles. A Adriana, 18, está morando em Lisboa, Portugal, e também estimulo o Bruno, 23, e o Luigi, 18 (gêmeo de Adriana), a alçarem seus voos, embora ame todos comigo”