Espatáculo PAI traz enredo polêmico envolvendo a religião no qual o personagem principal acredita ser Jesus


A peça é a estreia da diretora Cássia Villasbôas que promete trazer uma produção que leve a reflexão sobre o amor e a fé

Em um mundo onde estamos acostumados a abrir o jornal e ler notícias sobre mortes e assassinatos, falar sobre fé e amor se torna uma necessidade. E foi pensando assim que surgiu a peça PAI, cujo tema abraça a religião através de uma analogia à história de Jesus de Nazaré. No texto, o personagem principal acredita ser tal personalidade do catolicismo e resolve viver os últimos momentos do filho de Deus, com 33 anos e que está prestes a falecer por julgamentos das pessoas. Durante toda o espetáculo, o louco, interpretado por Ivan Mendes, se encontra em um debate interno se deve se matar ou preservar sua vida fugindo. “Ele pensa que é Jesus e todos nós vamos pensar isso também. Ele morre no final da peça porque está seguindo a trajetória do Cristo, logo, é crucificado. Tem medo da dor física, por isso não sabe se faz o sacrifício ou não. Ele se questiona a todo o momento por que precisa fazer algo tão doloroso e cruel sendo que pregou o amor durante a vida e, por isso, foi chamado de louco. Os personagens que aparecem tentam ele a não enfrentar este destino e preservar a própria vida”, afirma a diretora da peça Cássia Villasbôas. Durante toda a indecisão, vários personagens bíblicos aparecem para aumentar a dúvida e convencê-lo a não se matar. “Projetamos Maria, Judas e Teresinha. A ideia é trazer estes personagens como algo da mente dele, já que é louco. O espetáculo é uma experiência, porque cada um entende a história de Jesus de uma forma diferente, ou seja, estamos abertos a interpretações”, conta. Dessa forma, as pessoas que aparecem são apenas projeção da mente dele e não familiares e amigos de verdade os quais imagina ser os antepassados da bíblia.

PAI é a estreia de Cássia Villasbôas na direção de uma peça (Foto: Nil Caniné)

A peça foi escrita por Adriana Falcão e Luiz Estelita Lins, uma dupla que já se reuniu em diversos trabalhos diferentes e, agora, se encontram novamente para encantar e desafiar o público. “O Luis é professor de yoga, filósofo e foi monge na Índia. Assim como eu, se interessa muito pelo estudo das religiões. A Adriana tem muita conexão com Jesus e é personificação do amor, para mim. Dessa união surgiu esta grande brincadeira que é Pai que, ao mesmo tempo, é um desafio, por ser um tema forte pois estamos falando de um mito”, informa Cássia.

Tocar no tema religião é muito complicado visto que pode ser interpretado de forma errada pelos religiosos. No entanto, a equipe não está preocupada com as críticas. Todos entendem e assumiram este desafio. “Esta peça busca falar de amor e não estamos criticando Jesus, pelo contrário. A ideia é levar a palavra dele através da arte. É apenas outro caminho para se dizer a mesma coisa que as religiões pregam. Se as pessoas entenderem a mensagem, vão conseguir aproveitar a arte. E se houver contestação, será maravilhoso. Além disso, é um risco visto que temos, comandando a prefeitura, um pastor. Eu adoraria que o Crivella viesse e assistisse para incentivar a arte que foi deixada de lado no Rio de Janeiro”, garante. O importante, neste espetáculo, é levar a palavra de Deus em um planeta cheio de conflitos. “Falamos do amor a si próprio e da esperança. Queremos deixar a mensagem de Deus, no final. Mostrando que ele faz tudo por nós, menos o que deveríamos fazer por nós mesmos. Vivemos em um mundo maravilhoso e está tudo aqui, precisamos somente nos conectar. A peça traz a reflexão sobre o universo e a esperança”, conclui.

Fazer uma peça como esta que fala sobre o amor e a religião foi muito importante para Cássia que cresceu no meio católico. “Fui criada na igreja e tenho muita fé, acredito em Deus. Respeitei muito todas as religiões durante a minha vida. Foi muito especial receber este texto e, para dirigir, usei minha intuição para construir. O diabo, por exemplo, não entra de vermelho, é o oposto disso. Ele é um cerdo o que poderia significar a tentação”, exemplifica sua visão de mundo.

Cássia Villasbôas é religiosa e cresceu com a fé católica (Foto: Nil Caniné)

O caminho teatral de Cássia é antigo. Ela subia aos palcos desde pequena, mas, com o tempo, resolveu se profissionalizar na produção dos espetáculos. Esta é a primeira aposta dela como diretora depois de desejar o posto por muito tempo. “Fiz teatro quando era nova, mas acabei indo pelo caminho da produção primeiro. Mas como sou muito inquieta, quis me dedicar a dirigir. Quando fui convidada para produzir esta peça, quis colocar para fora todas as minhas ideias e achei que ela precisava ser minha”, conta. Este não é o primeiro trabalho com a dupla de dramaturgos, ao todo foram quatro produções juntas de muito sucesso. Por isso, ambos acreditaram nela para guiar este projeto. “Me cerquei de pessoas maravilhosas e estou satisfeita com o trabalho final, que foi totalmente coletivo. Além disso, foi uma peça de grande autoconhecimento. Cada vez mais, a produtora tende a ficar mais de lado”, confessa. No final do ano, por exemplo, ela irá começar a captar patrocínio para mais um espetáculo no qual será mais uma vez diretora.

Apesar de PAI ser uma peça diferente e audaciosa, não houve nenhum tipo de patrocínio em sua produção. “Não recebemos patrocínio porque, desde que eu recebi o texto, tivemos apenas três meses para levantar o espetáculo. Mas já estou recebendo mensagens de pessoas interessadas neste projeto. Já está rolando um burburinho. Tenho certeza que vamos conseguir colher muitos frutos”, comemora.