*Por Jeff Lessa
Estudantes sequestram um professor para exigir melhorias no ensino e no ambiente da escola. O “clima” dessa história tem um quê da violência estilizada de “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick. É assim que o diretor e ator Wolf Maya descreve o musical “Avesso”, peça montada por alunos de sua escola de teatro em São Paulo que abre a primeira edição da Mostra de Teatro das Escolas (MOTE) nesta sexta-feira (5), no Teatro Nathalia Timberg, na Barra.
A mostra pretende oferecer um vasto panorama do que está sendo produzido pelos jovens envolvidos com as artes cênicas. Esta primeira edição estará focada no Rio de Janeiro. De sexta a domingo, entre 5 e 28 de abril, serão apresentadas duas produções por noite no Nathalia Timberg e na Sala Nathalinha (anexo do teatro com 80 lugares). Ao todo, mais de 200 artistas, todos alunos dos cursos de formação teatral mais conhecidos da cidade, vão se apresentar. Participam da mostra a Escola de Teatro Martins Penna, a UniRio, o Tablado, o Treinamento para Atores da Casa de Cultura Laura Alvim e as Escolas de Atores Wolf Maya (unidades RJ e SP). Melhor: a entrada é gratuita.
– Estou muito entusiasmado. Chamo o evento de “encontro de resistências”. Estamos vivendo um momento horrível para a cultura em nosso país e o ministro colombiano não faz nada pelo setor – lamenta Wolf Maya. – Temos escolas com história. Então, não fiz curadoria, cada uma escolheu um espetáculo de seu repertório. Quero dar a oportunidade aos futuros atores e ao público, claro, de saber o que está acontecendo nos locais de formação de artistas de teatro. Quero que eles troquem ideias e conheçam os futuros colegas de profissão, com quem vão esbarrar ao longo da vida.
Um importante e tradicional centro de formação profissional carioca, porém, acabou ficando de fora:
– A CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) não entrou dessa vez. Eles não tinham um espetáculo pronto para apresentar, infelizmente. Mas vamos incluir a casa na próxima edição da MOTE, que pretendo realizar em São Paulo no segundo semestre deste ano.
Maya explica que, além de os estudantes apresentarem seus trabalhos para um público que dificilmente os veria nas escolas, eles poderão, também, experimentar a vivência dos bastidores de um teatro “de verdade” por dentro.
– Eles vão ter a chance de trabalhar em um teatro com urdimento, fosso, elevadores, camarins. Teatro profissional, como as escolas não conseguem oferecer em suas sedes – conta. Terão workshops com produtores de elenco da Globo, da Record e da Conspiração, além de produtores de cinema. E ainda um seminário sobre o mercado de trabalho para atores. Tudo para aprenderem a conviver com personalidades diferentes – ressalta.
Sobre a vida além-MOTE, Maya confirma o que tem dito em entrevistas ultimamente: não quer mais fazer TV aberta. Cansou. Está em uma nova fase. E garante que a separação foi amigável:
– A TV aberta absorve demais. Mas tenho imenso carinho pela Globo, onde trabalhei por anos. Até hoje eles me mandam atores para treinar. Novela não dá mais, são dez meses, um ano da sua vida só fazendo aquilo. Estou no segundo ato, já passei pela construção, agora foco nos resultados – brinca. – Passei 30 anos na televisão. Fiz 32 novelas, seis seriados. Ganhei fama e dinheiro, agora quero novos projetos, novas histórias.
Entre esses projetos e histórias estão dois trabalhos para o cinema e um seriado a ser produzido no Brasil para ser exibido no exterior. A tentativa de criar uma história em Portugal, como sabemos, acabou sendo abortada:
– Pois é, eu queria trabalhar com a minha equipe, se não fosse assim não haveria condição de ajudar a mudar as novelas portuguesas. Eles não aceitaram e eu me recusei. Eles queriam só eu, mas não dava.
Wolf Maya conta que tem aprendido muito com os jovens e com o vigor político. Ele aprecia sobretudo as novidades nas formas de comunicação que eles criam.
– Os jovens estão se libertando da TV aberta. Estão fazendo trabalhos na internet, no teatro, projetos individuais. Hoje há possibilidades de comunicação mais voláteis e rápidas, ninguém mais é escravo da televisão. Acho ótimo tudo isso. Em vez de esperar ou jogar pedra, acredito em resistência. Sempre. Só assim a arte sobrevive. Só quando nos unimos e nos damos as mãos – conclui.
Serviço
Teatro Nathalia Timberg / Sala Nathalinha
Freeway Center: Av. das Américas 2.000, Barra – 2442-5188
Sex a dom, a partir das 19h (Teatro Nathalia Timberg) e a partir das 20h30 (Sala Natalinha)
5 a 28 de abril
Grátis
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