Com o dia dos namorados chegando, o Site HT resolveu invadir o camarim da comédia romântica ‘’Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?’’ em cartaz no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, para conversar um pouquinho com os atores Yuri Ribeiro, que também assina o texto, Paula Burlamaqui e com a produtora do espetáculo Cláudia Wildberger sobre a peça, relacionamentos e, claro, o amor!
Site Heloisa Tolipan: Você e Cláudia estão juntos há quase seis anos. Por que decidiu contar a história de vocês nesse momento como uma produção teatral?
Yuri Ribeiro: Na verdade, a decisão de contar essa história tem uns 3 anos. No início do relacionamento, nós tínhamos umas questões que eram nossas, como ‘’Ah, como vamos contar para a sociedade?’’ ou ‘’como a Claudia vai contar pro pai dela?’’, medos que na época significavam alguma coisa para nós. Quando ela falou para o pai dela, ele disse ‘’Compra mais banana porque menino novo come muito’’, tipo ele não se preocupou nem um pouco. Essa preocupação era muito mais nossa no início. Só que depois começaram a surgir alguns comentários preconceituosos aqui e ali, e num dado momento fomos jantar juntos e na hora de pagar a conta, eu peguei meu cartão e entreguei na mão do garçom. Quando ele colocou na máquina, ele disse ‘’débito ou crédito, senhora?’’. Não sei se ele fez isso por ato falho ou por maldade mesmo, mas o fato foi que ali coçou um bichinho em mim que me fez perceber que precisávamos falar sobre este assunto que é muito importante. Além disso, cada vez fomos vendo casais com diferença de idade como a gente, então, tivemos a necessidade de falar sobre essa diferença, mas fizemos questão de não abordar só isso. A gente queria destacar a importância do amor sem limite, de simplesmente amar e não se preocupar com o que vão dizer.
HT: Na peça, apesar de ser baseada na história do casal, você fez questão de colocar um víeis ficcional no roteiro, separando um pouco o real dos personagens. O que fez você tomar essa decisão criativa?
YR: A dramaturgia, como o teatro, pede conflitos mais profundos. O fato é que a nossa vida sempre foi muito boa, os conflitos que poderiam ser grandiosos pra gente passavam batidos. Sempre foi muito ‘’Ah, está legal, você tem a sua opinião, tudo bem’’, os filhos dela me respeitam, me receberam bem, não tive problemas com eles, meus pais também não tiveram problema nenhuma. Tiveram alguns comentários, claro, mas uma peça de teatro pede mais conflitos, uma tinta mais carregada principalmente pelo fato de ser comédia também. A gente está usando nossa história como plano de fundo para falar sobre amor, pra que todas as pessoas se sintam de alguma forma representadas em algum momento por essa história. Então, por isso que não é uma biografia.
Cláudia Wildberger: A gente se deu a liberdade de fazer algo livremente inspirado até pra poder colocar essa tinta que o Yuri disse. No início, nós tivemos até um pouco de dificuldade para fazer essa separação porque pensávamos ‘’Nossa, a gente vai falar uma coisa que não foi verdade… o que vão pensar de nós’’.
HT: Mesmo não sendo uma reprodução 100% biográfica, você percebe semelhanças entre você e o Daniel, personagem que é baseado em você?
YR: Tem muita coisa minha no Daniel. O jeito atrapalhadinho de ser, o modo inocente com o qual ele olha para o mundo. Acho que isso tudo é meu um pouco, afinal, eu escrevi pensando em mim.
HT: A relação entre você e Cláudia já é linda, e imagino que cheia de situações hilárias. O carinho e respeito que vocês tem um pelo outro é palpável. Mas e entre Andrea e Daniel? O que podemos esperar da relação entre os dois?
YR: Todas que um casal pode viver. É uma comédia, tem humor o tempo todo, mas também tem o drama. Tem momento pra rir, pra chorar, pra questionar se a pessoa que está do nosso lado é a ideal, tem momento pra olhar e confirmar o amor.
CW: E se não for a pessoa certa vamos tentar, né? (risos)
YR: Tem briga do casal, tem tudo. Qualquer tipo de casal se identifica em algum momento com essa peça porque a gente briga por motivos banais, a gente se diverte pelos motivos mais simples, a gente ama porque ama. É simples.
HT: Paula, na peça você incorpora a Andrea, personagem inspirada na Cláudia. O que te atraiu nessa personagem a ponto de você dizer sim para o projeto?
Paula Burlamaqui: O tema me interessou demais, porque quando você vê um coroa com uma garotinha todo mundo acha normal, eles podem tudo, né? A gente não pode nada. Agora você vê uma mulher mais velha com um novinho, já falam ‘’Ih ala coroa papa anjo’’, então eu achei interessante no texto o fato dele falar justamente o contrário. É como essa mulher não teve medo e resolveu ser feliz independente do que os outros pensam. Tem uma frase muito cruel na peça, que é ‘’Mamãe, quando você estiver com 60 anos, sabe o que vai acontecer? Eu vou te dizer: ele vai te trocar por uma novinha’’. Ela apenas responde dizendo que não está interessada. E eu fiquei pensando no caso da Cláudia com o Yuri. Mesmo que ele troque ela por uma novinha, ela já vai estar sendo feliz há 5 anos. Se ela não tivesse ficado com ele, talvez esses 5 não teriam sido tão felizes para ela, não estaria tão feliz como está hoje, fazendo coisas com o companheiro de vida mesmo com toda essa diferença de idade. Ela se permitiu viver. Esse texto me emociona todos os dias em cena.
HT: No espetáculo, uma personagem que é baseada em alguém que você tem uma certa proximidade no dia a dia. Como está sendo essa experiência?
PB: Eu tive contato com a Cláudia durante ensaios, mas não a conhecia realmente. Ela me deixou bem livre para fazer do jeito que eu achava que deveria ser feito. Agora, o que eu acho mais louco, é que as amigas da Cláudia que vieram na estreia, falaram ‘’Que coisa mais louca! Você é igual a Cláudia, você está fazendo igual a ela’’, eu falo ‘’Nossa, que maravilhoso!’’.
CW: Nós nos conhecíamos de ‘oi oi oi’’ porque trabalhamos no mesmo meio, mas nunca tivemos uma relação anterior para que a gente pudesse falar ‘’Ah, a Paula está acostumada com os trejeitos da Cláudia”. Nem quando a gente conviveu por dois meses durante os ensaios a gente passava algum tempo juntas porque o Farjalla tem um jeito peculiar de dirigir então eu não assistia. A surpresa das pessoas ao dizerem que a Paula está muito parecida, de perguntarem se ela fez algum laboratório comigo, é muito bacana porque não foi nem um pouco proposital e de alguma forma está ali, retratado com carinho.
HT: Uma coisa é ver a história no papel, outra é vê-la sendo interpretada no palco para milhares de pessoas toda semana. Qual a sensação de ver a sua história sendo contada no palco?
CW: Eu já passei por várias emoções. A peça é o nosso projeto de vida, era tudo o que a gente fazia além das coisas do dia a dia. Durante o último mês de ensaio, eu fiquei ‘’Gente, jura? Eu estou colocando a bunda na janela’’, porque o Yuri é ator, ele está super acostumado com isso, mas eu escolhi ser empresária artística, uma profissão que me deixa exatamente nos bastidores, o que é muito confortável para mim. Isso me coloca sob os holofotes, que não era a minha escolha inicial, mas eu acho que é importante falar sobre isso e tudo isso vale a pena no final.
HT: Tem alguma cena em específico que tocam vocês de alguma forma? Pode dar spoiler, não tem problema. (risos)
PB: Tem várias cenas. Eu me acabo de chorar todos os dias.
YR: Tem um término de relacionamento em um momento que me toca muito. A despedida desses dois por um motivo que não dava para eles continuarem. Tudo externo dava para eles superarem e um conflito muito próximo desse casal não dava para superar. Tudo acaba…
CW: Chega de dar spoiler. Ele vai se emocionando e conta tudo… hahaha!
HT: Paula, assim como Cláudia, você já teve relacionamentos com diferença de idade. Seu primeiro marido, Jorge Guimarães, era 20 anos mais velho do que você. Hoje, Hoje, seu atual namorado, Edu Reyes, é 13 anos mais novo. Mas nem todo mundo se permite viver essas experiências como você e Cláudia. Qual a mensagem que a peça transmite sobre esses relacionamentos vistos como não convencionais?
PB: Às vezes, eu me sinto burra, porque eu mesma já deixei de viver um amor assim e eu não deixaria mais. Então, acho que a mensagem desse texto é muito linda, porque diz que o amor não tem idade, não tem cor, não tem sexo. O amor quando acontece, o que é muito raro de acontecer, você tem que viver.
HT: Nesse ano, você completou 51 anos. Como você acha que as mulheres da sua faixa etária vão receber essa história?
PB: Todas vão correr atrás dos namorados que elas deixaram pra trás. Eu mesma mandei várias mensagens, me dei mal. (risos) Mas alguém vai conseguir.
HT: O título da peça carrega um significado muito forte, o impacto da mensagem que vocês querem passar está logo nela. Como surgiu essa ideia? Era alguma frase do roteiro?
YR: O título original era débito ou crédito, até porque foi a situação que fez nascer tudo isso entre nós. Eu agradeço a esse garçom que seja lá por qual motivo falou aquela frase pra mim.
PB: Você devia chamar ele pra assistir.
YR: Eu não conheço ele, mas graças a deus ele desapareceu. (risos) Mas de qualquer forma eu agradeço. Enfim, quando o Farjalla entrou na nossa vida ele criticou o título original porque era muito burocrático, não remetia ao amor. Como é uma comedia romântica, apesar de débito ou crédito ser tudo na vida, essa frase não remetia a uma comedia romântica, então ele sugeriu essa frase.
HT: E qual o significado desse novo título para vocês e para o amor?
YR: O título representa o questionamento dela (Andrea) com relação a esse amor. Ela o fala, inclusive, em um momento da peça para um amigo dela ‘’Eu vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?’’.
CW: Não é nem um questionamento, é uma afirmação.
YR: Exato. É mais um questionamento para a sociedade. Eu vou viver esse amor. A Cláudia até tatuou a frase.
CW: Sim, só que eu coloquei o nunca embaixo da frase pro universo não achar que eu vou deixar de ser feliz!
Anotamos o recado, Cláudia! E para quem quer amar um pouquinho no dia dos namorados, o espetáculo está em cartaz às sextas e sábados, 21h, e aos domingos às 20h, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea.
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