Com jeito e voz de princesa dentro e fora dos palcos, Bianca Tadini interpreta a protagonista Ella, no musical “Cinderella“. Em cartaz atualmente em São Paulo, mas com chegada à cidade carioca no fim deste mês, a atriz conversou com o HT sobre a atual experiência, que foi uma surpresa para a carreira dela. A gente explica: entre mais de 500 artistas inscritas para o papel, Bianca foi aprovada sem nem fazer teste ao vivo. “Eu mandei meu material mas não consegui participar das audições, porque estava viajando com outro espetáculo, o ‘Master Class’, junto da Christiane Torloni. Eu achei que não fosse rolar, porque não pude fazer ao vivo. Quando recebi o telefonema da Renata (Borges), nossa produtora, eu quase enfartei. Eu não estava esperando, foi uma grande surpresa e um presente maravilhoso. Fiquei super emocionada e feliz. É um filme e uma história que eu amo desde pequena. Eu acho que toda menina tem esse sonho de viver uma princesa, né?”, relembrou Bianca que ensaiou por quase dois meses com apenas uma folga por semana.
Sob direção de Charles Möeller e Claudio Botelho, Bianca Tadini contou que o espetáculo não é uma cópia exata da história da Disney. Segundo ela, ao invés das músicas originais do filme dos anos 50, o musical em cartaz conta a história a partir das canções de Rodgers e Hammerstein, que são os grandes compositores da Broadway, como destacou a atriz. “A história é um pouquinho diferente da que todo mundo está acostumado. Mas eu acho que isso é o grande barato. Tem uns elementos novos que as pessoas ficam surpresas, mas que no final adoram” contou a protagonista do espetáculo que tem elementos tecnológicos projetados para compor as cenas.
Já a Cinderella de Bianca, assim como diversas outras princesas da atualidade, não é tão mocinha indefesa. Como nos disse, a personagem é mais forte e não fica à espera das atitudes do príncipe encantado. Ela vai lá e faz! “Ela é mais proativa. Além de ser uma princesa com o coração bom, que perdoa e aceita a madrasta e as irmãs do jeito que elas são, ela tem essa força e perseverança de querer mudar as coisas. Não tem pena dela mesma e sabe que a atual condição pode mudar a qualquer momento. A Ella, no decorrer da história, acaba percebendo que, de alguma forma, a vida das pessoas que moram na mesma aldeia não está legal. E ela decide mudar isso. Ao conhecer o príncipe sem querer, ela resolve que vai contar para ele que existem algumas injustiças no reino e que podem mudar tudo isso juntos. O resto da história tem muitos elementos do conto original ao qual já estamos acostumados”, explicou.
Vestidos da época, perucas, maquiagem… Tudo é um passo a mais para a composição da personagem, segundo Bianca. Para a protagonista, o figurino assinado por Carol Lobato e o visagismo de Beto Carramanhos são muito importantes para transportar o ator para o mundo de conto de fadas da peça. “Nós estamos falando de outra época e outro estilo, que são bem diferentes da nossa realidade. Eu acho que toda a parte da preparação funciona como um ritual para mim. É o momento que, aos poucos, você vai deixando de ser quem você é para entrar no personagem. E, quando chega à coxia, você já está pronta para entrar em cena, focado e no clima para contar essa história”, disse ela, que começa a preparação cerca de duas horas antes de cada espetáculo.
E por falar em rotin, Bianca contou que ser a Cinderella é bem corrido. A atriz, que tem diversos papéis em musicais acumulados na carreira, afirmou que a dificuldade do gênero teatral não é conciliar canto, dança e interpretação. E, sim, administrar troca de figurino, apresentações duplas e as vontades fisiológicas – afinal, quem disse que a Cinderella tem tempo de ir ao banheiro no meio da peça? “Eu acho que a parte técnica de cantar, dançar e estar em cena, se você estudou, é tranquilo. Não é fácil, mas você está pronto e consegue lidar de forma bacana. O puxado é que, em um espetáculo como esse, é quase uma mini-maratona. Tem toda uma questão de preparo físico necessária. Você precisa estar muito bem de saúde, comer bem e descansar para aguentar”, explicou. Ah, e morando na terra da garoa, Bianca contou que a situação só piora para quem trabalha com a voz. “São Paulo é péssimo para cantor. Tem dia que a cidade está com sol e 27º pela manhã e chuva e 13º à noite. É alergia, resfriado, sinusite. Haja saúde para cantar em São Paulo”, disse ela que confessou que tinha vergonha de cantar para os outros quando mais nova por não saber se “era boa o suficiente”.
Bianca, que já fez parte do elenco de musicais como “Rent” e “Aí Vem o Dilúvio”, e interpretou Dorothy, em “O Mágico de Oz”, disse que ainda sonha com outros papéis no palco. Como nos contou, a atriz ainda gostaria de interpretar Julie, em “Carousel” e Nellie, em “South Pacific”, ambas com canções de Rodgers e Hammerstein. “Eu sou muito fã dessa dupla. Para mim, eles são os grandes nomes dentro dos quesitos música e texto. Eles são gênios do gênero. Eu amo esse estilo mais clássico de musical, é o que me toca mais”, afirmou Bianca, que é apaixonada pela época de ouro dos espetáculos musicais.
Além de atriz nos palcos, Bianca Tadini também empresta a voz para personagens de desenhos e séries. Segundo a artista, o mercado da dublagem está crescendo muito para profissionais que também saibam cantar. E isso, é com ela mesma. “Comecei com esse trabalho há um tempo por indicação de um amigo meu. E não tem como não se divertir, né? A gente assiste programas gostosos e divertidos, faz vozes que, muitas vezes, é bem diferente da sua. Fora que que eu posso estar exausta e trabalhar de pijama”, brincou ela que destacou as dublagens de “Ursinhos Carinhosos” e “My Little Poney” por serem desenhos que via quando criança.
A atriz, que é formada por academias especializadas norte-americanas e já fez cursos com grandes nomes internacionais do meio musical, reconhece que a produção brasileira está cada vez melhor. No entanto, segundo ela, para chegarmos ao nível cultural dos principais países, temos que mudar a base. “Acho que o Brasil cresceu muito. Agora, somos um dos grandes produtores de espetáculo. Mas, acho que ainda temos muito o que aprender, principalmente no quesito música e teatro nas escolas. Os americanos, por exemplo, têm vários artistas de 8,9 anos cantando igual a Adele porque tem, desde cedo, aulas de teatro, música e dança na escola. Faz parte da educação deles. O que falta para o Brasil ficar no mesmo nível de grandes países culturalmente é termos ensino teatral desde cedo nas escolas. No entanto, em nível de produção, talento das pessoas, profissionalismo e produção, eu acho que estamos muito evoluídos”, finalizou.
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