Sabe aquele famoso ditado que alguém “chegou chegando”? Pois bem, esse dito popular super se aplica a Luan Vieira, o estreante das telinhas que terá o seu primeiro papel em novelas na trama das 23h da Globo, “Liberdade Liberdade”. O jovem de 24 anos, que é ator de teatro desde os 15, será Otto, um amigo de André (Caio Blat) um tanto quanto misterioso que chegará a Vila Rica para agitar a relação do fidalgo com Tolentino (Ricardo Pereira). “O Otto chega em um momento que a relação entre o André e Tolentino está conturbada e, em função disso, ele desperta o ciúme do coronel, que não sabe o que pensar dessa amizade e é induzido a achar que existe uma relação mais amorosa, que não fica muito claro. Porém, essa situação não fica muito evidente nem para os personagens nem para o público. E aí, a paixão entre o Tolentino e o André vai arder ainda mais com a chegada do Otto”, contou.
Embora esse seja o primeiro trabalho de Luan nas telinhas, engana-se quem pensa que ele teve inúmeras semanas para se preparar para o personagem. Mesmo “Liberdade Liberdade” sendo uma novela de época, o que demandaria ainda mais laboratório do ator, Luan disse ao HT que já chegou aos Estúdios Globo para gravar. “Eu já tinha feito meu cadastro na tevê, mas eu nem estava esperando pelo convite. Um dia, a produtora de elenco (Marcia Andrade) ligou para a minha mãe e pediu ao meu irmão que me mandasse uma mensagem falando que estavam me procurando. Quando eu retornei, a Marcia pediu para que eu não cortasse o cabelo porque ela tinha um personagem para mim. E, na semana seguinte, eu já estava na Globo gravando. Nem passei por teste nem nada”, relembrou o ator que, no primeiro momento, achou que só faria uma breve participação na trama de Mario Teixeira. “Eu nem imaginava, para mim seria só uma participação pequena, já que eu nunca tinha feito nenhum trabalho para a televisão. Eu não sabia que seria um personagem que ia ganhar essa importância e repercussão toda. Eu não tinha noção do tamanho desse papel, achei que seria algo menor”, confessou. Que nada, Luan. O Otto vai chegar com tudo!
Já que o personagem foi uma surpresa para o estreante nas telinhas, o HT foi atrás de saber o que ele achou de estar inserido nesse contexto de relação homossexual em pleno século XIX. E, de cara, Luan Vieira já disse que não teve receio nem preocupação nenhuma com a repercussão. Pelo contrário. O jovem contou que está muito contente de poder abordar essa questão. “Eu estava, inclusive, tomado por um sentimento de revolta muito grande por causa da morte do Diego (Vieira Machado), aluno da UFRJ que foi assassinado por um crime de ódio. Eu estava embalado por essa sensação quando eu recebi o convite. E para mim, falar disso, abordar essa questão e tentar, de alguma maneira, mudar essa visão que é culturalmente construída, é uma honra. Eu me sinto muito lisonjeado por poder discursar sobre esse assunto, mesmo não sendo de uma forma direta”, declarou o estudante de Atuação Cênica da UniRio.
E tem mais! Sobre a primeira cena de amor homossexual da televisão aberta brasileira, que foi protagonizada pelos personagens de Caio Blat e Ricardo Pereira, Luan Vieira disse que “já tinha até passado da hora”. O ator, que vai entrar para movimentar ainda mais essa história de amor entre dois homens, que era considerada crime na época do folhetim, ainda destacou a semelhança com a atual realidade do século XXI. “A novela se passa no início do século XIX e as questões daquela época são as mesmas de agora, só que sob uma outra superfície. Eu acho que já estava na hora de a gente ter na televisão, que é um veículo super importante e que atinge muita gente, esse rompimento de paradigmas”, opinou.
Bom, já percebemos que, apesar de iniciante das telinhas, Luan já estreou com um papel marcante. Mas ao HT, o jovem de 24 anos admitiu que não foi tão fácil assim adaptar a interpretação do teatro, na qual ele já estava acostumado, com a do novo formato. “Vou confessar a você que eu achava que era muito mais tranquilo do que realmente é. A televisão tem um outro nicho e uma outra forma de trabalhar. A tv tem um outro tempo e exige do ator de uma outra forma. Nós temos que ser muito sutis. O que eu achava que estava adequado em comparação ao teatro, eu tive que reduzir muito mais para a televisão. É muito diferente, muito mesmo. No começo eu estranhei porque eu nunca tinha feito. Mas depois, eu fui observando e me acostumando. Além da adequação mais minimalista, outra dificuldade foi me acostumar com um observador constante, que é a câmera. Me adaptar à presença dela é muito difícil para quem não tem experiência, porque o ator precisa conter a energia e ficar mais sutil até que a realidade. Mas, enquanto eu estiver gravando, eu vou estar estudando para poder sempre melhorar”, contou.
Realmente, Luan Vieira é uma daquelas pessoas picadas pelo bichinho da dramaturgia. O ator, que é da cidade de Três Rios, no interior do estado do Rio de Janeiro com menos de 80 mil habitantes, nos contou que sempre soube que a arte seria o seu destino. “Desde muito pequeno eu falava com os meus amigos que não tinha outra profissão que eu quisesse fazer que não fosse teatro. Lá na minha cidade tem um projeto de cinema que eu fiz e depois fui para a oficina de teatro, que é a minha atual companhia. A gente ensaiava em Três Rios e apresentava fora da cidade. Então, nós sempre levamos os espetáculos para outros lugares. Mas, a gente aproveitou que a nossa cidade é pequena, para ter mais liberdade para ensaiar e poder exportar o nosso trabalho para as metrópoles”, relembrou ele que está na labuta artística desde os 15 anos.
Porém, engana-se quem pensar que viver do sonho é uma tarefa fácil. Apesar de nunca ter passado por grandes problemas, Luan disse que enfrentou dificuldades financeiras ao se mudar para o Rio de Janeiro recentemente. Inclusive, o jovem ator precisou se desfazer de alguns pertences para poder pagar as suas contas na urbe olímpica. “A questão financeira para mim nunca tinha sido o problema. Eu já havia morado sozinho em uma outra cidade grande, que foi Juiz de Fora, mas não tinha passado aperto como aqui. Porém, cerca de uma semana antes de eu ser convidado para a novela, eu lembro que estava vendendo brigadeiro, meus óculos e um relógio para poder viajar para ensaiar e pagar as contas aqui. Então, a minha maior dificuldade no Rio de Janeiro, com muita clareza, foi o dinheiro”, contou.
É, fácil geralmente não é mesmo. Mas Luan, que apesar da pouca idade já vem construindo uma carreira estrelada no teatro, e agora na televisão, disse que, com todos os perrengues que a vida lhe proporcionou, aprendeu que o ser humano é facilmente adaptável às diferentes condições oferecidas. “O aprendizado mais básico que eu posso te falar é que eu entendi na pele que o ser humano é muito adaptável. E isso vale tanto para a profissão quanto para a vida social e pessoal. E essa noção de que existe essa adaptação te dá um pouco de coragem para encarar qualquer obstáculo que apareça”, completou.
Papo vai, papo vem, e o HT quis saber o que Luan Vieira tem de sonhos para os próximos anos. Além de, obviamente, se manter na profissão escolhida desde criança, o ator nos contou que quer explorar novos ares. Ou melhor, novas telas. “Meu plano de carreira ideal é poder transitar entre as três áreas que eu acho que me deixariam bem feliz: teatro, televisão e cinema. São três linguagens que eu gostaria de trabalhar e que tem propostas diferentes. Na televisão eu estou nesse processo de adaptação, aprendendo mais e mais. No teatro eu já tenho um pouco mais de noção e proximidade. Mas eu também sou apaixonado por cinema. Eu sou louco para trabalhar nessa área há muito tempo. É o meu desejo para a minha carreira, embora eu saiba que é difícil demais chegar lá e ainda conseguir se manter”, idealizou.
Enquanto o futuro não chega, foquemos no presente. Além da tão aguardada estreia de Otto em “Liberdade Liberdade”, Luan Vieira volta aos palcos com a peça “Alice Mandou um Beijo”. A montagem, que, inclusive, já foi indicada ao prêmio Cesgranrio de melhor texto, ficará em cartaz no Teatro Glaucio Gil, em Copacabana, a partir de setembro. “A peça começa com a morte de uma integrante da família, que era a única que conseguia se relacionar com o meu personagem que é autista. O conflito começa com a morte dessa mulher. Ela deixa o marido em uma casa com duas mulheres, que são as irmãs dela, uma criança autista e o pai. Como essa mulher era a responsável pelo funcionamento da casa, após a morte dela tudo começa a se desestabilizar e o meu personagem não tem mais um ponto de apoio e comunicação”, contou um pouquinho sobre o espetáculo o ator Luan Vieira.
Artigos relacionados