Diretor da comédia “Nordestinos”, Tuca Andrada lembra que sofreu preconceito e fala de Dilma Rousseff: “Nunca acreditei nela”

“Como uma parcela da população que trouxe uma contribuição cultural fundamental para a formação desse país pode ser chamado de atrasada?”. Essa é a pergunta que Tuca Andrada, recifense vivendo no Rio de Janeiro há 30 anos, devolveu a HT quando questionado sobre o preconceito dos chamados “habitantes do Sul” com seu povo nordestino. O momento para a elucidação é, segundo ele, “propício,  já que tanto ódio, antes camuflado, vem à tona num país que passa por um momento crítico e fundamental para sua história”. Palavras de quem votou em Luiz Inácio Lula da Silva. Já com Dilma Rousseff a história é outra. “Nunca votei, nunca acreditei nela”, revelou.

Nada que anule os feitos da Era PT, em sua opinião. “É no mínimo má fé achar que esses anos de governo petista não trouxeram avanços na área social. O problema que esses avanços não se sustentam e, agora, estamos no meio de uma crise política e econômica ‘nunca antes vista na historia desse país'”, critica utilizando uma frase que Lula lançava mão sempre que fazia um pronunciamento televisivo. Pelo sim da eficácia dos mandatos de esquerda ou não, o fato é que o número de migrantes do Nordeste para o Sudeste aumentou, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E foi lendo cartas com histórias desses retirantes que o pernambucano Alexandre Lino idealizou o projeto “Nordestinos”. Dele, faz parte uma peça de teatro com dramaturgia de Walter Daguerre e direção de Tuca Andrada.

Em cartaz no Teatro SESI do Centro do Rio de Janeiro até o dia 28 de novembro, o espetáculo é composto exclusivamente por atores nordestinos que vivem e trabalham no Rio: além de Alexandre Lino, Erlene Melo, o cearense Paulo Roque e a paraibana Rose Germano. Na ribalta, eles contam causos que têm muito da realidade. Tuca que o diga. “Tive acesso a todas as cartas. Elas têm muitas coisas em comum: a saudade, o medo da terra nova, o preconceito sofrido e a solidão”, enumerou em entrevista a HT. Também ator de novelas, ele não acredita “que o conteúdo (das correspondências) tenha alterado a maneira de dirigir”, mas sabe que seu modus operandi é diferente pelo fato de já ter trabalhado do outro lado.

Tuca e o elenco de “Nordestinos” (Foto: Janderson Pires)

“Muda no aspecto de que o diretor sendo ator já passou por essa experiência e vê a fragilidade dos atores, a insegurança, o medo, a exposição. O diretor/ator se torna mais cuidadoso com o que fala, sabe que estar em cima de um palco é algo dificílimo e reconhece que as únicas peças fundamentais para o acontecimento teatral são o ator e o público”, comparou, fazendo questão de frisar: “Com todo o respeito aos outros profissionais da cena”. Para Tuca, as histórias contadas em “Nordestinos” são como sua história, “de vitória, de luta”. “No início, foi difícil como qualquer começo. Vim atrás de um sonho, porque quis e não por que fui obrigado. Sofri preconceito, sim, e a minha adaptação foi bem lenta. Mas, hoje não troco o Rio de Janeiro por nenhuma cidade do mundo”, contou ele que sempre volta ao Nordeste quando pode, por saudade “da família e dos amigos”. Do início ao fim, o discurso de um legítimo filho do sertão.

Serviço

“Nordestinos”