‘Detesto coisas anotadas e planejadas. Não tenho princípios’, diz Amir Haddad, que abre palestras no Tablado


Aos 82 anos, o diretor, fundador dos grupos Oficina, Tá na Rua e A Comunidade, fala sobre suas experiências na vida

*Por Jeff Lessa

Hoje à noite (2 de agosto), Amir Haddad, o diretor de teatro e símbolo do que se fez de melhor em termos de arte alternativa no Brasil, abre o projeto Teatro Tônico, ciclo de palestras sobre a história do teatro ocidental promovido pelo Tablado. Haddad deve falar sobre o que era produzido no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Aos 82 anos, o mineiro de Guaxupé é considerado um tesouro nacional. Sua obra inclui muito teatro de rua, que dirige com microfone na mão. Fundador do Teatro Oficina, em 1958, com José Celso Martinez Corrêa e Renato Borghi, entre outros artistas. Em 1980, sempre inquieto, fundou o Tá na Rua – grupo do qual ainda é o coordenador. 

Mas o que Haddad pretende falar em sua palestra? “Vou falar da minha vida, de tudo que fiz. Tenho uma vida vitoriosa no teatro”, diz. “Uma coisa eu posso te garantir: não vou ter uma anotação em ficha. Não terei nada para ler, será uma conversa. Não tenho Alzheimer, tenho uma memória maravilhosa. Estou vivo, estou na vida. E a minha vida é o teatro”. Quem falou em tesouro? 

O mestre ganhou o prêmio Molière de 1980 pelo espetáculo “A Construção”, com texto de Altimar Pimentel. Foi a segunda peça montada com o grupo A Comunidade, também criado por ele naquele ano. E marcou o começo de uma estética que norteou seu trabalho pelas décadas que viriam pela frente. Foi a partir de “A Construção” que ele passou a desconstruir uma dramaturgia ainda apegada ao século XIX e à burguesia. Em suas palavras, “Desconstrução é desmontar a estrutura da dramaturgia tradicional para espaços abertos, com uma visão ampla de mundo, e não para uma parcela, como é o caso do teatro do realismo burguês”.

Aos 82 anos, o mestre esbanja energia e tem ótimas histórias para contar (Foto de divulgação)

O diretor, que influenciou (e continua influenciando) gerações e gerações de artistas, adianta que vai falar sobre sua experiência de vida sob uma ditadura militar. “Vou contar como sobrevivi à ditadura. Durante 25 anos, respirei com canudinho. Você está embaixo d’água, com o canudinho. Vai à superfície, dá uma golfada de ar e põe a cabeça de novo sob a água, respirando pelo canudo”, compara. “Meu discurso sempre foi ideológico, não político. Nunca fui preso, nunca fiz espetáculo gritando ‘Abaixo a ditadura’. Mas fiz o primeiro falando sobre a ditadura”. 

Foi exatamente “A Construção”, que passou três meses proibido antes de, finalmente, ser liberado pela censura. “Liberaram e ficou sensacional! Tivemos mais esses três meses para ensaiar e, quando estreamos, no MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), estava redondo, perfeito”, lembra.

Amir Haddad não gosta de se guiar por fichas em suas palestras (Foto de divulgação)

Não há muito como dizer o que esperar da palestra do mestre. Daí o “deve falar” lá no início desse texto. Com certeza, será uma troca de saberes e muita energia. “Vou ao sabor dos acontecimentos, da conversa. Detesto coisas feitas com fichas, anotadas, planejadas. Não tenho princípios. É isso: sou uma pessoa sem princípios”. 

SERVIÇO

Teatro Tônico – Ciclo de palestras sobre a história do teatro

A partir de 2 de agosto, às 20h30.  

Palestrante: Amir Haddad. “As Companhias de Teatro dos anos 60 e 70”

O Tablado. Av. Lineu de Paula Machado 795, Lagoa – 2294-7847

R$ 40 

150 pessoas. Livre.  120 min