As opiniões que circundam os conceitos de arte contemporânea compõem o enredo do espetáculo “O Escândalo Philippe Dussaert”, estrelado por Marcos Caruso. A brilhante e hipnotizante interpretação do ator no monólogo que foi o primeiro de sua carreira, depois de 40 anos de trabalhos de sucesso, lhe garantiu o troféu de Melhor Ator de 2016 no 4º Prêmio Cesgranrio de Teatro. Na cerimônia, que ocorreu nesta semana no Golden Room do Copacabana Palace, Caruso agradeceu a conquista em um discurso que transitou pela emoção e pelo inconformismo com o atual panorama de crise no Brasil. “Eu queria dividir esse troféu com os atores que foram indicados e com todos os outros que estiveram em cartaz neste ano terrível de crise internacional, nacional, estadual, municipal, cultural, financeira e ideológica. 2016 foi um ano horrível, mas nós conseguimos fazer a diferença no palco. Todos os atores que passaram pelos 200 espetáculos que estiveram em cartaz no Rio de Janeiro no ano passado fizeram com que as pessoas tivessem um momento de paz, sorrisos, reflexão e emoção”, disse.
E o troféu por um enredo que tem a própria arte como protagonista teve um gostinho especial. Para Marcos Caruso, receber o reconhecimento por seu trabalho no teatro em um texto que fala de cultura em tempos de cólera é uma sensação ainda mais significativa. “A peça fala de teatro e é um hino para esta arte. O fato de eu ter sido indicado no meio de vários outros atores maravilhosos já é um reconhecimento incrível. E, agora, o mais importante é que a gente pode usufruir deste prêmio porque a peça segue em cartaz. Muitas vezes, um artista ganha o prêmio por um espetáculo que já até saiu do teatro. Mas esse não é o nosso caso. Até o fim de março estaremos em cartaz no Maison de France”, contou Caruso que já está há cinco meses em cartaz.
Com a questão da crise geral apontada por Marcos Caruso, ele evidenciou que a arte também precisou se modificar para se manter viva em 2016. Em um ano com tantas transformações e obstáculos para os produtores de cultura em nosso país, a ator destacou que o número de monólogos aumentou no último ano. Segundo Caruso, em 2016, o Rio de Janeiro exibiu cerca de 14 espetáculos com um único ator em cena. “As pessoas estão procurando peças com menos atores por serem mais baratas por causa da produção mais seca. E isso é um ato de resistência porque, muitas vezes, nós mesmos que colocamos o nosso dinheiro para realizar um projeto. Fora que hoje, os espetáculos ficam menos tempo em cartaz e não se sustentam mais por causa das enormes despesas”, argumentou.
O fato é que, seja com um ou com vários atores em cena, a cultura nunca pode morrer, como bradou Marcos Caruso. Apesar de todos os obstáculos, a palavra resistência parece ter se tornado lema para quem acredita que a arte pode ser a melhor arma para uma sociedade melhor. “A gente precisa continuar fazendo o nosso trabalho a despeito de uma política cultural terrível, uma falta de verba horrorosa e uma ausência de público cada vez maior porque as pessoas não têm mais dinheiro para supérfluos. E, infelizmente, o teatro entrou nessa categoria porque, hoje, o mais importante é conseguir pôr comida na mesa. Então, resistir é continuar acreditando que a nossa arte é transformadora e que as pessoas podem viver melhor, sorrir, refletir e se emocionar”, afirmou.
Depois de um 2016 tão difícil, como Caruso já comentou, o novo ano parece não ser sinônimo de tempos de abonança. Segundo o experiente ator, não há perspectivas de novos incentivos por parte do poder público. Para Marcos Caruso, no entanto, a esperança pode estar em iniciativas privadas. “Eu acho que existem empresas que se sensibilizam e que continuam apostando no teatro. Fora isso, há uma garra e uma obsessão dos artistas e dos técnicos em teatro que são fundamentais para se continuar fazendo esta arte nesse país”, analisou.
Além de sua luta no teatro e na valorização da cultura nacional, Marcos Caruso também se dedica às telinhas. Na Globo, o ator estreia neste ano a próxima novela das 19h, “Pega Ladrão”. Misterioso e sem poder revelar muitos detalhes, Caruso nos adiantou que será o dono de um grande hotel e que seu par romântico na trama será a personagem da atriz Irene Ravache. O que será que vem por aí?
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