Dennis Carvalho fala de musical após a saída Globo, planos para o streaming e anuncia direção de novo espetáculo

*Por Brunna Condini

Setembro começou com novos horizontes para o diretor Dennis Carvalho depois de ele encerrar contrato com a Globo, emissora na qual dedicou quatro décadas de trabalho. Logo nessa segunda semana, após formalizar a saída da emissora, é no clima de um viva à música, à cultura brasileira e à esperança inabalável de que a arte pode transformar o mundo em algo melhor, que ele mostra aos cariocas a sua assinatura na direção do musical ‘Clube da Esquina — Os sonhos não envelhecem‘, a partir de sexta-feira, no Teatro Riachuelo. Um registro sobre amizade e um movimento artístico que entrou para História. Dennis nos revela ainda que aguarda os trâmites finais da fusão dos streamings Discovery+ e HBO Max para definir um dos projetos que tem analisado. E mais: foi convidado para dirigir um espetáculo sobre Tom Jobim (1927-1994) com texto do Nelson Motta.

Dennis Carvalho fala sobre a estreia do musical ‘Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem’ e da nova fase profissional (Divulgação)

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“Sou amigo do Milton Nascimento há mais de 40 anos, então me emociono, me afeta muito realizar esse trabalho. Fico provocando o Milton no telefone para assistir (risos). Ele disse que quer muito ver, mas está em turnê e ainda não conseguiu”, comenta Dennis Carvalho. No palco, a história de como surgiu o Clube da Esquina, a ditadura militar, a evolução musical e a amizade de Milton Nascimento (Tiago Barbosa), Wagner Tiso (Vitor Novello), Fernando Brant (Daniel Haidar), Lô Borges (Cadu Libonati), Márcio Borges (Rômulo Weber), Ronaldo Bastos (Gab Lara) e Beto Guedes (Tom Karabachian), integrantes do movimento estão em cena.

“O musical tem início retratando a ditadura, período que atravessei também, vendo amigos sendo presos e torturados. Teve um momento na estreia em Belo Horizonte (MG), berço do grupo, em que o público ficou muito envolvido, chegou até a gritar ‘Fora, Bolsonaro’. Foi um grupo que sonhou mudar o mundo com suas músicas”, detalha o diretor que faz 75 anos no próximo dia 27 de setembro e celebra, além da trajetória profissional, as mudanças de ares na carreira.

Passei por um câncer de pulmão há 30 anos, teve o período de dependência química, e me salvei. Fora a perda do meu filho. Então contabilizo mais vitórias – Dennis Carvalho, diretor

NOVOS ARES

“Encerrei, agora, em setembro meu contrato com a Globo. Foram 40 anos juntos, e a decisão foi tomada de comum acordo. Só fico triste por não rever mais amigos que eu via diariamente. Na carreira começo uma nova fase, estudando propostas do streaming, esperando essa história da Discovey+ ter comprado a HBO Max, estão se redirecionando, então estou estudando alguns projetos, mas aguardando para ver como tudo vai ficar”, anuncia.

Sobre a nova fase na vida, ele avalia: “Amadurecer tem o lado bom de poder viver de maneira mais calma. Ao mesmo tempo, o físico não é o mesmo, vem as dores (risos). Mas contabilizo mais ganhos. Passei por um câncer de pulmão há 30 anos, teve o período de dependência química, e me salvei. Fora a perda do meu filho (o diretor perdeu Guilherme, gêmeo de Leonardo há 31 anos). Mas, tive mais vitórias do que qualquer coisa”.

APAIXONADO POR BIOGRAFIAS

Com a atual montagem, ‘Clube da Esquina — Os sonhos não envelhecem‘, Dennis dirige o segundo musical em sua carreira. Em 2013, ele comandou ‘Elis – O musical’. “E acabei de ser convidado para dirigir um espetáculo sobre Tom Jobim no ano que vem, com texto do Nelson Motta, que escreveu ‘Elis‘. Estou me especializando em biografias de música brasileira, e com biografados de talentos artísticos diferenciados. Sinto falta disso hoje, não sou saudosista, estou ligado no tempo, mas, atualmente, é muita ‘bundinha pra lá e pra cá’. Não tenho nada contra, sem comparações, faz parte do movimento musical. Só sinto falta de mais espaço para canções que valorizem as letras, melodias que nos façam pensar, toquem o coração”.

Com o ator Tiago Barbosa, que faz Milton Nascimento em ‘Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem’ (Divulgação)

SONHOS NÃO ENVELHECEM

Eleito o melhor álbum brasileiro de todos os tempos em votação recente do podcast Discoteca Básica, o mítico álbum de 1972 de Milton Nascimento e Lô Borges é a trilha do musical. Baseado no livro ‘Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina‘, de Márcio Borges, o musical é ambientado no período da ditadura militar no Brasil. “O Clube da Esquina trouxe um som inovador, transformador e conseguiu juntar em suas músicas diversas referências, de diferentes partes do Brasil e do mundo, e fazer algo bem distinto do que era produzido musicalmente na época”, diz Dennis.

Elenco de ‘Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem’ que estreia nesta sexta-feira (Divulgação)

O diretor recorda que a direção de ‘Elis’ transformou sua vida e afirma que isso se deu muito às escolhas para o espetáculo. “Os deuses do teatro colocaram a Laila Garin no meu caminho para fazer a Elis e foi inesquecível. E, agora, encontro o Tiago para interpretar o Milton, o convidei para voltar ao Brasil e ele foi muito corajoso. Encerrou a vida em Madri, na Espanha, e veio. Ele está dando um show, é lindo de ver. Na estreia, em Belo Horizonte, Tiago foi aplaudido de pé várias vezes. Lá foi o berço do Clube da Esquina. O Marcio Borges, o Lô Borges, o Beto Guedes foram assistir. Todos choraram muito. Passa a vida deles diante dos olhos”, recorda.

O ator Tiago Barbosa como Milton em ‘Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem’ (Divulgação)

“O elenco está genial. Também levei um grupo que já trabalhava comigo, o Maneco Quinderé, a Marília Carneiro, a Claudia Eliseo, preparadora vocal, que dá um show, fez arranjos lindíssimos. Gosto de trabalhar na amizade. A primeira coisa que faço ao escolher um profissional é pensar na pessoa como caráter, de modo afetivo. Com o talento junto, claro, mas prezo os bons ambientes. Isso se reflete no trabalho”.

OS SONHOS DE DENNIS

Como diretor de novelas, seu último trabalho foi em ‘Segundo Sol‘ (2018), e observa sobre a nova geração de atores: “Tem me chamado muito atenção a Leticia Colin e o Chay Suede, entre outros, claro. Gosto muito de dirigir atores até por que sou um deles. Entendo o outro lado bem. Sei das angústias, inseguranças”.

Em quatro décadas, Dennis fez mais de 60 produções televisivas, como ator e diretor, e celebra: “Tenho poucos arrependimentos. Hoje, eu quero cada vez mais histórias com bons conflitos, que façam as pessoas pensarem. Humor, drama e emoção, que são as coisas mais importantes no trabalho. Tenho curtido muito o streaming. E assistido coisa boa. Só na pandemia vi mais de 70 séries. Adorei ‘The Offer‘, o making of de ‘O Poderoso Chefão’“, conta.

Dennis Carvalho fala do o espetáculo que dirige após sua saída da Globo e da vida daqui para frente (Divulgação/ Globo)

E convida: “Venham assistir ‘Clube da Esquina – Os Sonhos Não Envelhecem’, e tragam um bom lenço (risos). Fiquem abertos para ouvir a história da música do seu país e de uma parte da história que está quase perigando voltar e não deveria. Estou com esperança para essas eleições, apesar do medo de toda violência que envolve o momento”.