Débora Falabella estrela solo que aborda violência de gênero e analisa falhas da Justiça no acolhimento às vítimas


Em cartaz com ‘Prima Facie’, seu primeiro solo, a atriz fala da atual personagem e do trabalho na TV, na novela ‘Terra e Paixão’, na qual também abordou a situação de mulheres que sofrem abuso e violência. A próxima peça da sua companhia, Grupo Três de Teatro, coincidentemente, também abordará a violência contra a mulher. Feliz da vida com o atual projeto, Débora conta que passará o Dia das Mães em cena, e destaca a importância de discutir esse tipo de violência, um caminho para a desconstrução da cultura do machismo introjetada na sociedade. “Interpretar a advogada Tessa no solo teatral me afeta profundamente, especialmente ao explorar a história e os desafios que ela enfrenta. Como mulher, me identifico com as lutas e dilemas enfrentados por minha personagem, especialmente ao se tornar vítima dentro de um sistema jurídico predominantemente masculino. Essa experiência me fez refletir sobre questões de gênero e justiça de uma maneira mais profunda”, frisa

*Por Brunna Condini

Em seu último trabalho na TV, a novela ‘Terra e Paixão’ (2023), e, agora, no primeiro solo no teatro com ‘Prima Facie’,  Débora Falabella tem abordado a importância do combate à violência contra a mulher. A atriz comenta o encontro com as personagens: “Vejo personagens como a advogada Tessa, de ‘Prima Facie‘ e Lucinda de ‘Terra e Paixão’, como veículos importantes para abordar questões relevantes para as mulheres. Interpretar esses papéis e dar vida a essas narrativas é uma oportunidade valiosa. Acredito que personagens com propósito desempenham um papel fundamental na possibilidade de discussões significativas e na conscientização sobre temas importantes. Em meus projetos, especialmente aqueles que são mais pessoais, busco interpretar personagens que possam contribuir para essas conversas. No entanto, também reconheço a importância de explorar uma variedade de papéis e gêneros, pois acredito que cada personagem tem sua própria relevância e potencial para gerar identificação e empatia com o público, independentemente do gênero ou do tom da história”, reflete Débora, em entrevista exclusiva ao site. “Em ‘Prima Facie‘, além de atuar, assumi um papel na produção ao lado de Luciano Borges  e Edson Fieschi. Ficaremos em cartaz no Rio até junho, no Teatro Adolpho Bloch, e, em setembro, estreamos em São Paulo”. A atriz observa ainda, que mais uma vez o tema estará presente em um dos seus trabalhos em 2024:

Na empreitada do solo teatral, Débora vive a bem-sucedida advogada Tessa, que tem acusados de violência sexual entre seus clientes. Em determinado momento, ela se vê obrigada a rever uma série de valores e princípios, além de refletir sobre o sistema judicial, a condição feminina e as relações conturbadas entre diversas esferas de poder:

Interpretar Tessa me afeta profundamente, especialmente ao explorar a história e os desafios que ela enfrenta. Como mulher, me identifico com as lutas e dilemas enfrentados por minha personagem, especialmente ao se tornar vítima dentro de um sistema jurídico predominantemente masculino. Essa experiência me fez refletir sobre questões de gênero e justiça de uma maneira mais profunda – Débora Falabella

Atriz estrela espetáculo que expõe falhas da justiça no acolhimento às mulheres vítimas de violência e reflete sobre a presença do tema em seus trabalhos recentes (Foto: Jorge Bispo)

Atriz expõe falhas da Justiça no acolhimento às mulheres vítimas de violência (Foto: Jorge Bispo)

Débora destaca a importância de discutir a violência de gênero, um caminho para a desconstrução da cultura do machismo introjetada na sociedade. “Atualmente, as mulheres estão denunciando e compartilhando cada vez mais suas experiências de violência, o que é crucial para trazer à tona o debate e responsabilizar os agressores. Mulheres com visibilidade têm usado suas plataformas para encorajar outras a falarem sobre suas experiências. No entanto, individualmente, entendo que cada uma deve ter o direito de decidir se deseja compartilhar suas experiências traumáticas, pois esse processo pode ser extremamente desafiador e doloroso. É lamentável que as mulheres muitas vezes se vejam obrigadas a reviver seus traumas e expor suas vidas, devido à falta de um sistema que as proteja e as acolha”, aponta.

"Atualmente, as mulheres estão denunciando e compartilhando cada vez mais suas experiências de violência, o que é crucial para trazer à tona o debate e responsabilizar os agressores" (Foto: Jorge Bispo)

“Atualmente, as mulheres estão denunciando e compartilhando cada vez mais suas experiências de violência, o que é crucial para trazer à tona o debate e responsabilizar os agressores” (Foto: Jorge Bispo)

Como artista, acredito que minha contribuição para esse tema da violência contra a mulher, é trazer à tona discussões por meio de espetáculos que abordam essas questões, permitindo que o público reflita e se sensibilize – Débora Falabella

Em cena, sozinha pela primeira vez, Débora fala sobre as descobertas da experiência. “A sensação de solidão é rapidamente substituída pela presença da equipe que me apoia, incluindo contrarregras, assistentes de direção, técnicos de luz e som. A colaboração com eles é essencial para o bom funcionamento do espetáculo. Desde o inicio, esse projeto foi feito em parceria. Só conseguiria realizar esse trabalho se eu tivesse uma direção que me preparasse para isso. Por isso essa peça aconteceu ao lado da minha grande parceira, amiga e diretora genial Yara de Novaes. E essa parceria é fundamental para que eu consiga estar sozinha em cena”, frisa.

“Como mulher, me identifico com as lutas da personagem, especialmente ao se tornar vítima dentro de um sistema jurídico predominantemente masculino” (Foto: Jorge Bispo)

E a atriz e produtora acrescenta: “Embora sinta falta da interação com outros atores em cena, descobri uma troca diferente com o público, já que minha personagem narra sua história diretamente para a plateia. Os ‘fantasmas’ e medos associados a essa experiência são presentes, mas a conversa direta com o público tem sido uma descoberta maravilhosa”.

O ano é do teatro para a atriz, mas ela não desconsidera propostas para o audiovisual.

Como atriz, estou aberta a oportunidades tanto na TV quanto no teatro e no cinema. Minha decisão de aceitar um projeto depende da minha vontade em realizá-lo, da personagem, da história, e nesse ano, da viabilidade de conciliar com meus compromissos teatrais – Débora Falabella

Totalmente envolvida com os projetos que lhe falam alto, Débora, que é mãe de Nina, 9, conta que este Dia das Mães, será atípico: “Estarei trabalhando. Quando estamos em cartaz, é comum que os compromissos profissionais se sobreponham às datas comemorativas”.

Estou envolvida na última peça da nossa companhia, Grupo Três de Teatro, intitulada ‘Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante’, que também aborda a questão da violência contra a mulher. É uma coincidência interessante termos dois espetáculos com essa temática. Essa peça estará em cartaz em breve, também no Rio de Janeiro – Débora Falabella 

O espetáculo

“Prima Facie”, em Direito, significa uma prova que é suficiente para permitir a suposição ou a consolidação de um fato, a menos que seja refutada. O espetáculo de mesmo nome, escrito por Suzie Miller, ganhou dezenas de montagens ao redor do mundo, conquistou a Broadway e o West End inglês, virou objeto de disputa entre produtores e inspirou debates e esforços para mudar algumas leis britânicas.

Débora Falabella é a advogada Tessa em 'Prima Facie' (Foto: Jorge Bispo)

Débora Falabella é a advogada Tessa em ‘Prima Facie’ (Foto: Jorge Bispo)

E descortina ainda mais a personagem. “Ela é uma advogada bem-sucedida, e pega os casos que aparecem para ela, sem pré-julgamentos. Embora casos de agressão sexual apareçam com frequência, não se limita a defendê-los. Após um acontecimento em sua vida, que a coloca como vítima e testemunha, se vê questionando os valores e o sistema judicial nos quais sempre acreditou. O impacto mais significativo para Tessa é perceber a dura realidade de ser julgada ao denunciar um crime de agressão sexual, revelando as falhas do sistema que favorece os homens”.