“Nós jogamos o lixo fora como se ele fosse embora pela manhã e utilizamos combustíveis fósseis como se não causasse nenhum mal ao planeta. Mas como vai ser quando os nossos filhos, sobrinhos e netos estiverem mais velhos? Como o futuro da humanidade será, daqui a 100 anos, com tanta escassez que nós estamos contribuindo para potencializar?”, questionou o diretor Rodrigo Portella. Esta verdade nua e crua latente revela a essência da peça As Crianças, que entra em cartaz no dia 11 de janeiro no Teatro Poeira, Rio de Janeiro. O texto da inglesa Lucy Kirkwood é um verdadeiro tapa na cara de cada um de nós ao levantar questões urgentes de serem discutidas na nossa sociedade atual. Com Analu Prestes, Mario Borges e Stela Freitas no elenco, o espetáculo coloca uma lente de aumento sobre a responsabilidade que nós, cidadãos do mundo, temos com relação às próximas gerações. Vem entender!
Produção de energia, desperdício de alimentos, poluição e superpopulação são alguns dos temas levantados pelo trio de personagens que estão vivendo uma situação limite após um desastre nuclear ter varrido a vida que existia no local onde moravam. Os físicos nucleares Dayse, Robin e Rose encaram diariamente o medo da morte por estarem em um local contaminado e, ao enxergar a sua finitude, os três começam a refletir sobre o futuro da sociedade.
“Infelizmente, sinto que a grande maioria das pessoas não tem esta discussão em mente. Ao meu ver, o futuro do planeta é algo refletido somente entre intelectuais e pessoas bem instruídas. É um papo localizado. Quando viajo para o interior, percebo que vivo em uma bolha, porque não se fala sobre isso. Acabamos de eleger um presidente que anunciou que irá fazer diversos retrocessos em relação às questões ambientais. Não é, infelizmente, uma preocupação de todos, mas, daqui a algum tempo, estaremos em uma situação de calamidade”, afirmou Rodrigo Portella. De acordo com o diretor, até mesmo a maior potência do mundo, os Estados Unidos, é o país que mais produz e desperdiça no mundo. Sendo assim, este espetáculo contribui para endossar esta discussão em todas as classes para instigar cada vez mais as pessoas a pensarem sobre o seu legado na terra.
As Crianças não trata de uma peça didática. Não existe uma mensagem chapada a ser compreendida. Na verdade, estamos falando de uma sutil reflexão do público frente aos temas que são levantados. “Não quero que a peça responda nenhum questionamento que pode ocorrer na cabeça das pessoas. No entanto, de certa forma, o texto indica que salvar as futuras gerações acaba sendo uma obrigação nossa”, comentou Rodrigo, diretor convidado para liderar esta peça que comemora os 40 anos de parceria dos atores Analu Prestes, Mario Borges e Stela Freitas.
Feita sem qualquer patrocínio, As Crianças também buscou deixar um legado que vai além dos temas levantados no espetáculo. Para ser fiel à ideia de consciência ambiental, o espetáculo utilizou folhas de reflorestamento em panfletos e textos promocionais e, além disso, toda a madeira utilizada no cenário é fruto de materiais de demolição. “Temos a preocupação de produzir um espetáculo que não agrida o meio ambiente”, reforçou o diretor.
Escrito em 2016 pela inglesa Lucy Kirkwood, o espetáculo já nasceu irreverente ao estrear no famoso Royal Court Theatre em Londres, celeiro dos mais expressivos jovens dramaturgos do Reino Unido. Ao vir para o Brasil, a adaptação do texto ficou por conta do tradutor Diego Teza. Mesmo se tratando de países tão diferentes, o reconhecimento de cada um de nós nos personagens é total. Compartilhamos as questões mais íntimas deles, no entanto a maior dificuldade foi a diferença cultural de forma mais intrínseca. “O texto foi escrito por uma londrina de 34 anos, ou seja, uma pessoa com um background completamente diferente do meu. Há certo humor ácido no texto que para nós, latinos, é mais difícil de compreender. Somos mais escrachados e abertos, por isso a comédia velada deles acaba sendo um pouco sem graça”, explicou Rodrigo. Dessa forma, encontrar o humor e trazê-lo para a nossa realidade acabou sendo o grande desafio do diretor.
Antes mesmo de estrear, as expectativas para este trabalho são altas, afinal, estamos falando de um texto de sucesso liderado por um diretor premiado. Rodrigo Portella, afinal de contas, é o homem por trás do êxito dos espetáculos Tom Na Fazenda, Insetos e Nerium Park. “Tudo o que faço é com paixão, além de mover a minha vida inteira para me dedicar a cada projeto. Me empenho ao máximo para ser o mais honesto possível com o meu público. Faço parte de um teatro sincero que não se esconde atrás de nenhuma máscara”, garantiu. Já dá para sentir que vem coisa boa pela frente, né? Quem está curioso para a estreia?
ESTREIA PARA CONVIDADOS: 10 de janeiro (5ªf), às 19h
ESTREIA PARA PÚBLICO: dia 11 de janeiro (6ªf), às 21h
LOCAL: Teatro Poeira – Rua São João Batista, 104 – Botafogo / RJ Tel: 2537-8053
HORÁRIOS: 5a a sábado as 21h, dom às 19h / INGRESSOS: R$ 60,00 e R$ 30,00 (meia) / horário bilheteria: 3a a sab das 15h às 21h e dom das 15h às 19h / vendas pela internet: http://www.tudus.com.br/ DURAÇÃO: XX min / CAPACIDADE: 145 espectadores / CLASSIFICAÇÃO: 14 anos / TEMPORADA: até 31 de março
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