Conhecido na literatura brasileira como o Bruxo do Cosme Velho, desta vez, Machado de Assis ganha ritmo e movimento sob direção de Duda Maia. Nesse fim de semana, a diretora estreou no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio o espetáculo infanto-juvenil “Contos Partidos do Amor”, que foi inspirado em uma coletânea do autor. Como parte da trilogia “Três Histórias de Amor Para Crianças”, que já apresentou a peça “A Gaiola”, o novo projeto de Duda Maia vem como resposta para uma temática. “Eu queria falar sobre ciúmes e, por isso, comecei a ler alguns textos e fazer pesquisas sobre o assunto. Até que achei uma coletânea do Machado de Assis que serviu como inspiração para o Eduardo Rios, autor de “Contos Partidos de Amor”, criar o texto autoral da peça”, explicou.
Com isso, Duda Maia, além de estrear um texto sobre ciúmes, com toques de amor, aproxima a obra de Machado de Assis dos pequenos. Porém, como apontou, a diretora acredita que o mais importante deste projeto é ser o combustível para novas discussões entre as famílias. “Eu quero levar boas histórias que causem reflexões entre pais e filhos sobre situações que acontecem na nossa rotina. E o ciúme é um exemplo disso. Não é uma peça sobre fantasia, fadas ou um mundo irreal”, comentou a diretora que, mesmo assim, não abre mão de elementos que estimulem as crianças. “A peça é muito musicada e isso tira um pouco a dureza do assunto. Como eu venho da dança e do movimento, a minha relação com a música é muito forte. Então, nos meus espetáculos, ela não é só para alegrar, é também um elemento dramatúrgico. Ao mesmo tempo, é uma das nossas estratégias de dar leveza ao espetáculo e transformá-lo em algo lúdico e interessante para as crianças”, disse.
Afinal, nisso tudo, a música ainda desperta um poder de concentração e abstração nas crianças, como destacou Duda Maia. “Quando começa a trilha sonora, eles ficam presos na cena. A música tem um poder de levar para um lugar que é abstrato e permite entrar naquela história. E o mais legal é ver que, depois da peça, o público sai cantarolando nossas músicas”, contou a diretora. “A tecnologia e a quantidade de estímulos que eles têm hoje deixam as crianças mais antenadas e ligadas a tudo o que está acontecendo ao redor. Eles têm uma percepção que é simples e livre, não têm um critério da crítica, e vão por um canal que é intuitivo”, analisou.
O resultado, de acordo com Duda Maia, é uma plateia sincera. “Eu adoro trabalhar com crianças porque elas falam o que pensam sempre”, confessou a diretora, que foi além em relação ao público de “Contos Partidos de Amor”. “Eu digo que não faço peça para criança, é para família. Eu gosto quando, na sala de teatro, eu tenho gente de várias idades, inclusive adultos que foram mesmo sem filhos”, destacou.
De tudo isso, Duda destacou uma de suas motivações por trás dos projetos para os pequenos, como é no caso da trilogia “Três Histórias de Amor Para Crianças”. Segundo ela, com a apresentação no palco, a diretora visa aumentar a capacidade de liberdade de expressão de seus espectadores mirins. “Quando fazemos um trabalho que reúne música, estética plástica e vários assuntos, damos caminhos para as crianças terem uma independência em suas opiniões. Fora a questão do respeito. A gente está vivendo tempos de intolerância e, com o teatro, ensinamos às crianças a pararem e escutarem o que as outras pessoas têm para falar”, disse.
E, nessa peça, outra estratégia que faz parte da contação de história dirigida por Duda Maia são os figurinos assinados por Kika Lopes. A parceria, aliás, é uma dobradinha certeira na carreira da diretora. Antes de “Contos Partidos de Amor”, Duda e Kika já haviam trabalhado no espetáculo de sucesso “Auê”, que no ano passado ganhou prêmios e destaque no meio teatral. “Eu gosto de ter ao meu lado pessoas que criam e participam do espetáculo comigo. Assim como a Kika, os meus outros parceiros neste projeto assistem aos ensaios, dão ideias e dividem esse trabalho comigo”, contou a diretora que, desta experiência, disse que, inclusive, já criou cenas que exploravam a riqueza do figurino assinado por Kika Lopes.
Por falar em “Auê”, este foi um trabalho que, de fato, marcou a carreira de Duda Maia como diretora. “O mais legal dos prêmios que ganhamos foi que eles abriram portas para a gente no mercado teatral. Isso ajudou a estreitar as relações com as pessoas e projetar novos trabalhos para o futuro”, disse a diretora que, com cada vez mais projetos de sucesso na carreira, vem conquistando seu lugar ao sol na profissão. Sobre isso, Duda comemorou viver um cenário em que sua posição de diretora é bem dividida entre homens e mulheres. “Eu acho que no teatro nós sempre tivemos isso bem livre. Além de mim, vejo mulheres em muitas outras áreas, inclusive na direção. Talvez, onde menos estejamos presentes seja nas funções mais técnicas, como som, iluminação etc”, analisou a diretora que afirmou não sentir nenhum tipo de preconceito nos bastidores do teatro. “O que está acontecendo em relação à mulher é uma postura mais política”, completou.
Firme e forte como diretora, Duda Maia se prepara para outros projetos. No momento, ela tem dois espetáculos em busca de captação e muitas outras ideias para novos trabalhos. “Se depender de mim tenho muita coisa para fazer até 2030”, brincou a diretora que, entre tantas ideias, tem um novo espetáculo certo e a caminho. Em julho, Duda Maia terá a missão de contar sobre a vida de Elza Soares no palco. Sobre o novo musical de sua carreira, ela contou que ainda não começou a trabalhar o espetáculo, mas tem certeza que será mais um super sucesso. “Eu sou uma diretora que só realizo um projeto quando entro na sala de ensaio. Mas, certamente, esse será um musical muito especial. É uma honra e um desafio enorme contar sobre a vida de Elza Soares. Ah, e em relação àquela história de as mulheres no teatro, este deverá ser um espetáculo bem feminino”, conclui Duda Maia.
SERVIÇO:
Temporada: 17 de março a 1º de abril de 2018.
Local: CCBB RJ – Teatro III (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro).
Informações: (21) 3808-2020.
Dias e horário: Sábados e domingos, às 16h e 19h.
Ingressos: R$ 20 (inteira) | R$ 10 (meia para clientes e funcionários do BB, estudantes e maiores de 60 anos).
Bilheteria: de quarta a segunda, das 9h às 21h.
Vendas online: www.ingressorapido.com.br
Duração: 50min.
Capacidade: 69 lugares.
Artigos relacionados