As tirinhas preenchiam uma página diária nos jornais e sempre arrancavam uma gargalhada dos leitores. Algumas piadas tinham direito, inclusive, a críticas sobre o sistema político ou alguma moral do cotidiano. No entanto, este tipo de literatura está cada vez mais sendo deixada de lado, já que recursos audiovisuais conseguem captar mais a atenção do grande público. Pensando nisso a Manhas & Manias de Eventos criou a peça Gatão de Meia Idade, inspirada no livro Cama de gato, Histórias de Cama do Gatão de Meia Idade, de Miguel Paiva, com tirinhas que preenchiam as páginas do jornal O Globo. As cenas traziam situações românticas e cotidianas vividas por um adulto quarentão que vivia na cidade e sabia rir de seu destino. De maneira muito engraçada, o espetáculo busca relembrar cenas dos quadrinhos. “O mundo está precisando tanto de algo leve. Precisamos rir um pouco para poder encarar todos os desafios que existem a nível nacional e mundial”, afirmou a atriz Leona Cavalli.
A comédia teatral foi adaptada para os palcos pelo próprio criador da história. Sendo assim, as cenas que compõem o enredo foram selecionadas por Miguel Paiva a partir da interpretação do que teria um viés mais teatral. Foi a primeira versão feita para os palcos, depois de ter sido um sucesso nos cinemas, em 2006, com direito a atuação de Alexandre Borges. O espetáculo contabiliza a segunda parceria do escritor com a Manha e Manias de Eventos. “Fizemos uma peça com o Miguel sobre o livro de uma cartunista argentina chamado Superadas. Durante este trabalho, perguntei a ele se não gostaria de fazer uma versão do Gatão de Meia Idade no teatro, já que existe no cinema. Ele topou e a partir deste momento começou a saga de produzir o espetáculo”, explicou o produtor, ator e sócio da empresa Mauricio Machado.
O espetáculo emprega mais de vinte profissionais e, entre eles, duas camareiras que ajudam a atriz Leona Cavalli se vestir ao longo da peça. Ela interpreta oito personagens femininos de diferentes casos amorosos do protagonista, vivido por Oscar Magrini, por isso precisa trocar de vestuário várias vezes durante as cenas e é preciso que o público se espante com a qualidade do figurino. “Era preciso uma atriz talentosa e versátil que tivesse a garra de fazer tantos personagens diferentes”, explicou Mauricio. A diferença entre cada figura vai além da roupagem, são várias mulheres com personalidades singulares. Existe uma ciumenta, uma alérgica, uma dominadora e outros estereótipos com os quais Leona brinca a partir de cada temática. “É uma responsabilidade e uma alegria. Isto para mim, como atriz, é muito bacana, principalmente depois de uma personagem dramática, histórica e muito forte como a Frida Kahlo. Encarei o convite como uma oportunidade de respirar após tantos anos vivendo uma pessoa real e intensa”, afirmou a atriz, que estava atuando nos palcos com Frida e Diego da mesma companhia durante três anos. Sendo assim, ela saiu de uma figura única para encarar uma diversidade de papéis de uma só vez. Antes de receber a proposta para participar da montagem, a artista já tinha a intenção de fazer comédia, o que acabou sendo um casamento perfeito.
Além de trazer a versatilidade de uma atriz, a produção apostou em ainda mais uma novidade no espetáculo. O diretor Eduardo Figueiredo teve a ideia de acrescentar um terceiro ator ao elenco. No entanto, Yakko Sideratos não interpreta um personagem comum, na verdade sua atuação acontece através do corpo inanimado de um ventríloquo. O boneco é a consciência do protagonista. “Acabamos chegando ao nome do Yakko por ser considerado o melhor do país no gênero. Isto traz uma atmosfera inusitada para a peça, pois esta terceira figura é hilária e fala bastante com a plateia”, garantiu o produtor.
Tanto Leona quanto Oscar Magrini foram os primeiros nomes que Miguel Paiva e Mauricio Machado chegaram depois de definir o roteiro da peça. “O Gatão tinha que ser um personagem que correspondesse ao biótipo do personagem desenhado nos quadrinhos, era preciso que a personalidade e o físico fossem parecidos. Além disso, tinha que ser um extraordinário ator, com tempero de humor”, afirmou o produtor, que já tinha uma longa história de trabalhos ao lado de Oscar, iniciados em 1991. Apesar do ator ter aceitado de primeira encarar a figura em quadrinhos, o profissional estava com a agenda lotada de compromissos o que fez a produção esperar quase um ano e meio para começar a montar a peça. Mesmo com tal contratempo, Mauricio nem se que cogitou um plano B. “Fazer teatro é um verdadeiro quebra-cabeça, porque quando temos patrocínio, não temos teatro e quando temos os dois não há um elenco ideal. Chegou a um ponto que estávamos sendo pressionados pelo patrocinador que nos questionou se iríamos ou não fazer o espetáculo. Foi uma situação bastante delicada, onde precisei administrar todos os lados”, desabafou Mauricio.
As dificuldades não foram unicamente o impasse entre a produção e o patrocinador, na verdade montar o espetáculo foi considerado por Mauricio Machado um ato de guerrilha. O profissional, por exemplo, precisou de hospedagem para os dois atores masculinos, que são de São Paulo, no entanto não teve apoio de nenhum hotel carioca, no caso da temporada que se inicia em janeiro no Rio de Janeiro. Ele precisou tirar dinheiro do próprio bolso para manter Oscar e Yakko na cidade. “Não temos apoio cultural. Parece que sou um pedinte quando estou solicitando uma parceria, mas não é nada disso. Estou dando visibilidade ao meu parceiro em peças publicitárias e em diversos momentos. Favorece os dois”, lamentou.
Apesar do teatro no Brasil enfrentar grandes adversidades, o Rio de Janeiro parece oferecer ainda mais obstáculos. “Tudo acaba sendo mais difícil, porque o profissional, o teatro e a mídia é ainda mais cara”. Mauricio garantiu que está tentando ser muito cauteloso, apesar de achar que está assumindo muitos riscos. A única solução que enxerga é arregaçar as mangas e correr atrás das oportunidades. “Estamos tentando colocar a cultura do rio no seu trilho e isto está sendo feito pela iniciativa privada. A única coisa que podemos pedir é o carinho e respaldo do público. Queremos que as pessoas compareçam e prestigiem os nossos trabalhos. Não importa se não tem dinheiro para ir ao teatro, sempre fazemos promoções, tiramos do nosso bolso para conseguir trazer mais público. Todo mundo está careca de ouvir que está difícil fazer teatro no Brasil, mas não conseguem ver o porquê, não sabem as barreiras que temos que transpor para colocar um espetáculo em cartaz. O produtor cultural, por exemplo, precisa se reinventar o tempo inteiro”, garantiu. E é o que ele pretende fazer a frente desta montagem.
SERVIÇO
Local: Teatro dos Quatro – Shopping da Gávea –
R. Marquês de São Vicente, 52 – Gávea, Rio de Janeiro – RJ, 22451-901
Telefone: (21) 2239-1095
Sextas e Sábados às 21h00, Domingos às 20h00
Ingressos:
Sextas
Inteira R$60,00
Meia R$30,00
Sábados
Inteira R$80,00
Meia R$40,00
Domingos
Inteira R$70,00
Meia R$35,00
Duração: 60 minutos
Classificação etária: 16 anos
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