Cerca de 20 dias após fraturar duas costelas, Ângelo Antônio estreia monólogo “Um Precipício no Mar”


“O problema é que o osso ficou meio próximo do pulmão. Mas, após ficar esse período de repouso, um calo ósseo foi formado”, revela ele, que estreou em novela na primeira versão de Pantanal e que, em agosto, começa a gravar Todas as Manhãs

* Por Carlos Lima Costa

O ator Ângelo Antônio levou um mega susto recentemente. No final de junho, quando faltavam três dias para a estreia com o monólogo Um Precipício no Mar, do dramaturgo inglês Simon Stephens, ele caiu de uma altura de cerca de 40, 50 centímetros, e fraturou duas costelas. “Eu enfaixei, achando que era somente a dor da batida e ainda ensaiei no dia seguinte. Mas quando acabou o ensaio, 23h, fui a um hospital, bati uma chapa, onde constataram as duas costelas quebradas. Aí parou tudo, não tinha o que fazer, passei as últimas duas semanas parado dentro de casa sem fazer nada”, revela Ângelo, em entrevista exclusiva, que vai conseguir estrear a peça hoje, quinta-feira, dia 21, no Teatro 2 do Sesc Tijuca, no Rio. A paixão por esse drama, que lhe foi apresentado pelo diretor Gabriel Fontes Paiva, foi o que o motivou ao subir ao palco cerca de 20 dias depois do ocorrido, para curtíssima temporada.

O ator, que, no momento, brilha na reprise de O Cravo e a Rosa, no Vale a Pena Ver de Novo, na Globo, e que, em agosto, começa a gravar Todas As Flores, novela de João Emanuel Carneiro, para o Globoplay, conta mais detalhes sobre o acidente e recuperação. “Tinha uma cena que o meu personagem caía. Eu estava preparado pra cair certinho para o lado direito, dei um passo a mais e caí do lado esquerdo. Não sei como. O médico disse que eu tinha que ficar de repouso um mês. Se ficasse esse tempo todo, a peça não iria acontecer, então, perguntei se não tinha chance de retornar antes. O problema é que o osso ficou meio próximo do pulmão, então, corria o risco de eu respirar mais forte e furar o pulmão”, lembra.

Assim, o médico pediu para que aguardasse duas semanas para ver como estava a recuperação. Se após esse período de repouso absoluto, um calo ósseo fosse formado, ele poderia ir para o palco, sem correr risco. Mas sem fazer muito esforço. Na última segunda, através de uma tomografia, o médico viu que o calo ósseo foi formado. “Então, da para encenar de forma light”, vibra ele que já havia passado por problema semelhante.

Ângelo Antônio estreia monólogo cerca de 20 dias depois de fraturar duas costelas (Foto: Leekyung Kim)

Ângelo Antônio estreia monólogo cerca de 20 dias depois de fraturar duas costelas (Foto: Leekyung Kim)

Ângelo já havia quebrado uma costela, há uns dois anos, ao cair de um cavalo. “Foi terrível. Dessa vez, eu não senti tanta dor, mas, às vezes, acordo dolorido porque não posso deitar do lado esquerdo, forçar levantar sem ajudar com o braço. Estou desse jeito, mas essa dor lancinante eu não estou sentindo não. Só preciso fazer tudo light, sem nenhum esforço drástico”, explica.

O problema da fratura é que o osso ficou meio próximo do pulmão, então, corria o risco de eu respirar mais forte e furar o pulmão – Ângelo Antônio

E fala com entusiasmo do espetáculo que aborda vulnerabilidade masculina, paternidade, existencialismo. Foi paixão à primeira vista pelo texto inédito no Brasil. “Na verdade, eu não estava muito interessado em fazer teatro agora, mas quando o Gabriel (Fontes Paiva) me mandou esse texto foi inevitável. Eu adorei!. Ele é enxuto, preciso, milimétrico, poético, profundo, complexo e simples. São situações cotidianas e poéticas, que todo mundo passa na vida nas relações com as pessoas, as perdas, os amores. Meu personagem, Alex é um cara contando um momento da vida dele, quando conhece uma mulher e tem toda uma história com ela, com o pai dela, a família e o que acontece ali a partir desse encontro, dessa vida cotidiana e simples”, ressalta.

Não pode falar muito para não dar spoiler. “Mas é um texto de questionamentos, do por que de tudo. É muito atual em relação as perdas, vazios, esses vácuos que todo mundo vem tendo nos últimos tempos. Uma gratidão imensa ao Gabriel por ter lembrado de mim. Ele disse que ao assistir essa peça em Nova York, ele já lembrou de mim para o papel. Como te falei, não estava interessado em fazer teatro nesse momento, já estava com novela engatilhada e saindo de outros trabalhos, mas foi inevitável fazer por causa da qualidade do texto. Eu já tinha trabalhado com o Gabriel no espetáculo O Continente Negro, do Grupo 3, em 2007, ele era produtor. Já vinha ensaiando ser diretor. E sempre foi amigo”, conta ele, que é enaltecido pelo diretor. “O Ângelo é um ator disponível para cena e mergulha em lugares muito profundos. Sua generosidade em sala de ensaio chega a ser emocionante”, assegura Gabriel, que é diretor artístico da companhia Grupo 3 de Teatro, fundada por ele e pelas atrizes Débora Falabella e Yara de Novaes.

Um Precipício no Mar é um espetáculo de fácil identificação com o público. “Não tem quem não se identifique, porque quem é que nunca se questionou do motivo da gente estar aqui nessa vida, porque as coisas acontecem. Nós não sabemos e vamos vivendo. O personagem fala que um dia vamos descobrir o sentido, porque a vida é um mistério. É uma peça curta, mas muito bonita e deixa muitas reticências”, reflete.

QUESTIONAMENTOS EXISTENCIAIS

Como todo mundo, Ângelo já vivenciou seus questionamentos existenciais. “Em relação as perdas, quando a gente perde alguém. Quem não teve? Pra quê que existe tudo, por que estou aqui nesse momento da vida, que está esse caos no planeta, o que estou fazendo de útil, quem é Deus, o que é Deus pra mim? Eu creio em Deus, sim, claro. Existem muitas formas, independente das religiões. Eu já interpretei o Chico Xavier (1910-2002), padre dominicano, pajé. Eu já passei por todas essas religiões, todas me interessam, tem coisas importantes, mas é o mesmo Deus”, observa.

Mesmo assim, volta e meia acontecem situações de desrespeito a determinadas crenças. “A intolerância é o resultado de muitas guerras aí. Pode ser religiosa, de sexualidade. Quando alguém se acha o dono da verdade, isso é fundamentalismo, é o que gera todos os conflitos. Cada um tem o direito de ser o que é e acreditar no que quiser. Acho que um dia vamos chegar em um momento de harmonia. No momento, estamos exatamente nesse lugar de conflito. Por que estamos passando por isso, será que vamos purificar depois, ser uma nação melhor, um planeta melhor? Tenho esperança de que vamos nos purificar nos tornarmos melhores como seres humanos ”, reflete.

Ângelo estreou em novelas na versão original de Pantanal, na extinta TV Manchete, e agora assiste o remake na Globo (Foto: Globo/João Cotta)

No momento, está muito empolgado também para começar a gravar a novela Todas As Flores, o que deve acontecer em agosto. “Estou adorando ler o texto. Termino os capítulos com vontade de ler mais e é um personagem diferente do que eu fiz na Globo até hoje, desses caras mais bonzinhos. É uma grande oportunidade. O Sansa faz parte do grupo da vilania”, festeja Ângelo, que vem assistindo o remake de Pantanal, cuja versão original, de 1990, na extinta TV Manchete, marcou a estreia dele na televisão, interpretando Alcides, atualmente vivido por Juliano Cazarré. “Fiquei feliz quando escolheram ele, que faz bem o personagem”, aponta ele, que não o conhece pessoalmente.

A intolerância é o resultado de muitas guerras. Pode ser religiosa, de sexualidade. Quando alguém se acha o dono da verdade, isso é fundamentalismo, é o que gera todos os conflitos – Ângelo Antônio

“Pantanal foi bem importante pra mim, uma base. Eu já tinha muita vontade de atuar na TV. Eu deixei o interior de Minas (ele nasceu na cidade de Curvelo), onde o que eu mais via era televisão do que cinema. Meu pai me levava, mas naquela época não tinha muito cinema por lá, um ou dois, e mais aqueles filmes de faroeste. Eu fui para o teatro para ser ator, mas eu sempre quis atuar na  televisão. Então, depois de todo o caminho do teatro, Escola de Arte Dramática, na USP, muitas peças, estreei em Pantanal, foi aquele sucesso, uma base muito importante na minha vida, uma parte de mim”, recorda.

Recentemente, Ângelo gravou a série A Vida Pela Frente, do Globoplay, com direção de Leandra Leal (Foto: Globo/Pedro Curi)

E prossegue: “Lembro das reuniões que tínhamos todo final de tarde após as gravações, de sentar em uma roda com Sérgio Reis e Almir Sater, de ouvir esses caras cantando, de tomar banho naqueles rios, daquela natureza exuberante. A gente pode até ter mergulhado na tecnologia, naquela época não era nem digital, mas o Pantanal talvez esteja mais seco. Passou por queimadas, então, ganhamos na tecnologia, mas perdemos nesse lugar. Mas adoro ver a novela e como conseguiram atualizar a história, colocar os questionamentos de hoje, as questões ecológicas. Como estamos interferindo negativamente na natureza”, comenta Ângelo, que sempre se identificou com essas questões. “Desde o interior de Minas. Minha cidade era pequena, mas minhas férias eram em fazendas de tios e outros parentes. Pra mim a natureza sempre foi muito presente e já tem mais de 20 anos que não como carne”, diz ele, que atualmente pode ser visto nas reprises de Alma Gêmea, no Canal Viva, e de O Cravo e a Rosa, na Globo.

“Adoro essa novela. Lembro do (Walter) Avancini (1935-2001), foi uma alegria trabalhar com um diretor daquele nível e me dar bem com ele. Essa é a lembrança mais forte, de ter sido bacana estar com ele. Acabei de fazer um trabalho com a Leandra (Leal) dirigindo, a série A Vida Pela Frente, do Globoplay (Em O Cravo e a Rosa, professor Edmundo, interpretado por ele, e Bianca, personagem da atriz, se apaixonavam.). Agora, com ela, fiz uma participação bacana, um pai pra variar”, conta ele, que na vida real é pai de Clara, de 29 anos, do casamento com sua ex, a atriz Letícia Sabatella, a quem conheceu em O Dono do Mundo, novela que marcou a estreia dos dois na Globo.

Ângelo Antônio e Leandra Leal em cena de O Cravo e a Rosa (Foto: Nelson Di Rago/Globo)

Em relação a passagem do tempo, a proximidade dos 60 anos de idade, ele assegura que vem lidando bem com isso. “Quando fiz 50, eu fiquei mais assustado, mas já superei essa crise. Agora, estou bem tranquilo com relação a idade, achando que está tudo certo”, confessa ele, que ao longo de 31 anos de televisão participou também de novelas como Suave Veneno, Páginas da Vida, Duas Caras, Araguaia, A Vida da Gente, Joia Rara e Espelho da Vida, além de séries como Engraçadinha: Seus Amores e Seus Pecados e A Casa das Sete Mulheres.

Antes de chegar à televisão, Ângelo já havia trabalhado com grandes diretores no teatro. Ao chegar em São Paulo, em meados dos anos 80, ele estudou teatro no CPT – Centro de Pesquisa Teatral, de Antunes Filho (1929-2019). Depois, ingressou na EAD – Escola de Arte Dramática, da USP, onde estreou nos palcos com o espetáculo Aurora da Minha Vida, dirigido por Gabriel Villela. “A EAD foi uma escola incrível e depois saí pra participar do grupo Boi Voador, com o Ulysses Cruz, com quem fiz A Cerimônia do Adeus, que eu considero a minha primeira peça mais profissional, que foi incrível”, diz. Com ele, em cena, estavam nomes como Cleyde Yáconis (1923-2013), (Antônio) Abujamra (1932-2015), Laura Cardoso, Sonia Guedes (1932-2019) e Marcos Frota. “Não tenho do que reclamar da minha trajetória. Ah, queria ter feito isso, aquilo, não. E tudo que fiz eu guardo com muito carinho, sem dúvida nenhuma”, afirma o ator que não é adepto de redes sociais.

“Não tenho Instagram, essas coisas. Existe um fake meu que tem fotos incríveis, tem mais foto do que eu, o atorangeloantonio. Não sou eu, já causou um monte de confusão pra mim, um monte de colega acha que é meu. Fico todo dia tendo que falar que não sou eu. Aí me disseram para abrir um, fiz isso, o angeloantoniocarneirolopes, mas tenho poucas fotos publicadas, não tenho essa vivência, não sei como faz isso direito, nem estou nessa vibe de likes, continuo ligado com a natureza. Eu tenho um sítio, então, fico mais no meio do mato, essa é a minha onda, me voltar pra natureza cada vez mais. Sei que eu preciso, que é o atual, o momento, mas realmente já estou com 58 anos”, finaliza.