O Rio de Janeiro está prestes a ganhar um novo espaço cultural reservado para grandes peças de teatro, musicais, shows e até desfiles de moda. Tudo isso no Passeio Público, região central e, até então, esquecida da urbe. Tombado pelo patrimônio histórico, o antigo Cine Palácio se transforma após pouco mais de dois anos de trabalho de restauração e modernização, no Teatro Riachuelo Rio, que será inaugurado em 12 de agosto com o musical “Garota de Ipanema, O Amor É Bossa”. Ao HT, os responsáveis pelo trabalho não se fizeram de rogados e contaram, com orgulho, tudo sobre o novo point do entretenimento carioca.
“É um espaço de expressão e arte. Muito mais do que um simples teatro. Vai ter capacidade de mil lugares e estará aberto para palestras, espetáculos, shows… não vai parar”, conta animado Luiz Calainho, sócio da Aventura Entretenimento que, junto de Aniela Jordan e Fernando Campos, faz a gestão do empreendimento.
Durante uma visita guiada, realizada nesta terça-feira, nós do HT tivemos acesso às obras do antigo teatro, que, apesar de moderno, pretende manter o glamour e elegância da arquitetura e de peças que estão ali desde a sua primeira inauguração, no ano de 1890. “É um trabalho que exige muita dedicação e paixão. Antigamente aqui funcionava um cinema, que, por coincidência ou não, estreou com o primeiro filme musical e falado no Brasil, o ‘Melodia da Broadway’. O espaço vai ser moderno e vamos ter painéis mostrando a programação de todos os museus e teatros da cidade. Queremos interligar tudo. Mas em contraponto vamos manter toda a estrutura, obras de arte e o lustre que estão aqui desde o seu nascimento”, disse Calainho, que lembrou a importância do local histórico. “A Cinelândia era um lugar muito vibrante. No entanto, essa parte da cidade estava muito esquecida pela população e pelos governantes. Aqui sempre foi um lugar de grandes celebrações. Esse movimento de revitalização do Centro do Rio e da zona portuária, viabilizou o nosso projeto”, contou Calainho.
E não pense que a equipe da Aventura Entretenimento gosta de modéstia, não. Segundo Aniela Jordan, produtora de teatro e uma das sócias da empresa, o Brasil hoje é o terceiro país em produção de musicais, fica atrás apenas dos Estados Unidos e Inglaterra.”Depois do Municipal, a gente tem certeza que o Teatro Riachuelo será um dos mais importante para o Rio de Janeiro. Ele tem um tamanho e uma parte técnica que tem capacidade para receber qualquer produção do mundo”, contou Aniela. “O nosso país produz musicais e peças maravilhosas. Só estava faltando um espaço digno para receber tanta demanda”, ressaltou. Por enquanto, o empreendimento, que tem parceria com a fast fashion de mesmo nome, vai funcionar de terça-feira a domingo, de 8h às 2h, e receberá diversos tipos de arte.
A curadoria é do escritor Ruy Castro, que ressaltou que o Passeio foi a primeira área pública de lazer das Américas, fundado em 1783. “Calainho disse que o teatro é um sonho de quase três anos. Eu digo que a possibilidade da existência dele se deve a um sonho de três séculos. Alguém aterrou essa área um dia e quis entregá-la para a cidade”, disse Ruy, referindo-se à obra do arquiteto conhecido como Mestre Valentim. Em fase de últimos retoques, o teatro será inaugurado com dois musicais, “Garota de Ipanema, O Amor É Bossa” e “SamBRA, O Musical — 100 Anos de Samba”, espetáculos que visam valorizar a cultura nacional. “As produções alternam-se durante a Olimpíada e vão mostrar para o mundo nossa música. A gente já aprendeu com eles lá fora. Já fizemos muitas releituras de peças da Broadway aqui no Brasil. Agora chegou a vez da gente se mostrar”, disse Aniela.
Apesar do entusiasmo, é evidente que o Estado passa por grandes desafios financeiros e de gestão, tendo em vista a falta de pagamento dos servidores públicos, a crise do petróleo e o problema incurável da saúde e educação. No entanto, Luiz Calainho garantiu que o investimento na cultura traz uma nova perspectiva para os cariocas. “Apesar dos desafios que o país está passando, e, principalmente a nossa cidade, nós optamos por prosseguir, porque a cultura molda uma sociedade. A crise dá muito mais vontade de prosseguir. Se as pessoas se retraírem, teremos muito mais dificuldades de atravessar esse momento desafiador. A gente precisa acreditar no nosso Brasil, afinal, a sociedade é construída através de cada indivíduo. Se a gente assume a inércia, tudo se torna ainda mais doloroso”, observou o empreendedor, que ainda concluiu: “A cultura do país molda o DNA de uma sociedade. A Lei Rouanet, por exemplo, é absolutamente importante para esse país. É claro que ela tem pontos a serem melhorados, não há dúvida, mas é uma lei fundamental para o crescimento da nossa identidade”, disse.
A previsão é que o Centro cultural tenha um fluxo diário de 10 mil pessoas através de uma sala de espetáculos com capacidade para mil expectadores. E muito se engana quem pensa que o local estará reservado apenas para a elite carioca. De acordo com Calainho, “toda produção vai assumir o compromisso de se apresentar de graça em pelo menos uma data”, que disse ainda que haverá uma companhia própria do teatro para fazer pequenas produções que serão apresentadas aos domingos pela manhã. Viva a cultura nacional!
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