Carnaval 2020 – “Querem cancelar Paulo Barros”! Vem entender!


Em São Paulo, a Gaviões da Fiel, na qual fez a sua estreia neste 2020, quase foi rebaixada hoje. Amargou o 11º lugar. A coisa está feia pro lado de PB. O povo quer de volta o DNA festivo e original do espetáculo, porque cansou de integrar uma cadeia de DNA artificial, criada em um laboratório de fabricação de alegorias humanas

*Por Vagner Fernandes

Querem cancelar Paulo Barros do Carnaval carioca. E também da folia paulistana. Não, ele não saiu de índio no Cacique e nem no Acadêmicos do Baixo Augusta de braços dados com Alessandra Negrini. No Rio, o carnavalesco, famoso por criar sincronização de movimentos de um mar de gente em cima de carros alegóricos, vem provocando a ira de tijucanos e fãs da Unidos da Tijuca. Os especialistas corroboram, ressaltando que Paulo apresentou nesta segunda um desfile confuso e pouco original para a agremiação com que se consagrara ao abocanhar três títulos. Em São Paulo, a Gaviões da Fiel, na qual fez a sua estreia neste 2020, quase foi rebaixada hoje. Amargou o 11º lugar. A coisa está feia pro lado de PB. Torcida de escola de samba é igual a de time de futebol. Se a performance do clube vai mal no campeonato, a grita é inevitável e a substituição do técnico também. A Gaviões, escola ligada ao Corinthians, já sofre pressão dos torcedores.

Paulo Barros nunca foi unanimidade. Desde 1994, quando estreou na Vizinha Faladeira, conquistou cinco títulos, quatro desses em escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Além das três vitórias pela Unidos da Tijuca, ganhou um troféu pela Portela, que acabaria sendo compartilhado com a Mocidade em uma das maiores polêmicas do Carnaval carioca. É um profissional controverso. E caro. Tem uma estética singular, não conservadora, que o permite flertar com elementos circenses e até do esporte. Já pôs números de mágica e personagens da Hanna Barbera em comissão de frente, homem-aranha escalando uma alegoria, Michael Jackson junto com Luiz Gonzaga e também lançou mão de um bailarino sobre flyboard dentro de uma piscina gigante na cabeça de desfile.

O trabalho de Paulo Barros não prima pela originalidade, majoritariamente. Mas sempre encantou o público e o júri. Nos últimos anos, a recorrência aos conceitos que o alçaram ao primeiro time de carnavalescos veio apresentando esgotamento de sua criatividade com o consequente clamor de foliões por renovação. Ele, no entanto, insiste em permanecer mergulhado no que crê ser a vanguarda do Carnaval. A nova geração de criadores, que tem entre os expoentes Leandro Vieira, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, busca exatamente resgatar e ressignificar a festa a partir do legado de Joãosinho Trinta, Fernando Pamplona, Fernando Pinto. Até Renato Lage, consagrado como o mais high tech profissional dos desfiles, percebeu a necessidade de dar um passo atrás para avançar no conjunto simbólico-cultural dos desfiles à frente. Ao lado de Márcia (Lage), reconceituou-se com frequência em projetos tão belos quanto necessários no Salgueiro e, agora, na Portela.

O movimento pelo cancelamento de Paulo Barros não tem sido liderado pelos lacradores do politicamente correto. São comunidades e amantes das agremiações para as quais ele presta serviço que anseiam por uma reviravolta amistosa, com mais emoção e menos egolatria, mais coletividade e menos individualismo,  mais amor às tradições e menos aos contratos, mais desfile libertário e menos cerceamento conceitual. O povo quer de volta o DNA festivo e original do espetáculo, porque cansou de integrar uma cadeia de DNA artificial, criada em um laboratório de fabricação de alegorias humanas.