Caio Fernando Abreu como inspiração para peça virtual sobre identidade, solidariedade e família na pandemia


Escrito e dirigido por Renato Farias, ‘Vizinhos’, estreia hoje gratuitamente pelo Youtube para comemorar os 16 anos da Companhia de Teatro Íntimo

Nesta sexta-feira (18), estreia no canal do YouTube da Companhia de Teatro Íntimo com ingressos retirados pelo Sympla, ‘Vizinhos’, espetáculo que marca os 16 anos de pesquisa do grupo. Escrito e dirigido por Renato Farias, que divide a cena com o ator João Manoel, a montagem inédita fica em cartaz durante um mês com acesso gratuito e aborda um encontro inusitado, cercado de mistérios e revelações, entre dois vizinhos. A peça / filme mistura linguagens para lembrar que, especialmente em tempos de pandemia, “na Terra, somos todos vizinhos”.

Renato Farias, que divide a cena com o ator João Manoel, a montagem inédita fica em cartaz durante um mês com acesso gratuito e aborda um encontro inusitado, cercado de mistérios e revelações, entre dois vizinhos (Foto: Thaisa Lotta)

Renato Farias, que divide a cena com o ator João Manoel, a montagem inédita fica em cartaz durante um mês com acesso gratuito e aborda um encontro inusitado, cercado de mistérios e revelações, entre dois vizinhos (Foto: Thaisa Lotta)

No período de isolamento pela pandemia de Covid-19, Matheus, um jovem negro recém-chegado dos Estados Unidos para visitar a família adotiva e descobrir informações sobre sua família biológica, torna-se vizinho de Renato, um técnico de natação branco, de 50 anos. A relação dos dois, como de muitos vizinhos, tem momentos de tensão e irritação, mas também de amizade, cumplicidade e parceria. E, certamente, irá mudar a vida de ambos. “A peça foi escrita e se passa em abril de 2020, nas semanas iniciais da pandemia, retratando a perplexidade de não saber como reagir a um evento que parou o planeta. Isso fez com que o texto brotasse quase como uma urgência. Foi como se a vida toda eu estivesse me preparando para aquele momento, para criar esses dois personagens que falam tanto da necessidade que temos uns dos outros para sobreviver”, adianta Renato, sobre seu primeiro texto para o teatro.

“A peça foi escrita e se passa em abril de 2020, nas semanas iniciais da pandemia, retratando a perplexidade de não saber como reagir a um evento que parou o planeta" (Foto: Thaisa Lotta)

“A peça foi escrita e se passa em abril de 2020, nas semanas iniciais da pandemia, retratando a perplexidade de não saber como reagir a um evento que parou o planeta” (Foto: Thaisa Lotta)

O texto teve inspiração na escrita de Caio Fernando Abreu, uma grande referência para o autor. “Caio trazia a vivência LGBTQIA+ para seus textos com muita naturalidade. Meu orgulho é ter aprendido com ele que não temos que ter pudor de retratar nossa sensibilidade e, sobretudo, a beleza do nosso amor. Apesar dos enormes retrocessos recentes, já avançamos muito nas nossas conquistas de cidadania. É preciso ter coragem de expor que realmente toda forma de amor vale a pena” salienta Renato, que divide a direção do trabalho com Rafael Blasi, Rafael Sieg e Raphael Vianna.

 A experiência das primeiras semanas de isolamento resultou num texto com diálogos intensos e ágeis sobre questões que pretendem atravessar a plateia que, certamente, irá se identificar com a costura de fortes aspectos contemporâneos. “A peça quando escrita é literatura; o texto, quando encenado, vira teatro. A vivência dessa diferença é que permite aos dramaturgos evoluírem cada vez mais na escrita para o palco. A Lei Aldir Blanc trouxe uma possibilidade rara para dramaturgos brasileiros: encenar um texto logo após a escrita”, celebra Renato sobre o projeto, que possui recursos aprovados através da Lei Aldir Blancpor meio do Governo Federal, do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro.

"Aprendi que não temos que ter pudor de retratar nossa sensibilidade e, sobretudo, a beleza do nosso amor. Apesar dos enormes retrocessos recentes, já avançamos muito nas nossas conquistas de cidadania” (Foto: Thaisa Lotta)

“Aprendi que não temos que ter pudor de retratar nossa sensibilidade e, sobretudo, a beleza do nosso amor. Apesar dos enormes retrocessos recentes, já avançamos muito nas nossas conquistas de cidadania” (Foto: Thaisa Lotta)

Abordando importantes questões raciais, Renato, que se auto declara um branco antirracista, foi cuidadoso para abordar o tema. “O personagem João Matheus expressa meu desejo de ver personagens negros além de estereótipos e reduções racistas. Estudei muito, fui aluno de professores importantes, como Conceição Evaristo e Nei Lopes, e trabalhei lado a lado com muitos criadores negros para me sentir à vontade em criar este jovem cientista social, que entende a importância da ancestralidade na construção da sua identidade. O fato dele ter estudado fora do país expõe a dificuldade de seu pai, empresário branco, em lidar com a presença de um filho negro. Já a volta para o Brasil define Matheus: ele sabe que precisa descobrir quem realmente é para seguir adiante ainda mais potente e lutar, na prática, contra a desigualdade social brasileira”, pontua o autor.

“O personagem João Matheus expressa meu desejo de ver personagens negros além de estereótipos e reduções racistas" (foto: Thaisa Lotta)

“O personagem João Matheus expressa meu desejo de ver personagens negros além de estereótipos e reduções racistas” (foto: Thaisa Lotta)

 Estreando no teatro adulto profissional, com forte presença cênica na pele de Matheus, João Manoel apontou alguns elementos de sua criação ao longo do processo de três meses de ensaios diários. “Buscamos referências de séries e filmes com protagonismo preto, tendo atenção ao seu estilo, postura e discurso. Como pessoa, me identifiquei profundamente com muitas das questões que o personagem e que a história me trouxeram. Me percebi, me questionei, me confirmei… Colocar os dreads foi  crucial na minha criação, pois passei a me olhar de uma forma diferente diante do espelho e da vida. Acho que esta peça fala sobre pertencimento, sobre busca, sobre aceitação e sobre as descobertas que são necessárias pra sabermos quem somos de verdade”, encerra o ator.

 

SERVIÇO:

 ‘Vizinhos’

Temporada: 18 de junho a 18 de Julho

 Horário da Temporada: Tempo integral (disponível 24h por dia)

 Onde: Ingressos gratuitos disponíveis pelo Sympla – http://www.sympla.com.br/vizinhos

Duração: 70 minutos

Classificação Indicativa: 14 anos

Gênero: Comédia Romântica

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