*Por Brunna Condini
Levando o sucesso que faz com o público para o teatro em seu primeiro stand-up, ‘100% Cacau‘, no Teatro Miguel Falabella, Zona Norte do Rio de Janeiro, até o final de agosto, Cacau Protásio fica apreensiva com o resultado do seu trabalho mesmo após 22 anos de profissão. “Fico nervosa. Estar sozinha em cena, contando histórias minhas… É muita pretensão de uma pessoa, né? (risos). Mas deu certo. Ter essa resposta do público, em um cenário pós período difícil com pandemia, com todo mundo duro, não tem preço. Sei que o primeiro corte no orçamento foi o lazer”, conta Cacau, acreditando que o espetáculo a está aproximando ainda mais do público: “No fim da sessão, eu abro para as pessoas perguntarem o que quiserem sobre a minha vida, com exceção de política e religião. Tenho recebido um retorno muito positivo, as pessoas dizem que as inspiro”.
E a pedido do site, dá um pequeno spoiler de uma das histórias do solo. “Sempre fui muito encalhada, tinha dificuldade de arrumar alguém. Os meninos não queriam me namorar. Até hoje a mulher preta sofre com isso, essa solidão. E eu sou preta e gorda, ninguém queria ficar comigo, me dar a mão. Graças a Deus, aconteceu mais tarde, mas rolou. Me casei aos 40 anos e vivo muito bem com meu marido, nos amamos”, revela a atriz, que está com o fotógrafo Janderson Pires há uma década.
“Eu e o Janderson somos parceiros, nos colocamos para cima o tempo todo. Nos inspiramos e apoiamos muito. E temos humor na convivência. Às vezes ficamos fazendo ceninha de teatro entre nós, sabe? É divertido. Não nos levamos a sério, é leve. Gostamos de tomar banho juntos, batendo papo. A gente se permite viver essa relação com plenitude e buscamos alguma sabedoria nesta convivência.”. Cacau também nos atualiza sobre o andamento dos planos de adoção do casal, que já está em processo. “Estamos tendo algumas reuniões e precisamos de 10 para a habilitação. Quando isso tudo começou, queríamos um bebê, mas, agora, já abrimos para adoção tardia, até uns 9, 10 anos. Essas são as crianças que mais sobram nos lares”, revela ela, que já é mãe de uma ‘filha de quatro patas’, a cachorrinha Sambinha.
Homenagens
Cacau sobe ao palco desejando celebrar sua trajetória artística. “Quem gosta do meu trabalho, da Zezé de ‘Avenida Brasil‘ (2012), da Terezinha do ‘Vai Que Cola‘ e da Shirley de ‘Família Paraíso‘, pode garantir o ingresso, porque todas essas mulheres e outras personagens que já representei, vão ter suas histórias contadas em cena”, anuncia. E compartilha mais um momento que poderá ser conferido pelo público: “Faço uma homenagem ao Paulo Gustavo (1978-2021), e também aos profissionais de Saúde, falo e me emociono. O meu figurino é uma roupa de enfermagem e um jaleco de médico. Passamos momentos muito difíceis nesta pandemia. Então, voltar ao teatro, fazendo stand-up, com a casa cheia, é maravilhoso. Estar aqui hoje, depois de tudo que passamos, é para agradecer demais a Deus, ao SUS e à vacina. E, claro, aos médicos e enfermeiros que trabalharam incansavelmente”, enaltece.
“E no meio disso tudo, perdi um querido amigo, o Paulo Gustavo. Ele abriu portas para muita gente, e para que eu estivesse hoje em cima de um palco falando tudo isso. Faço para ele e para quem cuida dos outros, os profissionais de Saúde. Sonho muito com o Paulo Gustavo, em uma semana, foram três dias. Os sonhos foram sobre um assunto pessoal, mas ele vinha me dizer que daria tudo certo”.
Cacau é inacreditavelmente tímida. “Fiquei assim depois de conhecida, quando pequena era sem vergonha. Acho que é medo de errar. Hoje, a internet está implacável, não tem mais espaço para erro, não tem perdão, então, às vezes, fico quietinha, acho melhor, sabe?”. Mas enlouquecida pelo seu público. “Fico tensa, querendo saber se vou agradar, se as pessoas vão achar engraçado. Tenho respeito pelas pessoas que saem das suas casas para me assistir. Quero que saiam do teatro felizes. Estou 100% ali para o público, inteira”.
No tempo certo
Aos 47 recém completos, ela fala sobre o passar dos anos. “Tudo na minha vida aconteceu mais tarde. Casei com 40, e foi só depois de ‘Avenida Brasil‘ que minha vida profissional deslanchou. Me realizei muito mais depois dos 40, senti o verdadeiro amor, visitei o exterior. Sou mais feliz hoje. A única coisa chata deste período, é a menopausa. Ela vem sem avisar e fica (risos). Comecei os sintomas aos 45 e estou nela, é um calor surreal. Falo disso na peça e a mulherada se identifica. Mas está tudo certo com a idade, me sinto muito melhor hoje”.
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