Bruce Gomlevsky volta ao Rio com ‘Renato Russo – O Musical’, que roda o país há 13 anos


‘Ele faz muita falta, especialmente nesse momento de tanta desinformação. A ignorância reina’, disse o ator

*Por Jeff Lessa

Há quase 13 anos Bruce Gomlevsky e Renato Russo (1960-1996) são inseparáveis. Esse é o tempo que o ator estrela o musical sobre o astro, um dos mais influentes da cena do rock brasileiro desde sempre. Pois “Renato Russo – O Musical” ganha remontagem no Rio a partir de sexta-feira (dia 10), no Theatro NET Rio, onde fica em cartaz até 2 de junho. Na época da estreia, em 2006, a peça causou o maior falatório devido à impressionante semelhança de Gomlevsky com o músico, não apenas na voz e no físico, mas também em seus tiques e gestos. O espetáculo ganhou o Prêmio Shell daquele ano e, de lá para cá, já foi apresentado em mais de 50 cidades brasileiras.

A semelhança física entre Renato Russo e o ator impressiona, mas os gestos também são perfeitos (Foto de Guga Melgar)

A semelhança física entre Renato Russo e o ator impressiona, mas os gestos também são perfeitos (Foto de Guga Melgar)

Para o ator, reencontrar um personagem tão complexo e que exige tanto controle para não resvalar na caricatura não foi difícil. Controle para, inclusive, não fazer um cover do músico, como repetiu em vários momentos ao longo desses 13 anos: “Sou ator”.

– É como andar de bicicleta. Com dois ensaios, relendo as marcações, eu já estava pronto – diz o ator, para quem “passar” tanto tempo com Renato tem sido um prazer. – Sempre esteve muito próximo de mim. Cresci ouvindo Legião Urbana. E ele tinha uma característica que eu admiro muito: era um erudito, um cara extremamente culto. Conseguiu ter toda essa erudição e ser popular, atingir o coração das pessoas. Estive no apartamento dele em Ipanema e fiquei impressionado com a quantidade de referências em cinema, literatura, artes plásticas, teatro.

Bruce Gomlevsky em cena como o vocalista da Legião Urbana (Foto de Guga Melgar)

Bruce Gomlevsky em cena como o vocalista da Legião Urbana (Foto de Guga Melgar)

Idealizada por Gomlevsky a partir da leitura da biografia “Renato Russo – O Trovador Solitário”, lançada pelo jornalista Arthur Dapieve em 2000, a peça tem dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho e direção de Mauro Mendonça Filho. Para contar a história do poeta e cantor, reúne 22 canções. O texto acompanha sua trajetória desde a doença na adolescência que o deixou por dois anos numa cadeira de rodas, passando por seu envolvimento com o movimento punk de Brasília, a banda Aborto Elétrico, o sucesso com a Legião Urbana e a relação com o filho, até a morte em decorrência do vírus HIV.

A poesia de Renato, muitas vezes politizada e sempre inteligente e crítica, atrai gente cada vez mais jovem, que vem “descobrindo” sua obra. O fenômeno não surpreende Gomlevsky:

– Tem uma turma que está com 13, 14 anos que vai nos ver bastante. A música dele é atemporal. As letras tratam de amor, amizade, ética, temas que nunca vão deixar de ser relevantes.

Bruce Gomlevsky cresceu ouvindo as bandas brasileiras que surgiram e fizeram sucesso a partir da década de 1980. Titãs, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e, obviamente, Legião Urbana. No palco, ele tem a oportunidade de cantar sucessos como “Eduardo e Mônica”, “Tempo Perdido”, “Será”, “Geração Coca Cola”, “Pais e Filhos” e “Ainda é Cedo”, entre outras. Mas também estão presentes canções anteriores ao sucesso, como as do álbum “O Trovador Solitário”, gravado no intervalo entre o Aborto Elétrico e a Legião, além de músicas da carreira solo, acompanhado pela banda Arte Profana.

Politizado como era, Renato certamente não deixaria o momento atual passar sem lançar seu olhar crítico sobre a realidade:

– Ele faz muita falta, especialmente nesse momento de tanta desinformação. Os políticos não conhecem o nosso métier, aqueles que dizem que mamamos nas tetas do Estado não conhecem as leis de incentivo à cultura. A ignorância reina. A gente não fala de paz, saúde, educação. Da laicidade do Estado. Desaprendemos a conversar, não conseguimos discutir de maneira democrática. Isso é autoritarismo. E autoritarismo não é nem de direita e nem de esquerda.

O jeito de cantar com o microfone quase colado à boca era uma das marcas de Renato (Foto de Guga Melgar)

O jeito de cantar com o microfone quase colado à boca era uma das marcas de Renato (Foto de Guga Melgar)

Para ele, “Renato Russo – O Musical” é fundamental no cenário sócio-político-cultural brasileiro atual.

– “Que País é Esse?” foi composta em 1978. O Renato só gravou em 1987, no disco homônimo, o terceiro da Legião. Não gravou antes porque tinha medo de que, com a abertura política e a redemocratização, tivesse ficado datada, obsoleta – conta Gomlevsky. – No entanto, suas palavras nunca foram tão atuais.

 

SERVIÇO

Renato Russo – O Musical

Theatro NET Rio: Rua Siqueira Campos 143, 2º piso, Copacabana – 2147-8060

10 de maio a 2 de junho

 

Ingressos:

Plateia: Sexta e Domingo – R$ 120 inteira / R$ 60 meia-entrada

Sábado – R$ 150 inteira / R$ 75 meia-entrada

Frisas: Sexta e Domingo – R$ 120 inteira / R$ 60 meia-entrada

Sábado – R$ 150 inteira / R$ 75 meia-entrada

Balcão: R$ 100 inteira / R$ 50 meia-entrada

Balcão 2: R$ 50 inteira / R$ 25 meia-entrada

 

Horário: Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 20h

Classificação etária: 12 anos

Duração: 120 minutos