Bruce Gomlevsky vive um violento capitão do mato em “Liberdade, Liberdade” e afirma ao HT: “O Brasil é um país muito racista”


O ator ainda falou sobre o processo de impeachment no Brasil. “Eu fiquei com vergonha da Câmara que a gente tem. É muito louco ver deputados defendendo torturadores da Ditadura Militar, que são homofóbicos e reacionários. Espero que a democracia vença”

Bruce Gomlevsky está preparado para ser odiado pelo público brasileiro. Conhecido por interpretar personagens mais carismáticos na telinha e nas telonas, o ator encara, agora, sua primeira novela de época e um vilão que ainda vai dar muito pano pra manga, em “Liberdade, Liberdade”. Braço direito da controversa Dionísia, vivida pela atriz Maitê Proença, o capitão do mato Malveiro é protagonista de cenas violentas e racistas no novo folhetim das 23h. “Ele trabalha na chácara da Dionísia e faz o serviço sujo. Apesar de ser um capanga muito violento, ele só recebe ordens. É chicote, tiro e porradaria o tempo todo”, brincou o ator, que torce por um envolvimento do vilão com a fogosa patroa. “Ainda não tem nada escrito sobre isso, mas seria uma questão bem interessante”, disse.

Bruce Gomlevsky (Foto: Divulgação)

Bruce Gomlevsky (Foto: Divulgação)

Para compor o feitor, Bruce, que também está no elenco do filme “O Escaravelho do Diabo”, conta ao HT que precisou dedicar algumas horas de seus dia para se tornar um jagunço de primeira linha. “Como a novela é de época e ele é um grande vilão, eu tive que me distanciar bastante de mim mesmo para criar esse cara. A gente estudou por quase dois meses. Tive aula de prosódia, de sotaque, de esgrima, de tiro, de equitação… foi muito interessante”, disse ele, que ainda aproveitou para contar que a trama traz cenas de agressão que há tempos não se via na dramaturgia. “Ele maltrata muito os escravos. É uma energia pesada. Às vezes eu chega a sair mexido das gravações. É um grande desafio”, afirmou ele, que tem aproveitado esse mergulho épico para fazer o espetáculo “Uma Ilíada”, que acaba de reestrear no Teatro Maison de France, no Centro do Rio. “É o primeiro texto épico do Ocidente. Toca em questões míticas. Fala da ferocidade, da animosidade, da ganância, das guerras. Isso prende as pessoas. Me coloco como um contador de histórias em cena. E chego no teatro com essa carga do Malveiro”, contou.

Bruce Gomlevsky como Malveiro em "Liberdade, Liberdade" (Foto: Divulgação)

Bruce Gomlevsky como Malveiro em “Liberdade, Liberdade” (Foto: Divulgação)

Questionado sobre preconceito racial que ainda existe no país, o ator é taxativo: “O Brasil é um país muito racista. Infelizmente, mesmo por debaixo dos panos, é um país racista. Existe uma coisa velada, que eu acredito ser ainda pior. A novela traz a chance de a gente discutir esse assunto. Vamos aproveitar o alcance que a televisão tem para abordar esse tema que precisa ser debatido”, ponderou o ator, que deixou clara sua indignação quanto ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Eu fiquei com vergonha da Câmara que a gente tem, sabe? Eu sou à favor da democracia. Eu acho que esse governo tem um milhão de problemas, mas eu fiquei chocado com as pessoas que estão julgando a Dilma. É muito louco ver deputados defendendo torturadores da Ditadura Militar, que são homofóbicos e reacionários”, disse. “O problema é que o país está parado e o foco fica voltado para isso. Espero que a democracia vença”, afirmou.