Balanço do Amor: É preciso mais do que gritar gratidão nas redes sociais sem sequer se colocar no lugar do outro


Nesse artigo, Alexei Waichenberg afirma: “Não dá para querer empurrar o balanço quando ele vem para cima de você. Seja delicado, atento, cuidadoso. Surpreenda-se consigo mesmo. Você não é o público que vai aplaudir sua própria atuação. Olha para o lado. Tem sempre alguém precisando do seu aplauso”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Numa resenha com um bom amigo ator, comentávamos o quanto o mundo caminha mal. E o quanto é preciso de cada um de nós para efetivamente não deixar que tome assento a raiva, o ego, a mais valia.

É preciso mais do que simplesmente gritar gratidão em uníssono nas redes sociais, cumprir protocolo e discursar sobre sororidade. Mais do que falar de empatia sem sequer conhecer os contornos do outro e tentar sentar na janelinha e charlar de que se coloca nesse ou naquele lugar.

Falta um discurso de amor que atinja a todos. Não um discurso de frases feitas, mas outro capaz de perdoar, perdoar com verdade. Claro que é triste flagrar o defeito do outro. Desolador e pior é testemunhar suas próprias falhas. Mas logo já vamos esquecer do sabor de nos depararmos com as nossas próprias virtudes e desistir antes de flertar com a admiração que já não sentimos pelo outro.  Sinto falta da vontade de velar o sono do meu amado.

“Falta elogio, falta o tempo do afeto, falta debruçar na própria vida”

Cada ser humano tem no coldre as armas infalíveis para empunhar a perseverança de amar. Amar não é um processo qualquer de organização mental, mas a persistência do querer bem.

Falta elogio, falta o tempo do afeto, falta debruçar na própria vida. De boia e da borda não se pode enxergar o outro lado. Há que ser destemido para que não falhemos à missão de felicidade e possamos compreender a perfeição de sermos humanos e podermos falhar todos os dias, se a missão for partir para um abraço.

Não dá para querer empurrar o balanço quando ele vem para cima de você. Seja delicado, atento, cuidadoso. Surpreenda-se consigo mesmo. Você não é o público que vai aplaudir sua própria atuação. Olha para o lado. Tem sempre alguém precisando do seu aplauso. Evoé!