Uma constelação de artistas de várias gerações se reuniu ontem, no Teatro Poeira, em Botafogo, para prestar suas últimas homenagens ao diretor e dramaturgo Naum Alves de Souza, com a leitura da emblemática peça “A Aurora da Minha Vida”. Naum, que morreu em abril deste ano – de causas ainda desconhecidas -, contribuiu para a formação de vários atores com a fundação do Pod Minoga Studio, em 1972 – grupo experimental de teatro que incorporava novas linguagens como as do circo, teatro de revista, ópera, cinema e rádio. Na homenagem, nomes como Marieta Severo, Guilherme Piva, Pedro Paulo Rangel, Bel Kuttner, Silvia Buarque e grande elenco se revesavam entre os personagens da trama para reviver a antológica produção. E como não poderia deixar de ser, nós, do HT, estávamos lá e te contamos tudinho o que aconteceu nessa celebração do teatro brasileiro.
Idealizada pelo ator e diretor Gustavo Wabner, a homenagem reuniu as três gerações de atores que participaram das montagens cariocas (1981, 2004 e 2011). “A ideia foi dividir a peça em três partes, para que as três gerações de ‘Aurora’ pudessem nos ajudar nesta homenagem. Trabalhei ao lado dele nos últimos 15 anos da minha vida como seu assistente. Ele era um grande mestre”, disse Wabner.
A história, que se passa dentro de uma sala de aula em uma escola dos anos 70, é baseada na própria experiência do autor como aluno e professor. Dividida em vários quadros, a peça mostra as relações e conflitos dentro de um sistema escolar repressor e antidemocrático de uma maneira leve e divertida. Tudo vem à tona nos personagens denominados por suas características ou funções, em um tempo de grandes revoluções, de desejo de liberdade e de muita palmatória para o “próprio bem”. É um clássico do ontem, do hoje e do amanhã. Uma obra sobre a crueldade das relações, mas envolvida em uma capa de poesia criada com o humor muito singular de Naum.
Muito emocionada, Marieta Severo contou como foi reviver a peça que deu um novo fôlego para o sua carreira teatral. “Foi lindo! Foi uma merecidíssma homenagem que nós todos devíamos a ele. Naum foi muito importante nas nossas vidas. Era um dos meus grandes amigos. A gente queria poder mostrar um pouquinho mais do trabalho dele ao juntar as três gerações da peça. Pudemos desvendar muitas facetas desse artista que ele foi. Foi divertido e emocionante como ele era”, comentou a atriz, que ainda aproveitou para falar um pouco de sua relação com o dramaturgo. “É uma falta na minha vida enorme que eu ainda não consegui realizar. Ele era um dos meus melhores amigos e foi um divisor de águas na minha trajetória. Eu descobri muito da minha identidade como atriz através dele. Ele era um professor. Eu acho que ele me ajudou a descobrir um jeito meu de ser”, avaliou Marieta.
Já Pedro Paulo Rangel, que também participou da montagem de 1982, lembrou da importância do seu trabalho com Naum. “Esse convite do Gustavo foi muito emocionante. ‘A Aurora da Minha Vida’ foi importantíssima na minha carreira de ator. Com ela eu ganhei o meu primeiro Prêmio Moliére. Eu desejo que mais atores façam mais turmas para imortalizar essa história tão bacana”, comentou. Integrando o elenco de 2004, Guilherme Piva adianta que, muito antes de ser ator, já havia assistido ao espetáculo. “Eu sempre tive o sonho de fazer ‘Aurora’, e depois que fiz a peça a gente virou amigo pessoal. Foi uma perda muito grande”, avaliou. “Quando eu era mais novo, eu vim conhecer o Rio, e, aos 13 anos, assisti ‘Aurora’ com a Marieta e eu fiquei encantado. Hoje foi um dia incrível”, comemorou.
Pouca gente sabe, mas Naum criou e confeccionou os bonecos brasileiros da “Vila Sésamo”, programa infantil apresentado na TV entre 1973 e 1977 (ele foi o criador do Garibaldo e do Gugu, que deixaram saudades). Também foram dele os cenários e os figurinos do espetáculo “Falso Brilhante”, de Elis Regina, e de “Macunaíma”, de Antunes Filho, em 1978. Naum também é autor de peças como “No Natal a Gente Vem te Buscar”, “Um Beijo, um Abraço, um Aperto de Mão” e “Suburbano Coração”
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