*Por Carla Andrade
Superação é a melhor palavra para traduzir a trajetória da atriz Izabella Van Hecke. Depois de ser obrigada a cancelar a estreia da peça “Super Moça”, no Teatro Clara Nunes, em 2017, por conta de um incêndio que destruiu os cenários e o palco, ela recebeu a indicação ao Prêmio de Humor 2019 e concorre hoje, na cerimônia realizada no Jockey Club, com Daniela Fontan, Isabelle Marques, Marcelo Nogueira, Mateus Cardoso, Pedroca Monteiro, Rodrigo Sant’Anna e Zéu Britto, na categoria Melhor Performance.
Estar entre os artistas selecionados para a premiação foi uma surpresa, principalmente por ser seu primeiro trabalho. A atriz contou ao site HT como soube da indicação: “Estava em um laboratório com meu filho, esperando que ele fizesse um exame quando meu amigo e ator Alexandre Lino ligou para contar. Quase morri na hora e comecei a gritar de tão feliz e falar da novidade para a recepcionista. Meu filho queria enfiar a cabeça na terra, de vergonha, por minha reação tão eufórica. Concorrer com grandes nome da comédia é uma honra, me sinto como aquele cavalo azarão que o Fantástico mostra na hora do futebol.”
Indagada sobre suas chances e expectativa para o resultado ela disse: “Independente de quem for premiado, todos os presentes na noite vão saber quem é a Izabella Van Hecke e isso me basta. A sensação que eu tenho é que sou uma vitoriosa.”
Vale frisar que na época do incêndio, a atriz não contava com patrocínio. Quem bancou a montagem da peça foi ela própria e o amigo Rafael Carreteiro, atual produtor, com parte da rescisão recebida com o fechamento Varig, onde ambos trabalharam durante 12 anos.
Na tentativa de recuperar o investimento perdido, a peça foi apresentada na Praça Santos Dumont, na Gávea, e a atriz promoveu uma “vaquinha” online para levar adiante o projeto. A surpresa foi ver o retorno imediato de seu público, amigos e de artistas como Mariana Ximenez, Mônica Martelli e Agnaldo Silva. Sem falar nos profissionais da área que se ofereceram para trabalhar na remontagem da peça.
O espetáculo conta as aventuras de Pérola, uma comissária de voo nada convencional e totalmente fora dos padrões estabelecidos, que se aposenta depois de 25 anos no mercado. Ela é gordinha, atrapalhada e tem a alma suburbana, como a atriz gosta de ressaltar.
“Pérola é do povo e bem diferente das demais. É uma mulher de 45 anos, totalmente fora do curso, que odeia Paris e adora Iguaba. Nunca fui padrão e isso não me incomoda, pelo contrário. Ser diferente foi combustível para minha caminhada. Já vivi situações de preconceito e nunca me fiz de vítima”, comenta.
Para escrever a peça, ela usou toda sua vivência dentro da aviação e diversas situações em incontáveis voos, além de pesquisar histórias de outras aeromoças. O responsável pelo roteiro final é Márcio Azevedo. “Durante o processo de criação, ele me disse que nossa missão era escrever um texto que mostrasse aos passageiros que os comissários de bordo e aeromoças são verdadeiros agentes de segurança, treinados para salvar vidas e não apenas os que servem o lanche. Tudo com muito humor”, comenta.
Momentos tensos já fizeram parte da carreira de Izabella como aeromoça: “Já tive que lidar com dois passageiros com princípio de enfarto, com uma mulher que entrou em trabalho de parto, pousos forçados e sempre demonstrando tranquilidade e domínio das situações. Certa vez, uma passageira embarcou carregando consigo a urna funerária com os restos mortais de seu marido e teve uma crise depressiva no trajeto. Fiz um trabalho de psicóloga com ela”.
Largar uma carreira sólida e ousar traçar outros planos aos 42 anos não é para qualquer mulher. Amante das artes cênicas, ela teve uma referência para lá de especial desde sua adolescência. “Sou muito amiga da Luciana, filha de Zezé Motta e passei a minha adolescência convivendo com a atriz que sempre foi uma das minhas favoritas. Lembro que a via na televisão e ficava impressionada com o seu talento. Eu a acho o máximo. Bebi na fonte de uma das maiores atrizes brasileiras e isso aumentou minha vontade de atuar”, afirma.
Para mostrar seu trabalho, ela lançou um canal no YouTube onde divulga vídeos com as peripécias da aeromoça, a maioria deles feita com seu próprio celular, e em pouco menos de dois meses cada material postado passou a ter uma média de 20 mil visualizações. Fora os comentários, em grande parte de aeromoças que se identificam com a personagem. Para a atriz, “Pérola passou a ser a voz de todas e ajudou no processo de empoderamento de cada uma, além de fazê-las acreditar em suas potencialidades.”
A atriz revelou alguns planos para o futuro. Boas novas foram trazidas pela amiga Thaís de Campos, que, atualmente, mora em Lisboa, e sua empresária Drica Donato. As duas se uniram e têm como objetivo levar o espetáculo para os palcos portugueses até o final do ano. Outro projeto é preparar uma série nos moldes das produzidas pela NetFlix.
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