Atriz e cantora, Raiane Cantisano é a cara do Brasil na Broadway, em NYC


A carioca mudou-se para Nova York há três anos, estudou o método Lee Strasberg – o mesmo que formou atores como Marylin Monroe, Angelina Jolie e Marlon Brando -, e ganhou prêmios por sua atuação em peças off-Broadway

*Por Karina Kuperman

O que famosos do primeiro escalão como Angelina Jolie, Jane Fonda, Marylin Monroe, Al Pacino e Marlon Brando tem em comum? Todos eles passaram pelos palcos e classes de um dos mais prestigiados professores de atuação dos Estados Unidos, Lee Strasberg. E foi justamente a escola de Strasberg que a atriz e cantora brasileira Raiane Cantisano escolheu quando se mudou do Rio de Janeiro para Nova York, há três anos, para seguir sua paixão: a arte. “Foi nessa cidade que eu descobri meu amor por tudo isso. Desde pequena eu tive a oportunidade de conhecer a cena teatral daqui e foi então que soube que esse seria o caminho da minha vida. Sempre que esteva na cidade eu me sentia inspirada a criar e a contribuir artisticamente com o mundo. Daí quando a oportunidade de estudar aqui pintou, eu pensei, por que não?”, contou, com exclusividade. 

Sua estreia na cidade não poderia ser melhor: Raiane arrematou o papel principal no aclamado “Child’s Play”, onde interpretou uma criança abusada que havia perdido sua voz, tudo sob a direção de Brock Harris Hill, com a Rising Sun Performance Company. Depois, veio a intensa Mariana na peça “Snipped / Cut / Tied: Una Noche de Magia”, papel que lhe rendeu uma indicação de melhor atriz na “Planet Connections Theatre Festivity”. Pela repercussão e sucesso de crítica, foi convidada para ser um “Bar”, como se denominam os membros da companhia residente no Flea Theatre (fundada por Jim Simpson e Sigourney Weaver – e, através de um intenso processo de audição, tornou-se parte da produção mais importante da empresa: a paródia feminista hip-hop ms. estrada, apresentada no teatro The Sam. O musical é uma adaptação da comédia grega “Lysistrata” pelo “Q Brothers Collective” (mais conhecido por seu sucesso off-Broadway “Othello: The Remix”) e é dirigido por Michelle Tattenbaum. Em uma peça que explora e expõe temas tão prementes como a igualdade, a cultura do estupro, a sexualidade e os movimentos revolucionários, representar o seu país e ser porta-bandeira da diversidade e da inclusão, era uma honra e um dever. Pensa que acabou? “Nesse momento estou ensaiando duas peças, uma se chama Éléphant e acompanha uma menina que nasceu e cresceu em um bordel em Paris no século dezenove, e outra chamada Raft of The Medusa, que aborda o tema da AIDS nos anos 80. Ambas são parte de um festival renomado no cenário Off-Broadway, o Planet Connections, que está no seu décimo ano”, contou.

Ver o sucesso de uma brasileira fora levanta a questão: como é o mercado para os latinos em Nova York? “Se existe algum mercado eclético e inclusivo nessa cidade ele certamente é o teatro. A maior barreira que a maioria dos brasileiros encontra é o sotaque, que muitas vezes limita os trabalhos para os quais você é escolhido. Assim que me mudei eu comecei a fazer aulas pra neutralizar o sotaque brasileiro, que pode ser muito carregado. Mas fora isso, é um momento incrível para ser etnicamente ambíguo nas artes. Cada vez mais vemos produções “colorblind”que escolhem seus atores pelo talento e não pela cor da pele ou etnia. Inclusive hoje eu assisti à nova peça do Harry Potter (que esse ano ganhou vários prêmios Tony – o Oscar do teatro) e a atriz que faz o papel da Hermione é negra. Foi incrível”, afirmou ela, que sabe que o caminho da off-Broadway para a Broadway é longo. “O segredo é o tempo. É muito raro você ver um artista na Broadway sem inúmeros créditos no currículo. Eu me mudei pra cá há pouquíssimo tempo, sem nenhuma conexão ou contato no meio. Minha família é de médicos, empresários, nada a ver com o meio artístico. Você precisa dar tempo ao tempo, para que as pessoas conheçam seu trabalho e saibam que podem contar com você. Parece óbvio mas é isso que muitas vezes diferencia o ator bom do ator bem sucedido. Você criar uma imagem de que você assume qualquer desafio que vier pela frente”, disse.

Para quem pensa em seguir seus passos, Raiane é incisiva: “Seja completamente apaixonado. Eu vivo, penso e respiro arte 24 horas por dia. Tenha certeza de que é o dia a dia na arte o que te faz feliz. A parte que se vê nos palcos ou filmes não representa 1% do trabalho que existe por trás das cortinas. Para chegar lá, você precisa amar cada passo do processo, seja fazer audições e testes, seja ler peças ou trabalhar no seu instrumento (corpo, voz). E dê tempo ao tempo. Arte não acontece com pressa. É o resultado de muito trabalho e inspiração mas também do espaço entre uma coisa e outra. É no silêncio e na paciência que a mágica acontece”, garantiu ela, que, no Brasil, já passou por cursos como CAL (Casa de Artes de Laranjeiras) e Tablado. “Eu acredito que a sociedade em geral valoriza mais o artista nos Estados Unidos. Nova York em especial tem uma história muito grande com o teatro. As pessoas entendem mais o ofício do ator como uma profissão e não uma paixão ou hobby. Isso é incrivelmente importante quando você aceita papéis ou projetos que te deixam vulnarável e mexem com o lado mais profundo do ser humano. Eu me sinto mais segura para criar e me expressar. No Brasil eu me sentia mais restrita, mais julgada e menos aberta como um artista deve ser”, contou ela, que, apesar disso, considera a hipótese de, um dia, representar pelos palcos e – quem sabe? – telinhas tupiniquins. “Eu cresci vendo novela e atores maravilhosos me levarem aos mais variados lugares através das histórias que contavam. Não tem como não pensar na possibilidade de voltar ao meu país de origem, às minhas raízes. Mas eu ainda não alcancei tudo o que quero aqui então voltar é uma ideia pro futuro, não pra agora”. Ficamos torcendo.