Puro amor. É assim que Maytê Piragibe define seu coração. Artista que se diz intensa, do tipo que se joga e mergulha em cada personagem e sua história, ela está prestes a viver a problemática Guida em “A serpente”, de Nelson Rodrigues, que entra em cartaz na próxima sexta-feira (12), durante a inauguração do Nathalinha, teatro anexo ao recém-aberto Nathália Timberg, na Barra da Tijuca. Feliz com o retorno aos palcos, Maytê bateu um papo sincero e exclusivo com HT e falou, também, da expectativa para viver uma vilã em “Terra prometida”, próxima trama bíblica da Rede Record. Falando nisso, Maytê acredita que, sim, a bíblia é um tema que ainda pode ser muito explorado: “Sem dúvidas é algo divino e inspirador. Uma lente de aumento do livro mais importante da humanidade que é a Bíblia. Estamos em um momento especial para a espiritualidade, todos estão mais conectados e essa literatura é um resgate aos nossos mitos heroicos. São histórias lindas de milagre e superação. Nós precisamos dessa luz em momentos de dificuldade”, defendeu. Com vocês, toda a sinceridade de Maytê Piragibe.
HT: Maytê, qual a sensação de fazer parte de uma peça que estreia o Nathalinha – teatro anexo ao recém-aberto Nathália Timberg?
Maytê Piragibe: Não existem palavras para descrever a felicidade esse momento. Tenho em mim todos os sentimentos do mundo… Quando viajo no tempo com a nossa história, sempre me emociono com os ‘loucos’ que literalmente bancaram a nossa arte. Mecenas que acreditavam no poder da imortalidade, valorizavam a preciosidade criativa que somente uma obra de arte pode eternizar. Acho poético e de extrema inteligência esse investimento para a humanidade. Séculos passam, revoluções tecnológicas constantes e guerras insanas… Mas o que fica realmente de uma nação, para ser admirada? A arte! Seja qual for, arte plástica, sonora ou dramática! Ela que arranca aplausos, tira o ar e transforma. São essas memórias que ficam. Se fincam. Constroem. Solidificam quem somos nós. Em tempos de crise, de falta de patrocínio, muitos teatros fechando as portas, do nosso lazer virar condição de luxo e nessa falta de tudo que estamos vivendo… Revela-se um mecenas do nosso caos. Um guerreiros da arte conhecido e respeitado pelo Brasil, nosso incrível diretor Wolf Maya que está literalmente bancando, construindo e transformando nosso pólo cultural da Barra da Tijuca com a estreia dos dois novos teatros em homenagem à nossa diva Nathalia Timberg.. ️Ele estreia com a peça “33 variações” e nós, “A Serpente” com a direção da Nadia Bambirra. Não poderia ser mais incrível. Tenho em mim todos os sentimentos… Gratidão, define.
HT: “A Serpente” é um clássico de Nelson Rodrigues. Você já conhecia o texto? Como surgiu o convite de fazer parte do elenco?
MP: Já tinha lido esse texto na época que fazia faculdade de artes cênicas, e minha amiga e diretora da peça, Nadia Bambirra, me convidou para uma leitura despretensiosa com o elenco, que também investiu nesse projeto. É uma produção coletiva, estamos muito surpresos com o resultado de tanta dedicação. Foram cinco meses de processo. Sou uma atriz transformada depois desse projeto.
HT: Como é, para uma atriz, interpretar uma peçam de Nelson Rodrigues?
MP: A última peça que fiz foi com o eterno menestrel Oswaldo Montenegro interpretando a intensa Bia do espetáculo “Leo & Bia”. Mesmo sendo cria do teatro desde criança, a televisão me tragou. Precisava conquistar essa estabilidade. Dez anos depois, retorno às minhas raízes. No meu templo, fortalecendo meu esqueleto. Equilibrando minha alma. Nutrindo. Descobrindo novas tintas e me atirando no abismo, todos os ensaios. É preciso coragem..
HT: E qual a sua visão da sua personagem Guida?
MP: Quando a artista mergulha em um projeto, ninguém afirma se o páraquedas vai abrir. Não há nenhuma garantia de que será tranquila a jornada. E são nesses processos catárticos mais intensos, dolorosos e viscerais que a possibilidade de transformação emerge. Naquele lugar insano que você está completamente a serviço da personagem, onde a consciência abre espaço para intuição e a generosidade em cena sempre é o fio condutor principal. A magia do teatro tem me tirado o ar, remexido em células que nem sabia existir, pois cada escolha gera outra múltipla escolha que a cada ensaio, parece não ter a estrada certa. É sem fim. Mas é nessa descoberta, dessas inúmeras verdades, que aprendo a cada dia. Não sobre o certo e o errado, pois personagens estão sempre acima do bem e do mau. Mas da intensidade e as nuances energéticas que transformam relações. Sendo fictício ou real, somos frutos de cada escolha. E assim, resultado das múltiplas equações que não solucionamos sozinhos. Essa é a mágica do coletivo. Todos juntos, mesmo na sua individualidade… Podemos nos atirar no abismo, porque não estamos sozinhos.
HT: Na história, a relação entre as irmãs fica abalada por que uma empresta o marido para a outra. E dividir o marido é um tema pesado, não? Qual sua visão?
MP: Nelson retrata a vida como ela é, com toda sua complexidade e vulnerabilidade. Ele coloca todos as personagens acima do bem e do mau. A minha personagem Guida ama tanto a irmã, que, em um ato de desespero, faz isso para salvá-la. Não cabe julgamento na atitude, o problema é a condução do desespero dessa consequência. Um conflito familiar e a loucura máxima de toda mulher que fica insegura. Guida é tudo que luto para não ser. Ela é a mulher que repulso na minha vida. Está sendo um aprendizado interpretar esse conflito.
HT: Você faria algo assim por uma irmã?
MP: Não saberia dizer. Difícil.
HT: Além da peça você tem se dedicado a novela “Terra Prometida”, né? Já começou a gravar?
MP: Ainda não. Estão focados no fim de “Os dez mandamentos”. Não sabemos de nada ainda.
HT: Depois do sucesso de “Os dez mandamentos”, há uma pressão em repetir isso com “Terra Prometida”?
MP: Todo mundo trabalha almejando o reconhecimento. Mas, para mim, o processo tem que ser mais importante. O sucesso do dia a dia é o que valorizo mais. O reconhecimento é consequência dessa energia de entrega, dedicação e confiança.
HT: Acha que o sucesso de “Os dez mandamentos” abre uma nova era na dramaturgia?
MP: Sim, é um novo gênero a ser explorado. Sem dúvidas é algo divino e inspirador. Uma lente de aumento do livro mais importante da humanidade que é a Bíblia. Estamos em um momento especial para a espiritualidade, todos estão mais conectados e essa literatura é um resgate aos nossos mitos heróicos. São histórias lindas de milagre e superação. Nós precisamos dessa luz em momentos de dificuldade.
HT: Ser uma vilã bíblica é uma pressão, não é, Maytê? Tem medo?
MP: O medo é a falta de amor…. E amor tenho de sobra no meu coração. Vai ser um lindo desafio. Precisava de uma oportunidade dessa para sair do esteriótipo da mocinha. Quero desafios para evoluir no meu trabalho, e, graças a Deus, a Record sempre me dá esse espaço para experimentar novas tintas.
HT: Como é assistir a reprise de “José do Egito”? Mudaria algo?
MP: Mudaria sempre… Sou muito crítica com meu trabalho.
HT: Como está o clima na Record com a Casablanca agora? Mudou algo? E a questão dos contratos?
MP: Tudo permanece igual. Estamos entrando no padrão do mercado internacional. É mais um degrau para crescermos e quebrar o monopólio. Quanto mais espaço tiver para parcerias de produtoras de cinema com a televisão, mais produtos e oportunidades de trabalho aparecerão. Essa é a tendência, agregar valor e unir forças, difundir ideias para ter muitas produções em parceria e aumentar nossa perspectiva de produção. Estou confiante que vai ser melhor para todos.
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