Aretha Sadick sobre Jorge Lafond, que eternizou Vera Verão da TV: ‘Abriu caminhos para todo o movimento LGBTQIAP+’

*Por Rafah Moura

“Vera, como nós mulheres Trans e Travestis abrimos caminhos nas praças e nas ruas para que muito do movimento LGBTQIAP+ pudesse se expressar e ser visto”, foi com essa frase Aretha Sadick, a interprete de Vera Verão, no espetáculo inédito ‘JORGE pra sempre VERÃO’. O texto, de Diego do Subúrbio, é lembrar a trajetória do ator, comediante, dançarino e drag queen brasileiro, Jorge Laffond (1952 – 2003) que ficou esquecido na história da cultura brasileira. Jorge costumava dizer que Vera Verão era uma entidade, que baixava e chegava chegando. “Realmente havia um fundamento de axé importante na energia de Vera Verão e que ‘baixava’ em Jorge; porém eu vejo mais como uma homenagem as Pombagiras e Padilhas, que muito representam uma feminilidade livre das amarras patriarcais. Jorge era um ator e Vera uma personagem, porém, enquanto um homem de terreiro foi extremamente importante que ele expusesse que sua referência de feminilidade forte, ousada e Travesti viesse das entidades de matriz africana”, analisa Aretha.

A diva trans Aretha Sadick está no Teatro Ipanema no espetáculo ‘Jorge para sempre Verão’ (Foto: Gabryel Sampaio)

A montagem, que fica em cartaz até 24 de julho, no Teatro Ipanema, que ingressos com contribuição voluntária (cada um paga o valor que pode) apresenta uma narrativa fictícia permeada por pontos verídicos da trajetória do grande artista que nos deixou tão cedo, aos 50 anos. Sob direção de Rodrigo França, o trio Alexandre Mitre, Aretha Sadick e Noemia Oliveira interpretam, respectivamente, Jorge Laffond, Vera Verão e a Prima, encenando as tantas vivências do grande artista que vivia sob os estigmas sociais impostos sobre quem é negro, LGBTQIAP+, adepto das religiões de matriz africana e cria do subúrbio carioca, mas sempre quebrando barreiras, afinal como a Diva Rogéria, Laffond conquistou ‘as famílias brasileiras’, pelo seu humor na tv aberta.

O trio Alexandre Mitre, Noemia Oliveira e Aretha Sadick elenco do espetáculo ‘Jorge para sempre Verão’

A trajetória das artes desse ícone começou pela dança, ao estudar balé clássico e dança africana, chegando a trabalhar com a grande bailarina e coreógrafa brasileira Mercedes Baptista, a primeira negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Depois formou-se em teatro pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ. Para os palcos foi um pulo, Afinal Laffond trabalhou em muitos cabarés do Rio de Janeiro, desde a Praça Mauá até Copacabana, abria os famosos shows da meia-noite na boate Flórida, Escandinávia, Barbarela e terminava a noite na boate Kiss, em Irajá, às 5h da manhã.

Aos 17 anos começou a se jogar no mundo, viajando por toda a Europa e Estados Unidos com Haroldo Costa, que tinha um grupo folclórico, em que Lafond ficou por dez anos. “Ser Jorge Laffond no teatro é, sem dúvida, um divisor de águas enquanto ator. Traz a responsabilidade de humanizar o indivíduo para além da personagem mais conhecida do público, algo que só não é maior que a honra de fazer parte de um movimento de resgate desse ancestral tão fundamental para a cultura e para todos que vieram e virão depois dele”, explica, Alexandre Mitre.

Alexandre Mitre, que vive Jorge Laffond, e Aretha Sadick, a Vera Verão, no espetáculo Jorge para sempre Verão

Em 1974 teve sua estreia no corpo de bailarinos do Fantástico em 1974 e depois trabalhou no programa ‘Viva o Gordo’, de Jô Soares. Já em 1983, participou do especial infantil ‘Plunct, Plact, Zuuum’ ao lado de Maria Bethânia. Em 1987, fez o papel de Bob Bacall na novela ‘Sassaricando’, da Rede Globo, posteriormente (em 1990) foi convidado por Renato Aragão para participar de ‘Os Trapalhões’, já sem o humorista Zacarias. Lá, interpretou o Soldado Divino, primo de Mussum, no quartel comandado por Sargento Pincel. Mas sua carreira foi consolidada como Vera Verão, do humorístico ‘A Praça é Nossa’, do SBT, onde permaneceu por dez anos. “Laffond era um artista muito completo, todos os papéis em que ele interpretou foi muito bem sucedido”, frisa Sadick.

Anualmente, Jorge riscava e rabiscava o maior palco do mundo, a Marquês de Sapucaí, Laffond era um dos grandes destaques do Carnaval Carioca. Em sua ‘estreia’, em 1985, no enredo ‘A Lapa de Adão e Eva’, concebido por Joãosinho Trinta, na Beija-Flor de Nilópolis e anos depois na Imperatriz Leopoldinense. “O Laffond tinha uma energia muito única, ele era um verdadeiro refletor e sabia disso,e então, ele sempre chegava causando”, frisa Aretha.

Serviço:

Jorge para sempre Verão

Teatro Ipanema – Rua Prudente de Morais 824 – Ipanema

Até 24 de julho de 2022.

Ingressos de contribuição voluntária (pague o quanto pode e se puder)