Após anúncio do fechamento do Teatro do Leblon por falta de verba, Marcos Caruso, Mateus Solano e Miguel Thiré fazem micro temporada como solução paliativa, disse produtor


Durante duas semanas, Marcos Caruso irá protagonizar o monólogo “O Escândalo Philippe Dussaert” e, nos fins de semana seguintes, Mateus Solano e Miguel Thiré a comédia “Selfie”. Produtor de ambas as peças e responsável por esta iniciativa, Carlos Grun não escondeu a preocupação com o atual panorama da arte no Rio de Janeiro. “Chegamos ao fundo do poço”

A situação da arte no Rio de Janeiro está cada vez pior e isto já não é mais novidade. Cada vez mais, nos deparamos com o abandono de espaços públicos, o não pagamento de fomentos e o fechamento de teatros. Desta vez, a última notícia é que o tradicional Teatro do Leblon, na Zona Sul carioca, iria fechar as portas no mês de julho por falta de público que fizesse manter o espaço funcionando e gerando renda. Para contornar esta situação, ou pelo menor tardar o fechamento, Marcos Caruso e a dupla Mateus Solano e Miguel Thiré anunciaram pequenas temporadas das peças “O Escândalo Philippe Dussaert” e “Selfie” durante o próximo mês.

Teatro do Leblon se manterá aberto por pelo menos mais um mês (Foto: Reprodução)

A iniciativa foi uma proposta do produtor Carlos Grun, responsável por ambas as peças. No mês de julho, Marcos Caruso irá ocupar o Teatro do Leblon com seu divertido e reflexivo monólogo sobre a arte contemporânea nas duas primeiras semanas. Já Mateus Solano e Miguel Thiré apresentam a comédia “Selfie” nos dois últimos fins de semana do mês. Assim, o Teatro do Leblon se manterá aberto ao público por pelo menos mais um mês. Segundo Carlos Grun, produtor das peças e responsável por esta iniciativa, a ideia surgiu de uma frustração pessoal. “Eu tenho um carinho muito grande pelo Teatro do Leblon. Em 2015, nós ficamos um ano em cartaz com ‘Selfie lá e foi um sucesso muito grande. Quando eu soube que o teatro ia fechar as portas por falta de espetáculos comerciais, eu precisava fazer algo que contornasse essa situação, nem que fosse de forma paliativa. Então, eu convoquei o Caruso e o Solano para essa micro temporada”, contou.

No ar em “Pega Pega” e gravando a próxima temporada de “Escolinha do Professor Raimundo”, Marcos Caruso e Mateus Solano irão se dividir entre a televisão e o teatro na única intenção de manter a chama da arte acesa no Rio de Janeiro, como destacou Carlos Grun. O esforço também está presente no lado de Miguel Thiré, que está morando em Portugal e, por duas semanas, ficará em solo carioca apenas para a apresentação da peça. “Esta é uma iniciativa que a gente espera que sirva de exemplo para outros teatros e artistas brasileiros. Nós precisamos mostrar ao público, principalmente o carioca, que temos grandes espetáculos na cidade. As pessoas precisam voltar a frequentar as salas e valorizar a cultura. O teatro é uma arte que existe há dois mil anos e já passou por diversas crises, como econômica, social, climática. No entanto, esta é a pior porque estamos passando por um momento de desinteresse da população. Isso é o que mais me apavora”, apontou Carlos Grun.

Marcos Caruso em “O Escândalo Philippe Dussaert” (Foto: Reprodução)

Nesta situação, o produtor reconhece que a classe artística também tem a sua parcela de culpa. Porém, Carlos Grun acredita que este panorama represente um acúmulo de erros e consequências que, potencializados pela falta de apoio e reconhecimento do poder público, nos fizeram chegar nesta situação. “No fundo, ninguém está errado. A culpa não é do dono de teatro que fecha seu negócio porque não tem como manter os custos. Ele é um empresário e não pode ficar tomando prejuízo”, disse em defesa de Wilson Rodriguez, dono do Teatro do Leblon que afirmou à Veja Rio que possui um custo mensal de R$ 30 mil para manter o teatro aberto.

Como solução, o produtor dos espetáculos “O Escândalo Philippe Dussaert” e “Selfie” acredita na flexibilização de todos os envolvidos. “Nós chegamos no fundo do poço. E a gente não se unir agora, a situação só vai piorar. Então, precisamos dos empresários, produtores, artistas e imprensa especializada somando forças para tentar contornar esta situação. Esta iniciativa que estamos fazendo é apenas paliativa, mas pode representar uma saída momentânea. Se cada artista se disponibilizar a ficar apenas duas semanas em cartaz com uma peça comercial, a gente consegue manter os teatros abertos por mais alguns meses. Eu sei que é complicado, mas precisamos sacrificar nossas agenda, conciliar com outros compromissos e emprestar a visibilidade que a televisão, principalmente, proporciona, para manter o teatro vivo”, disse Carlos Grun que irá fazer essas duas micro temporadas sem qualquer tipo de patrocínio ou apoio cultural. “É o momento de colocarmos a mão na consciência e admitir que este é o pior momento que o teatro já passou. Todos temos que seguir juntos neste caminho, senão o barco vai afundar e ninguém mais vai ter trabalho”, completou.

Mateus Solano e Miguel Thiré em “Selfie” (Foto: Reprodução)

Como combustível desta fogueira que está queimando a arte carioca, Carlos Grun apontou o não pagamento do fomento por Marcelo Crivella. Como já contamos por aqui, a classe artística ainda não recebeu os R$ 25 milhões que já haviam sido acordados para o pagamento de produções culturais na cidade. “A arte no Rio está parada. A gente não consegue mais produzir e os espaços públicos estão estagnados também. Estamos vivendo um momento de completo abandono do governo. A Secretaria de Cultura nem se interessa pelo que estamos reivindicando, que são nossos direitos”, destacou.

No fim disto tudo, Carlos Grun afirmou que fica o sentimento de desespero. Há 15 anos trabalhando com teatro, o produtor afirmou que nunca viu uma situação como a atual. “Eu sou jovem no teatro, mas esse é o trabalho que eu amo e é o que eu sei fazer. É com o trabalho nos palcos que eu coloco comida em casa e me sustento. A arte sempre foi motivo de muita alegria e emoção para mim e, neste momento, eu estou vendo tudo isso morrer. Ao mesmo tempo, vejo bares e shows populares, de sertanejo, forró e funk, lotados. Ou seja, a culpa é nossa. As pessoas estão interessadas em cultura e estão se permitindo gastar algum dinheiro com lazer. Precisamos ver onde erramos nestes últimos tempos e correr atrás de mudar”, destacou Carlos Grun que também reconheceu outras interferências externas, como Netflix, televisão e internet.

Serviço:

“O Escândalo Philippe Dussaert”, com Marcos Caruso
Temporada: dias 8, 9, 15 e 16
Sábado às 21h30 e domingo às 20h
Teatro do Leblon

“Selfie”, com Mateus Solano e Miguel Thiré
Temporada: dias 22, 23, 29 e 30
Sábado às 21h30 e domingo às 20h
Teatro do Leblon