Ana Beatriz Nogueira segue a todo o vapor trabalhando na TV – vai interpretar a mãe do personagem de Cauã Reymond em Um Lugar ao Sol, próxima novela das nove na Globo – e no teatro online com um projeto belíssimo idealizado por ela. Com a crise sanitária interrompendo os trabalhos presenciais, Ana criou o “Teatro Já” com André Junqueira, levando ao palco do Teatro Petra Gold peças teatrais e shows musicais em transmissão ao vivo pela internet. E esteve à frente do “Teatro sem Bolso”, realizado online direto de sua própria casa, voltando este ano rebatizado como “Teatro com Bolso”, no qual apresenta peças solos ou duos e pocket shows musicais, diretamente do palco criado e equipado em sua casa, com transmissões online ao vivo ou pré-filmadas.
“Algo gratificante, que deixou muito claro para mim, mais ainda porque eu sempre viajei com minhas peças para todos os estados, foi pelo o que escreveram, que eu chamo de ‘aplauso de bolso’ pelo fato de gente estar fazendo apresentações online. Muitos espectadores escreveram que nunca foram ao teatro na vida, mas viram a peça pelo celular, e adoraram, e estavam agradecendo emocionados. Então é claro que querem ter acesso à cultura, tanto no teatro quanto cinema”, observou.
Sobre o projeto, ela contou que o ‘Teatro Já’ tinha a principal função de arrecadar cestas básicas para os técnicos desempregados, de todos os segmentos. “No Petra Gold havia um único espectador simbolizando uma plateia toda online. E o Paulo Betti disse a câmera era uma maneira de respirarmos arte. Não era a câmera como contadora de história, como linguagem, era a câmera ali parada como registro e a pessoa escolhia se queria ver a cena mais aberta ou fechada pelo zoom. Na verdade era uma maneira de nos manifestarmos teatralmente do jeito que dava, fazer o nosso teatro, se não quiser chamar de teatro chama de manifestação artística, mas do jeito que era possível. E foi bom para ajudar as pessoas”.
Sábado agora, a partir das 20h, dentro do projeto “Teatro com Bolso”, criado por Ana Beatriz Nogueira, haverá a exibição da vídeopoesia “Vaca Malhada de Hematomas”, idealizada a partir do livro homônimo de Stella Stephany. O livro é uma defesa da vida, fala de paixões, recomeços e memória sob o olhar da mulher contemporânea. A primeira edição foi publicada em 2020, e agora, a segunda vem ampliada, trazendo ilustrações feitas pelos mais diversos artistas do país.
A vídeopoesia vai contar com atores interpretando textos do livro. São quatro pequenos blocos de cerca de cinco minutos cada, tendo a participação da própria Ana Beatriz, além de Ana Carbatti, Armando Babaioff, Barbara Paz, Bruce Gomlevsky, Carmo Dalla Vecchia, Elias Andreato, Eriberto Leão, Gilberto Gawronski, Irene Ravache, Kelzy Ecard, Leona Cavalli, Marcos Breda, Maria Clara Spinelli, Mateus Solano, Paulo Betti, Regina Braga e Soraya Ravenle. A retirada dos ingressos será pelo site: sympla.com.br/teatrocombolso.
“Tudo que a Stella faz é bonito! E assim será a nossa interpretação. Será tudo gratuito. O Teatro com Bolso recebe contribuição voluntária. Só não é quando, por exemplo, precisa-se pagar o direito autoral, aí não posso colocar de graça, porque o herdeiro teria que ceder a obra de graça. A gente não pode fazer coisas com o chapéu alheio, não é isso? Então, eu preciso colocar um mínimo de R$ 10, porque eu preciso pagar um mínimo para uma apresentação online. Eu sou a primeira em batalhar por direito autoral, então, está certíssimo. As outras atividades são voluntárias, quem pode até dá mais que R$ 10. Além de tudo tem um caráter inclusivo”, explica Ana.
Com uma rotina intensa de gravações para a novela, a atriz falou sobre os desafios de trabalhar na pandemia. “Tudo é muito novo, porque é a primeira vez que a gente grava uma novela inteira antes de estrear, com todos os protocolos que a Globo muito bem fez e com todo cuidado. Eu não poderia imaginar. Às vezes me sinto mais segura no Projac [Estúdios Globo] do que em casa (risos). Claro que, de fato a gente tem receio, né? Seria uma loucura dizer que não. Quem não anda com receio não anda se cuidando. Tem que obedecer o protocolo, manter distância, quando um fala o outro põe a máscara, os acrílicos entre nós… A gente estreia uma novela com mais ou menos 12 ou 16 capítulos de frente, então você vai vendo aquilo no ar e vai se corrigindo, vai ouvindo, pois a novela sempre foi obra aberta. Dessa vez não faço a menor ideia. Eu só sei que é bom fazer, o texto é maravilhoso. O Maurício Farias é um excelente diretor em todos os sentidos e é um grande parceiro de todos nós”.
Com tristeza profunda, Ana também desabafou a respeito do desmonte da nossa cultura, sobre as perdas de tantos brasileiros para a Covid-19 e o ódio destilado em redes sociais também contra a classe artística. “Você está fazendo uma peça e a chamam de ‘Globo Lixo’. Gente, o que tem a ver a peça com a Globo? Para você ver que é implicância mesmo. Aí você está divulgado uma poesia e vêm: ‘chega de mamar nas tetas do governo’. É uma falta de informação total”, analisou ela.
Enaltecendo o cinema nacional, ela também enfatiza a desigualdade social do país que resulta em barreiras para levar produções a uma grande parcela da população, além de criticar alguns que optam somente por filmes estrangeiros. “Nesse momento em que estamos vivendo um desmonte da cultura, nunca foi tão terrível. Parece que tem gente que não gosta do nosso país. Claro que não é a maioria, mas a gente sente e pensa: ‘nossa, esse brasileiro não gosta nenhum pouquinho do país. Esse Brasil que a Elis Regina cantava: ‘O Brasil não conhece o Brasil’. Temos também a questão de ser um país de tamanho continental e um filme não chegar em muitos lugares.”
E Ana Beatriz nos deixa uma mensagem de esperança e coragem para continuarmos lutando para a realização dos sonhos e objetivos. “Não vamos conjugar o verbo desistir. Porque quando a gente começa, não para mais. Vale para mim também. Nada de conjugar esse verbo, hein, dona Ana Beatriz!”
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