Amor Tóxico: aquele no qual você se envolve por precisar de alguma alternativa, que você sabe que não te faz bem


Neste artigo, Alexei Waichenberg desabafa: “O amor desfaz o plano que teve de acontecer, o dano de quem ousou viver, o desatino de amar e depois sofrer”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Amor tóxico é aquele para o qual você decide se entorpecer. Ninguém vai te oferecer nada daquilo que você não esteja a buscar. É aquele no qual você se envolve por precisar de alguma alternativa, que você já sabe que não te faz bem. E vicia viu? Ter o momento próximo, o dia perfeito, o amor mais vivo do mundo, o amor mais químico no fundo, de entrega, submissão ou apenas de gratidão.

Vai que isso acalma o teu querer mais sincero? O teu despertar mais ligeiro? Vai que isso mascara a tua dor mais honesta, o teu destino, a tua permanência funesta?

O amor dissolve, compreende o que não se pode encerrar, mas se cansa, te cansa. Cansa da entrega, do cuidado, do afeto puro e reciclado. O amor desfaz o plano que teve de acontecer, o dano de quem ousou viver, o desatino de amar e depois sofrer.

Amar é reto, retro, resto, perpétuo, enquanto sofrer é oportuno, ingênuo, fluido, desfaz a permanência, refaz a resistência.

Vamos lutos salvar o que nos resta, o que nos presta. O isso e o aquilo, que é nosso e não nos pertence. Que é troço e relutante. Vamos amar sem verso, sem trova, sem empostar o que amor é destroço de um ser vivente. Vamos brotar o estupor de estar ali presente. Vamos gritar o placar de uma vitória esmagante, vamos curvar ao louvor de uma derrota sem antes, Vamos!

Levanta, pega e liga, salva, muda de ideia, mas não deixa vagar uma onda. Quando o tempo abrir, é esse amor que te vai receber. Sorrir, abrir, vencer e devir. O amor te tem. Comprado ou vendido, te leva à exposição. Quem quiser que lute. É assim o amor de hoje, sem resenha, sem cotovelo, o amor ou é líquido ou é novelo. Ou é Sartre ou é Bauman, ou é Chico ou é troça, traço, treco, trombo, tombo de saber que estamos cá pra servir de cobaia, do amor maior, da dor melhor de sermos humanos e, de valermos para os amantes que virão. E, se não, senão virão ou se não viram, eu desejo uma boa virada. De mão e de decisão. Aqui só fica quem eu quero, só entra quem eu convido, só beira quem eu quiser banhar.

*Alexei Waichenberg, jornalista objeto, de leito e nunca sujeito.