Amor pós-liminar firma e assina relações que se reinventam e aprendem, com intimidade


Nesse artigo, Alexei Waichenberg reflete: “Um abraço que, se parecer eterno, sem nada no caminho, apaga o pensamento e te leva à presença do divino”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Tem dias que a gente está para petisco, outros para prato principal sem sobremesa, mas tem os dias em que a gente merece o cardápio completo, da entrada ao cafezinho. No amor não é diferente. No sexo muito menos. O que não se pode prescindir é da saciedade.

A boca gela, o gozo explode, o peito expira e a gente exaure, mas não morre. Nessa hora joga a perna, prepara o laço e fecha com um abraço. Um abraço que, se parecer eterno, sem nada no caminho, apaga o pensamento e te leva à presença do divino.

Fica dentro, aprende a dar espaço, esquece o medo, vive cada espasmo da entrega. Você nunca mais vai deixar de pedir a sobremesa. O amor pós-liminar é o carimbo e o reconhecimento do amor que firma e assina relações que se reinventam e aprendem, com intimidade, a entender que não existe a cama perfeita. O que existe é a respiração sincopada, os lençóis agitados e o arrepio na base da nuca. O que insiste é o calor que expande, o cheiro que exala, a boca que cala e o lábio mordido.

São ritos em corpos templários. Corpos que se comunicam descontrolados pela mente que cerceia, mente ou provoca de caso pensado.

Portanto, não vá esperando a conexão perfeita no primeiro encontro. Suas veias e artérias, seus músculos e nervos são melhores condutores de prazer do que a sua mente que escolhe. Deixe que a pulsação faça jorrar a sensação de estar completo e o único momento em que se deve descansar como se vivesse a eternidade.

Só então você apaga todos os leds, estica a mão na cabeceira, dá um gole, acende o pito, apaga depois do trago, volta para o abraço e já nem precisa sonhar. Dorme, que amanhã tem mais.

*Alexei Waichenberg, jornalista em estágio no Nirvana