Amor em Obras: o que juntar nesses tempos de pandemia e isolamento social


Nessa crônica, o jornalista Alexei Waichenberg afirma: “Costumo dizer que numa parceria amorosa o indicado é oferecer ao outro aquilo que te sobra. Aquilo que não vai te fazer falta. Cuidado, atenção, dinheiro, zelo, carinho, sacanagem, bilhetes no espelho, cartão nas flores, encarar os fetiches do outro, habilidades culinárias ou tecnológicas ou um amigo que toque violão pro teu amor cantar”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Cada dia tenho mais certeza de que o amor se constrói. Um entra com o tijolo e outro com o cimento. Fora isso, há que se ter a habilidade de um pedreiro pra fazer a coisa subir. O que mais tem por aí são obras inacabadas, mas se conseguirmos levantar pelo menos três vigas, as de admiração, de cumplicidade e do sexo, temos uma boa chance de edificar uma relação sólida.

Uma breve decupagem dos pilares e passamos aos acabamentos:

Admiração – É quando você olha o parceiro ou a parceira e percebe, no mínimo, um esforço de alcançar seus próprios sonhos. Tem gente que prefere crescer junto, ou seja estar num mesmo patamar pra dali sair em busca de conquistas. Nesse sentido, se uma das pessoas já estiver com a vida ganha, pode causar alguma turbulência. Mas, sem admiração o teto cai.

Cumplicidade – Essa é a viga mestra. É a velha máxima da alegria e da tristeza, da saúde e da doença, até que a VIGA nos separe. Sabe quando o outro faz uma merda grande e você passa pano na frente dos amigos e depois, só depois, na intimidade, estica aquele olhar de amor e fala com cuidado que aquilo não foi bacana? Pois, é a tal cumplicidade. Sem ela o chão estremece.

Sexo – Tem gente que acha que só essa coluna segura. Outros acham que dá pra seguir sem ela. Amigos, não dá. Pode até não ser o melhor sexo do mundo, pode até admitir umas escapadelas, mas sexo tem que ter. Papai/Mamãe, de leve de manhã, 1 vez por mês, só quando bebe, mas tem que ter.

“Costumo dizer que numa parceria amorosa o indicado é oferecer ao outro aquilo que te sobra. Aquilo que não vai te fazer falta”

Essas vigas não precisam ter o mesmo tamanho. Dá pra amarrá-las em qualquer altura, mas não pode faltar nenhuma.

Agora vamos aos acabamentos: Paredes lisinhas, sapê com forração de palha, box blindex no banheiro, vermelhão na varanda, tábua corrida no quarto, cada casal escolhe o que quer, o que pode, mas tem que ter cobertura.

Costumo dizer que numa parceria amorosa o indicado é oferecer ao outro aquilo que te sobra. Aquilo que não vai te fazer falta. Cuidado, atenção, dinheiro, zelo, carinho, sacanagem, bilhetes no espelho, cartão nas flores, encarar os fetiches do outro, habilidades culinárias ou tecnológicas ou um amigo que toque violão pro teu amor cantar. Vê aí o que dá pra juntar nesses tempos de isolamento. A criatividade tá quase acabando. Não é pilar, mas é decoração de interiores cada vez mais atrativa.

Eu com a minha vênus em touro e a lua em escorpião, prefiro camas grandes, bons lençóis e fantasias. Sou roteirista e tenho certa tendência a estudar a personagem pra garantir um resultado verossímil. Nem por isso achei o peão certo pra contratar na minha obra, mas tô dando workshop de como virar a massa. Construí minha casa sozinho e, por vezes abriguei esperanças. O importante é que nunca choveu dentro e que a porta vai estar sempre aberta. Os amigos são estacas de aço e seguram uma outra estrutura que eu apelidei de felicidade.

E você?

Na próxima crônica vou escrever sobre o amor astral, então manda aí um testemunho para a redação.

*Alexei Waichenberg, jornalista concreto e sem acabamento