Amor e Matemática: dividimos a experiência, partilhamos as diferenças e o que temos são os sonhos multiplicados


Neste artigo, Alexei Waichenberg avisa: “Vamos deixar de lado o ângulo perfeito. Não coloque seu amor em teste. Atribua-lhe a própria metade e usufrua do seu quinhão”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

“Tive sim, outro grande amor antes do teu, tive sim.”

Estou aqui fazendo umas contas e não há Cristo que me dê um resultado que satisfaça o exercício. Então, não lhes vou poupar do raciocínio, que de lógico não tem nada, mas propõe a reflexão.

Meu sogro, e eu tive alguns. Já reparou que não existe ex-sogro? Pois bem, meu sogro dizia, a falar dos negócios, que o segredo da multiplicação é a divisão. No amor não é diferente. Dividimos a experiência, partilhamos as diferenças e o que temos são os sonhos multiplicados, os desejos projetados, os desenhos rabiscados.

Amar é uma potência, uma abstração concreta, uma progressão discreta, quando o coração conjunto contém sujeito e adjunto. E que esse amor não seja contido. Que seja desatinado, descabido. Que tenha amparo, sofrência, sabedoria para acumular os valores que tornam verdadeira a igualdade.

Mesmo assim, enquanto faço cá as contas, descobri que sou muito menos o que eu sei do que o que sinto, como disse Pedro. Sou o que sou, como disse Fausto.

Somei à minha história as fatias de todos os meus pares. Incomparáveis primos, equivalentes, percentuais de lucro líquido e certo.

A parte isso, sou homem de uma raiz quadrada e trago velhas fórmulas, que já não funcionam. Exponencio os defeitos que amealhei, mas afinal também caminha mal a humanidade, pois não?

Agora nos subtraem o antigo jeito de amar. O clichê tão confortável ao amor romântico deve ser substituído por uma fórmula contemporânea cheia de vetores ensimesmados, que só apontam para Vossa Onisciência. Se antes procurávamos todos pelo chinelo velho para os pés cansados, hoje a tecnologia nos manipula sem precedência ou perdão. Encontre a sua alma gêmea a poucos metros de distância. Basta abrir a aplicação. E você abre, aqui, aí, em Meriti ou em Milão. E, se encontrar, desista, tem defeitos como os de humano e você nunca vai fechar a equação. Ui, esse passou pela tangente. Esse outro era o máximo, mas tem divisor comum. Que raio de pessoa é essa?

Vamos deixar de lado o ângulo perfeito. Não coloque seu amor em teste. Atribua-lhe a própria metade e usufrua do seu quinhão.

Diga não às reencarnações virtuais, que rasgam a sua trajetória. Amores vividos não podem ser eliminados. Não dá para criar outro perfil. Deixa de ser terra-planista. A vida é um círculo. Viva, caia, levante e um novo amor vai te renovar, te trazer a solução.

“Tive sim, outro grande amor antes do teu, tive sim, mas comparar com seu amor seria o fim”. Não existe fórmula mágica, mas existe mágica na fórmula.

E, para todos os casos, para cada um dos seus problemas, ou você estuda, ou terá sempre o benefício de olhar o gabarito, no final, só no final.

*Alexei Waichenberg, jornalista a se borrifar da álgebra.