Amor e diversão: Você entra em uma relação amorosa como se fosse visitar um Parque de Diversões?


Nessa crônica, o jornalista Alexei Waichenberg depois de fazer uma sinergia imaginária entre um parquinho e o amor afirma: “Divertido é ver um amor dar certo. Invento um brinquedo sem fila para entrar, vou inventar. Sem tempo para sair, sem hora de parar. Invento a honra de me amar”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Ah o amor! É para ser divertido, não é? Pois, nem sempre.

Você entra no amor como se fosse visitar um Parque de Diversões. Entro, entro e começa o encantamento. Tudo tão colorido, tanta vibração. Balões de hélio, algodão doce, maçãs de laca vermelha e, começa a chatice. Filas intermináveis para tentar me divertir. Uma algazarra, gritos de prazer, urros de horror. Mas é preciso conhecer cada atração para, só depois, avaliar a emoção, que as engenhocas de adrenalina puderam me proporcionar.

De cara, começo com as xícaras voadoras. Uma viagem que me proporciona a sensação da liberdade, mas que na verdade tem apenas movimentos repetidos e o prazer do vento na cara. Passo ao carrinho de bate bate. E bate, e bate, e bate, o prazer está mesmo em bater. Quem bater mais e causar mais desconforto sai vencedor. Venço. Vem os ajustes, um hot dog do Genial, com ketchup e mostarda e, pronto! Duas voltas de fila na roda gigante.

A mesma roda gigante que interrompe a vista do pequeno ao grande arco na Concordia, o mesmo Olho do Milênio que interrompe o Tâmisa, que atrapalha o porto novo do Rio. A Roda do Tivoli, onde tomo assento embaixo e subo animado para ver o amor de cima. Dei sorte, a cadeirinha parou no alto. Quando começa a ficar divertido já é momento de descer. E há que descer o trajeto para depois subir, e depois descer, e depois subir, sempre no mesmo eixo. Ah que experiência é essa? Desembarco desse amor instável, estável, instável.

Quero uma emoção qualquer maior, maior qualquer. Vou ao bicho da seda, sempre veloz, mas nem sempre coberto, descoberto para permitir o grito. Grito um amor carrossel, mas planto o amor de plantel. Despenco do elevador no andar mais alto, rastejo ou submerjo, saio correndo pra montanha russa. Subo devagar e sucumbo de pavor, quando já não há como voltar ou parar. Respiro, jogo a bola na boca do palhaço, ganho um urso de pelúcia, martelo a bolinha. Entro no trem fantasma, tangencio o demônio, gargalho com a caveira, me livro dessa teia, que só amor promove. Saio, saio mesmo querendo voltar, saio e vou visitar a mulher gorila. Vou tranquilo, ela assusta, mas não me toca. Grito e quando o show termina, ela vai embora.

“Ah o amor! É para ser divertido, não é? Pois, nem sempre”

Amigos, amigos amados, desçam de boia, de frente, de costas, deixem fluir, porque na foz, onde o amor espera, a água é límpida e calma e, ainda por cima, quase na borda, da pé pra todos nós. Ao sair do parquinho tenham para si que não existe amor sem toque, sem presença, sem pele na pele, beijo no beijo, sexo no sexo. Amor é coisa séria. Vai se divertir na casa dos amigos. Vai brincar na casa do Carvalho. Amor é coisa séria.

Divertido é ver um amor dar certo. Invento um brinquedo sem fila para entrar, vou inventar. Sem tempo para sair, sem hora de parar. Invento a honra de me amar.

*Alexei Waichenberg, jornalista campeão de Kart, ping pong e windsurf