Amor Alado: o que leva mais perto de constelações? Não. O que só tem autorizados e programados decolagem e pouso


Nesse artigo, Alexei Waichenberg ressalta: “O amor que apenas levanta, soleva, te tira do solo, que por mais castigado pelos amores terrestres te dava o conforto de escolher melhor destino, a melhor companhia para o voo de amar”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Um amor sem fachada, outra porta na cara, topada na mesma pedra.

Amor? Que nada!

Final? Feliz.

Feliz como pode prever um desses roteiros de sessão da tarde. O pobre mocinho se transforma no antagonista e quem sofre é a crônica do sétimo dia.

Mas, por absoluta pobreza na dramaturgia e para rechear de conteúdo o programa da matinê, vim aqui falar do amor aéreo. Mas não seria amor alado Alexei? Não! Não é do amor que voa, que singra os céus, te leva mais perto de constelações, o amor invulnerável. Não é desse que vim falar, infelizmente.

Falo do amor que só tem autorizados e programados a decolagem e o pouso.

Levanta tremulando o corpo férreo, inflexível, jogando o nariz pra lua, arrastando os passageiros em marcha para o futuro. Não escolhe rota. Não confere bússola. Não te oferece nada, nem um lanchinho.

Apenas levanta, soleva, te tira do solo, que por mais castigado pelos amores terrestres te dava o conforto de escolher melhor destino, a melhor companhia para o voo de amar. Aliás quem pode lucrar com esses pequenos trechos?

A companhia. Se você for bem rápido e identificar que embarcou o passageiro errado, ela te devolve o investimento, mas te morde aí uns 30 por cento.

Aí ele pousa, aterra, sucumbe. Tudo muito rapidinho.

Mas, a terra é bom elemento, sobretudo se você ainda puder contemplar o sol no firmamento.

A terra é bom elemento, quando a sua Deusa do Panteão para ela aponta.

A terra é bom elemento, se te dá conforto, se te sacia a fome, se te cobre de lençóis de muitos fios.

Te faz voar com os pés no chão.

Então, você volta algumas casinhas. Para na primeira. Devolve o roteirista ao remetente. Faz ele voltar uns dez anos ou uns 150, ça na fait rien.

A cena agora se passa na porta de um cabaret antigo.

Ele, o roteirista, sai se esquivando do olhar de todos. Caminha pela noite fria. Entra em casa na Praça dos Reis, e escreve de pé, com os pés no chão, e recebe de pé os meus aplausos, em forma de amor.

A vida, então, segue em cruzeiro.

Amor alado, amor ao lado.

*Alexei Waichenberg, jornalista e passageiro frequente