Agente do Amor: ele se doa, ganha junto, mas escolhas serão sempre para quem estiver em campo


Nesse artigo, Alexei Waichenberg pergunta: “Quem nunca precisou da forcinha de um amigo próximo para ter um melhor aproveitamento da intenção de emplacar aquilo que só o seu desejo não seria suficiente?”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Ah gente! Quem nunca precisou da forcinha de um amigo próximo para ter um melhor aproveitamento da intenção de emplacar aquilo que só o seu desejo não seria suficiente? Tá bem, vou ser mais direto. Nem sempre a coragem permite a frontalidade, quando o assunto é o amor.

Quando as borboletas se agitam abaixo do diafragma ficamos meio ridículos, sem saber direito o que fazer e podemos atrapalhar o andamento das negociações emocionais. Os amantes roteiristas criam cenas estapafúrdias, preveem finais desastrosos, sem pé nem cabeça, intuem situações que nem um folhetim adolescente poderia supor.

O papel do amigo é o de agente do amor. Ele não necessariamente deve atuar junto ao contratante, mas deve preparar seu orientando, ajudá-lo na busca de informações relevantes e evidências que possam fundamentar o plano de união das pobres almas, que já não respondem com discernimento, depois que foram flechadas pela vontade louca de se jogarem, uma no colo da outra.

A situação deve ser examinada de maneira profissional, eu diria. Começa com uma análise de mercado. Identifica-se as oportunidades. Avalia-se as reais chances de o candidato estar apto a preencher as expectativas das plateias, que anseiam por boas atuações. Sai para umas comprinhas afim de apresentar seu produto de maneira adequada. Prepara o material e parte pra fazer sua mostragem. Com sorte, estabelecido o interesse, o agente deve ler com cuidado as letras pequenas, que quase se escondem no compromisso a ser pactuado. A partir daí é estudar comportamentos. Como reage seu interlocutor, movimento, intenção, transição. Cada pausa, cada gesto, cada traço definem a tumultuada missão de confirmar em si mesmo e no outro, a alegria do encontro.

Um bom jantar, depois dançar e começam as intimidades, o toque, o cheiro, o beijo, o sexo. Quando tudo se parecer com os contos de fadas, com gnomos coloridos, aumentam os desafios. É hora de colocar a mãe no meio, outros amigos ciumentos, os críticos de plantão, os filósofos contemporâneos, que desfazem fantasias e revogam o direito de sair do controle e deixar o gol desprotegido.

É como amar no palco. Tem hora pra começar e, por mais que prenda a atenção do público, o sucesso é comemorado na coxia. Tem fim, claro que tem fim, mas cumprindo com competência o seu papel, você garante o sucesso e a experiência que precisa para o seu novo contrato.

Um bom agente se doa, ganha junto, um bom técnico também colhe os louros, mas deve ser um observador atento, para que apenas ofereça uma boa reflexão. As escolhas serão sempre para quem estiver em campo. Perder uma partida não significa o fim da competição e amar tá tão difícil, que eu diria: bola pra frente.

*Alexei Waichenberg, jornalista e agente secreto