Agenda cultural: Última peça da trilogia Mamet dirigida por Gustavo Paso, Hollywood estreia no teatro Poeira e a gente conversou com a equipe


A narrativa traz grandes atores no elenco como Ricardo Pereira, Gustavo Falcão, Luciana Fávero e Cláudio Gabriel. A atualidade do texto aborda assuntos como assédio sexual, machismo, relações de poder e amizade . E que tal conferir a programação do que rola de melhor na cidade? Tem estreias de filmes – de blockbusters a documentários, outras peças, show dos ex-Titãs Arnaldo Antunes e Nando Reis e mais, muito mais. Vem!

Ricardo Pereira, Gustavo Falcão, Luciana Fávero e Cláudio Gabriel

O que um roteiro de teatro escrito em 1988 tem a ver com o nosso mundo atual? Tudo! O escritor norte-americano David Mamet é conhecido por seus trabalhos que abordam assuntos, ainda atuais, com pontos de vista controversos. Esses e muitos outros motivos fazem com que a adaptação brasileira de ‘Hollywood’ exponha temas que ainda precisam ser discutidos na nossa sociedade. Dirigida pelo admirador do autor, Gustavo Paso – que já produziu outras duas obras do escritor, Oleanna e Race -,  o espetáculo fala de machismo, feminismo, assédio sexual, relações de poder, arte e ambição que existe dentro dos estúdios de Los Angeles. Na última obra da trilogia, Paso busca homenagear o trabalho do americano e fazer o público refletir sobre estas questões. “O que mais gosto nessa peça é que a gente não teve pudor de se aventurar em nada. Tentamos entender quem era o Mamet para depois compreender o texto dele. O Gustavo sabe muito sobre ele por ter estudado. Este roteirista permite que as pessoas sejam ridículas, inclusive com elas mesmas. Os personagens não sabem quem são e para onde querem ir, mas estão sempre buscando algo. O Daniel Fox me liberta muito, parece um exorcismo em cena. Não é uma peça que eu possa vir cansado, porque exige do ator”, explicou Ricardo Pereira que atua como um ambicioso produtor que está disposto a tudo para conseguir o que quer. A narrativa se baseia na relação de dois homens que trabalham nos estúdios de Hollywood. A relação conturbada dos amigos é tumultuada com a presença da secretária Karen que acaba tirando as coisas dos eixos.

Luciana Favero, Cláudio Gabriel, Ricardo Pereira e Gustavo Falcão na peça (Foto: Daniel Moragas)

A trama é caracterizada pela falta de ponto final. A partir do momento que nos deparamos com a quantidade de debates que o autor levanta, a plateia espera por uma conclusão da ideia. Mas Mamet revoluciona este pensamento com um fim inesperado. “O mais legal dessa peça é o fato de forçar o público a buscar uma opinião. O espectador é que escolhe o que quer enxergar como, por exemplo, se prefere a verdade da secretária ou do amigo. Além de decidir se o meu personagem é um homem bom, se ele gosta da Karen, se está passando por uma fase perturbadora ou se é um capitalista que não se importa com ninguém”, explicou o ator Cláudio Gabriel.

Para enfatizar esta vontade do elenco de fazer o público se questionar sobre a história, segundo a atriz Luciana Fávero, a equipe escolheu trabalhar com uma formação de palco diferenciada. Dessa vez, quem está no alto são as pessoas e os protagonistas estão no chão. Durante todo o espetáculo, um lado da plateia consegue observar o lado oposto. Durante o espetáculo, as marcações devem ser muito respeitadas porque um lado do teatro pode ficar completamente de fora da peça. “As outras duas peças da trilogia tem a mesma formação de palco e isso permite que a gente crie uma proximidade com a galera. Além disso, criamos um espelho, uma plateia conversa com a outra. A ideia é que em cada lugar que o público assista, verá o espetáculo de um ângulo completamente diferente. Como o Mamet não fecha um conceito, apenas abre várias janelas e portas para o debate, queremos que as pessoas se sintam parte desse espetáculo ao ponto de carregar a discussão”, afirmou a atriz Luciana que vive a desvalorizada secretária.

Cláudio e Ricardo durante uma cena na peça (Foto: Daniel Moragas)

Se o debate continua sempre será um mistério, porém o diretor afirma ter se esforçado ao máximo para passar a mensagem que o Mamet queria. Para isso, ele se reuniu com o escritor Flavio Marinho com o objetivo de aperfeiçoar o texto. “A gente tem uma responsabilidade muito grande tanto com o autor quanto o público. Um dos pilares do meu trabalho é justamente isto que acaba se traduzindo nos ensaios. O maior desafio é transformar o conceito dito por um autor americano para o povo dele em um assunto impactante para as pessoas aqui no Brasil. Não vejo isso como uma adaptação e, sim, como uma tradução do linguajar”, sugeriu Gustavo. O elenco aprovou o resultado final garantindo um selo de qualidade na ‘tradução’ do diretor. “O mérito é do texto e do Gustavo porque é o terceiro mergulho que deu na obra do Mamet. O objetivo do escritor foi passado que era mostrar que não existe vilão ou mocinho. O Gustavo conduziu muito bem a gente”, afirmou o ator Cláudio.

A responsabilidade era grande porque o texto original, ‘Speed-The-Plow’ foi indicado ao prêmio Tony de melhor roteiro. Além disso, Mamet já foi indicado ao oscar e ganhou o prêmio Pulitzer. Apesar de toda essa pressão, o diretor afirma que não assistiu ao espetáculo lá de fora. “Não assisti à nenhuma peça da trilogia nos teatros lá fora, mas vi uma cena do Race no YouTube. E o que a gente faz é completamente diferente. Achei o espetáculo do exterior mais careta, prefiro algo mais ousado e dinâmico. O meu estilo joga muito com os atores, não há tecnologia superior ao ator. Tudo depende da dinâmica entre eles, tentando usar do lado mais contemporâneo da história”, afirmou Gustavo. Apesar das diferenças com o espetáculo estrangeiro, o diretor conta que a rapidez de sua obra tem uma razão muito específica. “Estamos em um mundo tecnológico onde, ao mesmo tempo que queremos prestar atenção em tudo, não queremos pensar em nada. Isso faz com que o cérebro das pessoas tenha uma capacidade de absorver informação de uma forma muito mais rápida. Quero que a velocidade da peça se pareça com a do nosso dia. O Mamet que eu estou fazendo tem a ver com uma pesquisa pessoal de como trabalhar o ator e como quero que a mensagem seja passada”, completou. O diretor procura deixar claro que não pretende julgar nenhum dos estilos. Na sua visão, apenas, o dinamismo de seu espetáculo deixa o público mais excitado para continuar assistindo.

Atores contracenam na noite de estreia (Foto: Daniel Moragas)

E não dá para perder um segundo mesmo. São tantas questões levantadas que alguém pode se perder. E, talvez, por estar tentando se achar no mundo das artes, o ator acabou criticando o seu próprio universo. Na peça, uma das maiores questões é o que significa arte nos tempos atuais e como tentar escapar das grandes produções. “A verdade é que quando se faz um filme artístico de qualidade, você tem o poder de mudar a vida de uma pessoa, é possível mudar de ponto de vista e opinião com uma produção, uma escultura, uma peça ou um livro. Novos caminhos podem se abrir no imaginário dos espectadores. Quando assistimos um blockbuster, por exemplo, aquele mesmo roteiro já foi visto várias vezes nas telonas e não transforma ninguém. A verdadeira arte não sai da cabeça”, afirmou Cláudio. Ao seu lado, Ricardo concluiu o pensamento do colega. “Todos os questionamentos são válidos e acontecem de uma forma muito presente nas nossas vidas. Não só na área do entretenimento, mas dentro de todas as empresas”, complementa o ator.

Atriz Luciana Fávero vive uma mulher misteriosa e livre (Foto: Daniel Moragas)

Luciana vive a personagem que traz o questionamento da arte para os dois amigos. Ela traz um livro que, metaforicamente ou não, critica a vida que levamos. Para ela, esta passagem vai muito além de uma crítica à razão da nossa existência. “Uma função que é quase política. Mamet não questiona só o mundo das artes, ele mostra que estamos vivendo uma inversão de valores. A Karen, também, questiona a educação da sociedade em que vivemos como, por exemplo, o machismo e o direito da mulher de viver em par de igualdade com os homens. Esse texto foi escrito em 1988, mas continua sendo muito atual. É uma alegria levar, através da nossa arte, este ponto de interrogação para o espectador”, sugeriu a atriz. Talvez, a atualidade do roteiro possa ser sentida hoje em dia, principalmente, pelas crises que os brasileiros vêm sofrendo. “Precisamos emergir para dentro de nós mesmos para entender desafios e preconceitos que temos para entender o momento que estamos passando. É importante que a gente questione nossas certezas. Gosto de acreditar que colaboro com isso. Além disso, o Brasil é extremamente machista, então, é isso que a gente busca salientar. Uma sociedade castradora onde a mulher é vista como um objeto inferior ao homem”, lamentou a atriz.

Parte do elenco reunido (Foto: Daniel Moragas)

Percebendo ou não, os artistas são elementos cruciais no momento da formação de um espetáculo. Segundo o diretor, cada pessoa influencia no formato da peça podendo levar os espectadores para pontos completamente diferentes. “O ator e o texto são os elementos chave do meu teatro. Ambos contribuem para o objetivo que é contar uma história”, afirmou. O elenco concorda, afinal, a peça ‘Hollywood’ elenca muito bem essa questão. Ricardo Pereira e Gustavo Falcão dividem o mesmo personagem e, praticamente, obrigam o público a conferir as duas faces da moeda. “Como eu estou fazendo a novela ‘Novo Mundo’ é difícil conciliar, principalmente, pelo fato da peça ser densa e exigir muito do ator. Como o diretor já tinha usado dois elencos diferentes na primeira obra da trilogia, acabou dando certo compartilhar meu personagem com o Gustavo Falcão. São dois espetáculos completamente diferentes e a intenção foi esta. Nós ensaiamos separados, inclusive, para que um não interferisse no outro. São formas diferentes de abordar um mesmo personagem, o que é muito bacana”, finalizou Ricardo.

Atores contracenam na estreia (Foto: Daniel Moragas)

Teatro Poeira – Rua São João Batista, 104 – Botafogo

Bilheteria funciona de terça a sábado – das 15:00 às 21:00 e domingos das 15:00 às 19:00

Telefone da bilheteria: 21 2537-8053

Lotação: 140 lugares

Duração: 75 minutos

Classificação: 14 anos

Temporada: De 05 de maio a 25 de junho – De quinta a domingo

Quinta a sábado às 21h00min e Domingos às 19h00min.

Valores: R$ 60,00 – inteira – quinta e sexta / R$ 70,00 (inteira) – sábado e domingo

OBS: Quintas e Sextas com Gustavo Falcão, Luciana Fávero e Cláudio Gabriel / Sábados e domingo com Ricardo Pereira, Luciana Fávero e Cláudio Gabriel, mas na primeira semana da temporada Ricardo Pereira estará em cena de sexta a domingo).

E já que hoje é sexta-feira, que tal conferir a programação do que rola de melhor na cidade? Tem estreias de filmes – de blockbusters a documentários, outras peças, show dos ex-Titãs Arnaldo Antunes e Nando Reis e mais, muito mais. Vem!

Filme

Alien: Covenant – Guardiões da galáxia 2 Em 2104, a nave Covenant precisa chegar no planeta Origae-6 com uma missão de colonizar o espaço vizinho. Depois de um incidente, Walter (Michael Fassbender) acorda os dezessete tripulantes para ajudar na tarefa. Nesse meio tempo, encontram um lugar mais perto com as condições necessárias para viver mas há seres inesperados neste outro planeta.

O Dia Do Atentado – O sargento da polícia Tommy Saunders (Mark Wahlberg), o gente especial Richard Deslauries (Kevin Bacon), o comissário da polícia Ed Davis (John Goodman), o sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) e a enfermeira Carol Saunders (Michelle Monaghan) se reúnem para descobrir quais os responsáveis pelo ataque terrorista na Maratona de Boston em 2013.

Crônica Da Demolição – O documentário investiga a demolição do Palácio Monroe que aconteceu em 1976. Antes, na casa funcionava a sede da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Atualmente, o lugar foi substituído pela praça Mahatma Gandhi, na Cinelândia. A ideia é falar sobre interesses que estavam por trás da demolição.

 

Teatro

Rolling Stones Tribute Start Me Up!  O espetáculo conta a história da banda Rolling Stones desde o estilo ‘Beatle’ até o atual grupo, mais amadurecido. O figurino promete ser fiel ao da banda com instrumentos idênticos. A peça tem apenas um dia de exibição, hoje, dia 12 de maio, no teatro Bradesco.

Peter Pan O Musical – Patrocinado pelo Ministério da cultura, o musical infantil traz as histórias do menino que nunca quis crescer. Inspirado na história do escritor escocês J.M Berrie e dirigido pelo italiano Billy Bond, o espetáculo estreia sábado ficando no teatro Brasdesco até o primeiro domingo de junho.

Rosa de Saron – Nesta segunda, dia 15 de maio, a banda de rock cristão apresenta o novo CD “Essencial” que promete ser mais um sucesso nos palcos do Brasil. O grupo é um dos responsáveis pelo crescimento do White Metal no Brasil.

O Rei da Glória – O monólogo narra a história de sete personagens que transitam pelo Rio de Janeiro. O ator Anderson Cunha, que divide a direção com Guilherme Miranda, estrela na curta temporada da peça que estreia amanhã, dia 12 de maio, no Sesc Tijuca. Anderson escreveu o espetáculo, também com inspiração dos autores Matéi Visniec e Valere Novarina. A peça fala sobre intolerância, pobreza, marginalização e o caos contemporâneo que são destacados na fala de um traficante.

(Foto: Rodrigo Castro)

Alices – Estreia na terça-feira no Teatro Leblon, a peça escrita por Jarbas Capusso Filho. O encontro inesperado de duas mulheres desperta suas memórias e relatos de violências sofridas em seus relacionamentos. Com a direção de Leo Gama, as atrizes Mitzi Evelyn e Carolina Stofella debatem sobre a violência e impunidade contra as mulheres no Brasil.

Exposições e eventos

Burger Fest – A 10ª edição do evento chega ao Rio de Janeiro com trinta e dois estabelecimentos trazendo receitas inéditas. O festival ocorre entre os dias 12 a 28 de maio em vários pontos diferentes da cidade como o Botafogo, Humaitá, Largo do Machado e Barra da Tijuca. Em cada localidade, há uma novidade para comemora a uma década do evento. Os hambúrgueres já conhecidos continuam e alguns novos vieram para aumentar a variedade. Para beber, não poderiam faltar cervejas tradicionais típicas desse tipo de evento.

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Tardezinha com roda de samba do Thiaguinho – A roda de samba vai começar às 15h, neste domingo, no Rio Beach Club. Depois de outras temporadas de sucesso, Thiaguinho acompanhado de alguns djs prometem fazer a tarde esquentar. O evento já virou CD e DVD de sucesso e, por isso, volta no seu terceiro ano seguido.

Show do Arnaldo Antunes – Esta noite, o cantor se apresenta no palco do Circo Voador para o lançamento do álbum ‘Ao Vivo em Lisboa’ gravado em terras lusitanas. Na mesma noite, a banda Mombojó lança a turnê ‘Mombojó Lo-Fi‘ que propõe expor a sua discografia já conhecida.

Turnê Jardim PomarNando Reis se apresenta no Metropolitan, no Rio de Janeiro em ocasião da #TurnêJardimPomar. O evento acontecerá no sábado e domingo e os ingressos podem ser comprados pelo site do Tickets for fun.

(Foto: Divulgação)

Molejão no Engenhão – Neste domingo o Engenhão vai vibrar, mas não vai ser com atletas em campo. O grupo Molejão tocará enquanto o público se delicia com o 1º Festival Carioca de Hambúrguer Artesanal. Como vai acontecer no dia das mães, o evento é gratuito para elas acompanhadas com os filhos.

(Foto: Divulgação)