“Acho que fiz muitas mulheres sofrerem, porque minha agenda estava sempre a favor do trabalho”, afirma Rafael Cortez


Workaholic, ele aproveitou sua quarentena para criar o stand-up Antivírus, o Show, a partir das situações cotidianas que o isolamento social trouxe para a vida das pessoas. Mas dessa vez, dedicou espaço também para a vida pessoal. Ele está completando um ano de namoro. “Marcella me fisgou porque tem a principal qualidade que eu admiro em uma mulher: Ela é engraçada. Eu não poderia namorar a moça mais bonita do mundo, se ela não tivesse humor”, jura

* Por Carlos Lima Costa

Em vez de ficar em casa sem produzir diante das limitações que a pandemia trouxe à vida de todos, Rafael Cortez realizador contumaz de conteúdo, criou o stand-up Antivírus, o Show. O espetáculo surgiu a partir das observações que fez das novas situações incorporadas ao cotidiano das pessoas nesta fase de isolamento social. Afinal, a comédia é sempre um caminho para amenizar a tensão e o sofrimento. Tanto que optou por não abordar os pontos mais negativos relacionados ao Covid-19. “Fiquei com medo de ser leviano, um cara insensível em um contexto onde as pessoas estão morrendo. Não posso usar esse tipo de drama no meu show de humor. Então, exclui temas como fome, desemprego, morte, hospitalização, intubação”, pontua ele.

“Eu falo sobre o quanto a gente está fofoqueiro observando a vida dos vizinhos. Por exemplo, moro cercado de outros prédios, então, tenho um Big Brother acontecendo na minha janela. Falo de quem está furando a quarentena, sobre o quanto a gente está irritado de estar com crianças em casa com a dificuldade de ter que ensiná-las, do quanto os nossos avós querem sair para passear. É muito dentro desse caminho”, acrescenta.

Assuntos que vêm da experiência pessoal e com os quais o público se identifica. Rafael não é pai, mas a namorada, Marcella Calhado, é mãe de Pedro, de 8 anos. “Nesse confinamento, nós três passamos um mês juntos no meu sítio, no interior de São Paulo. Então, ajudei a dar aula. E, de cara, conto também coisas de relacionamento afetivo, do quanto as brigas ficam bestas, como que o sexo evolui ou não dentro de um contexto de pandemia”, diverte-se. E cai na gargalhada ao lembrar da questão dos programas sociais desses novos tempos: Supermercado e farmácia.

“Antes, a gente não gostava de ir ao supermercado, agora, é um evento social. Enfim, é um show que me dá muito prazer em fazer. Consegui chegar numa versão final onde de crianças a avós todos podem assistir, não tem nenhum palavrão. Dentro da comédia stand-up isso é quase um milagre. Acho que posso fazer isso, porque sempre tive uma carreira do bem, nunca me meti em polêmica, não apareço gratuitamente. Você nunca me vê além da esfera do trabalho, não fico bêbado, não discuto com o outro na internet”, avalia.

Na quarentena, Rafael criou o espetáculo Antivírus, o Show (Foto: Pri Padre)

Na quarentena, Rafael criou o espetáculo Antivírus, o Show (Foto: Pri Padre)

A próxima apresentação do espetáculo será dia 11, no Villa Open Air, drive-in do estacionamento do Shopping Villa Lobos, em São Paulo. “Quando começou a pandemia, eu não a subestimei. Sabia que seria algo de pelo menos um semestre. E encontrei maneiras de me manter ativo nas coisas que eu já faço. Música e canto, por exemplo, podia tocar violão e cantar nas lives, um formato que a gente costuma ver”, frisa. E ficou se indagando como iria exercitar o seu lado de comediante. “Um show de comédia nasce acima de tudo de testes práticos com presença de plateias, seja num boteco, em um teatro. Aí pensei, ‘ferrou, vou ficar seis meses sem fazer comédia’”, lembra.

Assim, já no segundo domingo de quarentena, começou a realizar lives no Instagram. “Foi bem bizarro, porque é um tipo de formato que não é para a internet. Quando faço uma live para empresa, através do aplicativo Zoom, vejo as caras das pessoas ali e me relaciono com elas. Aí funciona, beleza. Mas nas lives que fiz no Instagram, me baseava nos emoticons de carinhas engraçadas, sorrindo ou nas de soninho, para saber se estavam gostando ou não. Você não pode parar para ler os comentários senão você perde o ritmo da piada. Então, foi bem difícil, mas deu certo. Foram 15 domingos seguidos testando piadas para fazer esse Antivírus”, relata.

Mas, no drive-in, em geral, também não consegue ver a reação das pessoas. “Depende! O melhor drive-in é o de gente simples, que pagou ingresso barato e tem um carro popular, porque consigo ver de cima do palco as pessoas dentro dos carros. Mas no de gente rica, os veículos tem insulfilm, não dá para ver nada, tem que ficar imaginando se as pessoas estão gostando ou não. Então, você tem que confiar no seu taco. Fazer stand-up em drive-in não é para amadores. Não dá para fazer sem experiência”, aponta. E prossegue: “Ao mesmo tempo, esse show é especial, porque ele é de fato o meu primeiro solo 100% stand up, com tema rico, sem me relacionar com a plateia. Então, é texto puro, um grande desafio. Fico feliz de ver que consigo fazer isso”, ressalta.

Este mês, Rafael celebra 44 anos de idade (Foto: Divulgação)

Este mês, Rafael celebra 44 anos de idade (Foto: Divulgação)

Em relação ao Covid-19, o único caso próximo a ele, foi o de sua avó paterna, Regina, de 96 anos, que contraiu a doença, em maio. “Ela passou uma noite na UTI, sendo monitorada e como estava superestável, disseram que ficar lá era mais perigoso para ela e a devolveram pra casa. Foi uma loucura. Mas ela curou. Então, sou um cara abençoado nesse sentido”, ressalta. Foi inspirado nela, que compôs melodia e letra da canção Um Abraço, que fala de saudade, e que foi lançada nas plataformas digitais, interpretada pela cantora Badi Assad. Já em sua redes sociais, Rafael lançou versão diferente, um clipe interativo. “Neste, abrimos com uma cena triste. Minha avó apagando a velinha no aniversário dela agora, dia 4 de abril, quase sozinha, com uma cuidadora e uma filha. Recebi esse vídeo no grupo da família e dele veio a inspiração. Dos sete filhos, seis ainda estão vivos, são 11 netos e 12 bisnetos e a gente não pôde estar com ela nos seus 96 anos. Então, queria mandar um abraço para ela e enviei através da canção”, justifica.

Com a parte profissional mais restrita, Rafael vem tendo mais tempo livre para a vida pessoal. Dia 25 desse mês, ele celebra 44 anos de idade e um ano de namoro com a confeiteira de 31 anos, dona da Glacé Pâtisserie, especialista em doces e bolos para casamentos. Rafael, inclusive, acaba de se tornar sócio investidor da empresa. “Em 2019, eu estava me divertindo muito, finalmente curado de uma grande desilusão amorosa que eu tive em 2018, um relacionamento que durou dois anos e meio. Então, não queria nada com ninguém, me divertindo, bebendo, solto demais, ficando com um monte de mulher, feliz com a adolescência tardia. E comecei a ficar com a Marcella meio que sem grandes expectativas. Mas ela me fisgou, porque tem a principal qualidade que eu admiro em uma mulher. Ela é engraçada. Eu não poderia namorar a mulher mais bonita do mundo, nem a mais gata, a mais gostosa se ela não tivesse humor”, jura.

Rafael já se declarou realizado no profissional, faltando preencher a lacuna da vida pessoal. “Agora, que estou muito bem pessoalmente, estou inquieto em relação a carreira, quero mais dela. E por não ter chegado ainda aonde desejo estar profissionalmente, tenho segurado essa questão de filho. Mas eu e Marcella falamos da possibilidade de ter um filho ano que vem. Agora, tenho uns projetos ligados a carreira. Preciso me dedicar a isso. Não sei como vai ser. Não quero ter um filho para passar a maior parte do tempo fora de casa e ver no final de semana, ser um pai ausente”, analisa Rafael, que mora na Zona Oeste de São Paulo, enquanto a namorada vive, em São Bernardo do Campo. Os dois se encontram mais nos finais de semana.

Rafael é muito discreto com relação a vida pessoal. “Se de fato eu não estiver trabalhando, você não ouve falar de mim. Isso é motivo de muita discussão com assessoria de imprensa, com empresário. Mas acho tão cafona ficar aparecendo a qualquer custo, com essas provocações tipo ‘olha meu namoro, vou mostrar a minha casa, decidi opinar sobre um assunto que ninguém pediu a minha opinião’. Respeito quem faz isso. Eu não condeno, mas não conseguiria viver assim. Não faço da minha vida pessoal o meu cartão de visitas”, frisa.

Um sítio, no interior de São Paulo, é o refúgio de Rafael (Foto: Reprodução)

Um sítio, no interior de São Paulo, é o refúgio de Rafael (Foto: Reprodução Instagram)

No início da quarentena, Marcella era sua única companhia. “O começo foi pesado, fiquei realmente enfiado em casa. Eu cheguei a ficar duas semanas sem por o pé para fora, Marcella ficava comigo nos finais de semana. Esse foi um risco que a gente assumiu. E aí faxinei, passei, lavei. Na terceira semana, fui flexibilizando em umas pequenas coisas. Comecei a caminhar com ela, a gente foi andar em alguns lugares ermos perto da minha casa, em horários alternativos. Dois meses depois, a gente finalmente foi para o sítio”, recorda Rafael.

Ele não surtou em nenhum momento, porque ficou bem ativo. “Sempre tentei canalizar essas minhas tristezas, as minhas angústias, na criação de conteúdos. Eu aproveitei a quarentena não para consumir conteúdo. Não me atualizei com as séries, as leituras, não fiquei vendo novela. Eu produzi conteúdo, escrevi música, escrevi roteiro para a TV, para a internet, show novo. Eu fiz uma coisa muito louca de produzir conteúdo”, assegura Rafael, que foi descoberto pelo público através do CQC, programa do qual ele participou durante seis anos, na Band. Da experiência, guarda muitos aprendizados. “Ainda é o projeto mais legal de que participei na televisão. A gente não tinha o rabo preso com ninguém, não estava vinculado a nenhuma marca…De modo bem objetivo o que o CQC mais me trouxe na carreira que eu levo comigo para qualquer lugar é a espontaneidade”, analisa.

Multifacetado, Rafael já lançou três CDs como músico e cantor, o livro de prosa e poesia Memórias de Zarabatanas, apresentou programas como o Vídeo Show, da Globo, gravou audiolivros de romances de Machado de Assis, dá palestras para empresas, enfim, está sempre com a cabeça fervilhando de ideias, criando conteúdo. Um ritmo intenso de trabalho, que lembra a forma ativa como Miguel Falabella sempre se posicionou na carreira. Você é um cara que dorme pouco, está sempre focado, mesmo se estiver com a namorada, se vem uma ideia na cabeça, para uns 15 minutinhos, faz uma anotação para desenvolver depois? “Ah, total, sou bem assim. E se você me comparar ao Falabella, fico muito lisonjeado, porque o considero um tremendo artista e realizador, inclusive, um cara importante, porque ele fomenta o mercado, ele emprega muita gente através de suas criações. O Falabella e o Fábio Porchat tem uma diferença em relação a mim, por exemplo. Eles imediatamente conseguem fazer o que eles querem, eles tem uma mídia, uma força, que eu não tenho, então, a minha luta na carreira é conseguir ter essa força, porque aí vou poder realizar todas as minhas ideias”, sonha ele. E igual a Falabella, Rafael também dorme pouco e foca muito no trabalho. “Vou chegar agora aos 44 anos sem filhos, eu só fui aprender a dirigir um carro com 38, tive mil relacionamentos inconstantes. Acho que fiz sofrer muitas mulheres, porque eu era um namorado inconstante, que nunca tinha agenda. Ela estava sempre a favor do trabalho. A minha carreira sempre esteve em primeiro lugar”, finaliza.