Investigar as pluralidades e as prisões do ser humano aceitando a condição de vulnerabilidade de ser real e inteiro. Essa é a proposta do espetáculo solo “Auto Eus – A ditadura da Aprovação Social”, que a capixaba Adriana Perin vem apresentando no Teatro Poeira. A repercussão da peça dirigida por Raíssa Venâncio vem sendo a melhor possível. O site HT resolveu mergulhar nessa busca por autoconhecimento em uma deliciosa conversa com Adriana que, dentre outros assuntos, afirma: “Em cena, interpreto uma personagem que foi criada a partir dessa atriz que sou eu. Por isso, no início, foi bem complicado expor detalhes e situações tão pessoais que, até então, eram só minhas”.
Essa entrega e paixão pela verve artística, que podem ser observadas logo nos primeiros minutos de conversa, fizeram, segundo Adriana Perin, parte do seu universo desde a infância. “A vontade e o amor pela atuação nasceram junto comigo, pois ainda bem pequena eu era impulsionada a isso. Lembro que, por volta dos oito anos, eu comecei a fazer algumas peças na escola. Mas, bem antes, eu já brincava de atuar em casa e nas festinhas de família. Nunca consegui parar”, explicou a atriz que, aos 32 anos, já foi premiada e estudou teatro em Londres.
Dessa forma, movida pelo amor às artes, Adriana fez algo que a colocaria, anos mais tardes, no palco de um dos teatros mais tradicionais do Rio. “Estava passando por um momento sensível e de várias rupturas na minha vida. Até que criei um texto muito sincero batizado ‘A Ditadura da Aprovação Social’”, conta sobre o desabafo que deu nome ao subtítulo do espetáculo ‘Auto Eus’. E prossegue: “O transformar de um texto em uma obra cênica é complicado. Quase quatro anos se passaram até tudo ser ajustado da forma devida”. A atriz mergulhou ainda em uma viagem para a Índia, que acidentalmente se tornou um portal para a espiritualidade.
Ainda que tenha se dedicado inteiramente e se esforçado para passar por esse processo da melhor maneira possível, Adriana não escondeu a surpresa com o resultado final. “Por mais que tenhamos um projeto e saibamos o que queremos fazer dele, não é possível antecipar para onde ele vai e o que se tornará. Faz parte da magia do teatro essa incerteza”, confessa a atriz que, inicialmente, não pensava em fazer da peça uma auto-ficção. “Tive uma certa resistência em falar das minhas vivências, porque acabou se tornando uma grande confissão. Sem dúvida é uma situação de vulnerabilidade”, pontua sobre a dramaturgia que aborda, dentre outras temáticas, o fim de um casamento, as ‘culpas’ e barreiras internas que permearam seu processo de ruptura.
Assim, sendo escrito a seis mãos por Adriana, pela diretora Raíssa e pela diretora assistente Paula Vilela, o espetáculo traz a jornada de uma anti-heroína rumo à empatia por si mesma e, por consequência, pelo outro. “Em cada uma dessas buscas é surpreendente o contato com as nossas sombras e fragilidades. Até que algo inesperado acontece: nós as abraçamos e seguimos com elas. E percebemos o quanto a autenticidade pode resultar em conexão”, comenta.
Para Adriana, essa profunda reflexão se tornou ainda mais necessária no atual contexto político e social do Brasil. Ela acompanhou por 15 anos um acampamento do MST, além do projeto social de cinema do qual faz parte, no sertão nordestino e com menores em unidades socioeducativas. “Tem tantas coisas acontecendo em 2019. A cultura do nosso país está cada vez menos amparada pelo governo. Precisamos refletir sobre o que é importante ser falado nesse momento, sabe? Como, nós artistas, podemos amplificar a voz dos nossos discursos? A arte é e sempre será a nossa resposta”. Ainda assim, mesmo que o clima seja de incertezas, ela garantiu que a resposta do público, seja pessoalmente ou pelas redes sociais, tem sido positiva: “Tenho recebido um retorno muito generoso das pessoas que conferem a peça e que conseguiram vivenciar a minha personagem da cabeça aos pés. Esse processo foi muito natural. Acho, inclusive, que se tivéssemos tentado fazer isso, não conseguiríamos com tanta facilidade”.
SERVIÇO
Temporada: até 27 de março – terça e quarta, às 21h
Local: Teatro Poeira – Rua São João Batista 104, Botafogo. Tel.: 2537 8053
Capacidade: 82 lugares. Duração: 80 min. Classificação etária: 16 anos. Gênero: autoficção.
Ingressos: R$ 25 (meia e lista amiga) e R$ 50 (inteira).
Bilheteria: de terça a sábado, das 15h às 19h. Domingo, das 15h às 19h.
Vendas online:www.tudus.com.br
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