*Por Alexei Waichenberg
Ardor, torpor, clamor, pavor
Já não digo amor
Rima do corpo frágil, ágil, hábil, débil, fértil, estéril
Que não seja dócil ou fóssil
A carne clama, inflama, derrama,
no peito ardente, o gozo quente, no lábio frio
A voz exclama, chama, conclama
Suplica o amor doente, presente, ausente
O sonho chega, o ego nega, o olho seca
E a boca mente
Temor, suor
Pior, desejo
O pano cai, o bom se esvai
Ficou o beijo
Cartão sem flor, um novo amor
Então ardor, torpor
Não, já não digo amor
É assim o amor de hoje, sempre com tempo pra acabar, como um ciclo de uma máquina de lavar.
Ele nem sempre acaba limpo como desejável, mas os corações se tornaram menos exigentes e o que, realmente, importa é recomeçar.
Se antes o que trazia estabilidade eram os pactos de construir juntos, agora vale a intensidade e o agito forte.
Não sei onde isso vai parar, mas o vírus deu um susto grande e a maior probabilidade é que alguns valores possam ser revistos, afinal não dá pra trocar de parceir@ cada vez que tivermos que lavar uma roupa suja.
Assim, é melhor que sejamos contaminados pelo estranho desejo de dividir o edredom na quarentena do que, simplesmente, detectar que ele é muito volumoso para a estranha, cibernética e trepidante engenhoca programada para ciclos com hora para acabar.
*Alexei Waichenberg, jornalista em seus ciclos pouco delicados
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